Escolas Municipais de Cabo Frio e Búzios

Neste Café, Pão e Texto, éramos um grupo bem pequeno de Professoras de E.Municipais de Cabo Frio e Búzios. Vieram pelas mãos de Prica Motta e foi um encontro esplêndido. Todas trabalham com Educação Infantil e Creche e ouvi as falas mais emocionantes. Dos acertos, das descobertas, de queixas. De como as crianças bem pequenas nos ensinam com seus olhares poéticos e de assombro. Da importância de ter um quintal. Da importância de escutar e ouvir essas crianças. Falei do tempo mítico da infância, da nossa sensação de abandono eterno e de como precisamos de amor, de sermos abraçados e acolhidos. Ficou acertado entre coordenadoras, professoras e uma diretora que mais encontros assim com poesia para compartilhar o que cada uma faz, são muito necessários.

E.M. Jurandir

Dia de receber escola para o Café, Pão e Texto é assim: acordo bem cedo pra fazer o pão e quando Vanda chega o pão já está quase pronto e completamos a mesa. Ventava muito e o café e o pão foram servidos na varanda e o texto dentro de casa. Roseléa Olímpio trouxe os bons leitores da Sala de Leitura da E.M.Jurandir em Sampaio Correia, que leva meu nome. Fizemos um sarau de poesia. Juntei alguns dos meus livros e abria um ao acaso e um aluno ou aluna lia o poema. Os temas do café eram puxados de cada poema. Falamos um pouco de tudo e foi muito bom. Disse pra eles que onde há palavras e negociação não há guerra. Onde há amor não pode haver violência. Falamos de paz, de construção, de acolhimento. De como algumas palavras são ninho e outras são facas. E fizemos um combinado: Ano que vem a Sala de Leitura fará uma oficina de declamação e Saraus periódicos. E a alegria era tanta que nenhum vento poderia desfazer.

Rede Municipal de Saquarema

Hoje, dia 11/10/22, recebi 28 Professoras e 1 Professor das Salas de Leitura da Rede Municipal de Saquarema, dentro do meu Projeto Café, Pão e Texto. O outro Professor é estagiário na Secretaria de Educação. Elisangela Costa é a Coordenadora das Salas de Leitura e foi pelas suas mãos que as Professoras vieram. A minha fala foi sobre a importância monumental das Salas de Leitura nas Escolas. Não acho que exista nada mais importante numa Escola que a formação de leitores. Como decifrar o mundo sem ser leitor? Como ler um enunciado de um problema sem ser leitor? Quem sabe seja apenas na escola que o aluno tenha livros ao seu alcance? Infelizmente há um clichê terrível de que leitura e coisa de Professor de Português. Um dos escritores que amo, Primo Levi, era químico. Falamos muito hoje. Ouvimos muito uns dos outros. Falamos de problemas e de caminhos. Um depoimento de uma Professora me emocionou demais. Ela me contou que muitos anos atrás, esteve na minha casa, onde, na Roda de Leitura li o conto Mistério em S.Cristóvão, da Clarice Lispector. Ela não conseguiu entender nada nem acompanhar o que era dito. Ela não entrava no conto. Ela ficou muito chateada, leu e releu o conto e começou a ler outros livros, outros contos, romances… então, a partir do acervo acumulativo de literatura que foi fazendo por dentro, um dia ela releu o conto e tudo fez sentido, ela entrou naquele jardim onírico que Clarice criou. E ela disse: a partir da compreensão deste conto, minha vida mudou. Porque ela teve o insight das múltiplas camadas de leitura. Hoje é uma leitora apaixonada. E é isso que acontece com um leitor. Ele não fica na superfície, ele mergulha. Meu amigo e fazedor dos meus E books, Jiddu K. Saldanha esteve presente. Uma imensa alegria percorria a varanda. A alegria de dividir o café e o pão, as dúvidas, os anseios.

Instituto de Educação Clélia Nanci

Hoje, dia 27, recebi uma turma de Ensino Médio de São Gonçalo: Instituto de Educação Clélia Nanci, pelas mãos da Professora Heloisa, que conheci em Itaboraí. Esqueci de fotografar a mesa do Café, Pão e Texto!!!! A Professora me contou que na escola eles possuem o Portal da Conscientização, onde debatem temas como racismo, negritude, inclusão, etc. Fiquei maravilhada. Então, depois de uma hora e meia de viagem, primeiro houve o café. Sinceramente meu pão recheado é imbatível e sobre a mesa muitas delícias. E o texto de hoje era um pouco sobre tudo, já que o Portal da Escola me sinalizou que não era um público qualquer. São alunos e alunas leitores, acostumados a expor seus pontos de vista. Eles já haviam lido alguns livros meus e fizemos algumas dinâmicas com poemas. Falamos sobre empatia, compaixão, manias e desejos. Falamos de Rotas de Fuga. Quando estamos nos sentindo aprisionados, qual seria a rota de fuga de cada um? Um disse música, outro disse desenho, outro disse livros. E eu respondi: – viram, sempre escapamos pela arte! E um professor de matemática disse: – vocês falaram em arte e eu como matemático considero a ciência como arte, a matemática é pura abstração. Perguntei que livros lia e ele disse: – leio filosofia. Só uma aluna trouxe um poema de sua autoria, era lindo e ela o leu emocionada. No final fomos para o jardim e houve um grande maravilhamento com as orquídeas. Eles trouxeram uma toalha para fazer um piquenique em algum lugar, ainda iam escolher. Já era a hora do almoço. Mais de duas horas haviam se passado. E, claro, desceriam até o mar para colocar os pés na areia.

E.M. Professora Zilla Junger da Silva

A E.M. Professora Zilla Junger da Silva, no dia 20/09 às 10h, chegou na minha casa com tantos presentes: crianças maravilhosas que vieram de muito longe, de Duque de Caxias. Quando chegaram, a mesa do Café, Pão e Texto estava pronta, e fomos todos para o jardim. As nossas brincadeiras poéticas aconteceram entre as árvores e as flores. Poemas dos livros Caixinha de Música, Casas, Carona no Jipe e As Linhas que a Vida Borda. As Professoras Marinalva, Reginete e Raquel eram inacreditavelmente divinas. Uma onda de amor envolvia todo mundo como se fosse um casulo. Um aluno autista veio com a sua mamãe Andrea, carinhosíssima. As crianças correram, pularam, brincaram e obedeceram quando era para obedecer. Depois do café, fomos até o mar. Eles sentaram na areia, longe das ondas altas, cataram conchinhas, se sujaram de areia. Então, quando voltamos, a Professora Marinalva fez um relaxamento com eles no jardim e subimos até o estúdio no segundo andar para que eles se despedissem do mar visto do alto. E na despedida fizeram uma grande roda para me abraçar. Fiquei no meio da roda e me abraçaram com delicadeza. Quando o ônibus partiu, parecia que por aqui havia acontecido um milagre. O amor é sempre milagre.

8° CRE, E.M. Bangu e outras…

A beleza de receber Professoras e um Professor, da 8° CRE, da E.M.Bangu e outras, (o Professor e uma Professora eram da 7° CRE) nos arredores, foi ímpar. Porque todos trabalham em Salas de Leitura e os depoimentos me deixaram mergulhada nas águas verde esmeralda da esperança. Uma Professora da Comunidade do Sapo, em Senador Camará, me contou que o trabalho com os alunos é de sensibilização com literatura. Dar a eles voz e palavras, apesar da dureza do cotidiano, dar a eles um lugar de reconhecimento e auto-estima através dos livros. A Sala de Leitura é este oásis. Fazer todo o possível para que sigam estudando e não repitam o destino de tantos jovens sem destino. Me contaram que as Salas de Leitura inventam projetos que envolvem todas as matérias e as famílias. Há uma Roda com Mães. Numa escola, uma vez por semana tudo para num determinado horário para se ler um poema em voz alta. O mesmo poema é lido em todos os lugares, até na cozinha para as merendeiras. Ou os Professores leem, ou um aluno pede para ler. Senti nessas Professoras e no único Professor, uma responsabilidade frente a cada aluno, uma garra, uma paixão sem fim. Os que estiveram aqui, neste 3 de setembro para dividir o pão comigo, tinham histórias belas para contar. Trabalhar dentro de Comunidades onde a polícia entra matando, é um ato de amor tão monumental. Quem esteve comigo aqui hoje sabe que a literatura é instrumento de transformar vidas de verdade. De dar fôlego e alento. O que posso dizer? Que me comoveram até a medula.

IEPIC de Niterói

O encontro do Café, Pão e Texto na casa Amarela, neste 2 de setembro, com os Professores do IEPIC de Niterói, foi uma cachoeira de alegria. O IEPIC ( Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho) tem 187 anos de história! Fundado em 1835, é a mais antiga escola de formação de professores da América Latina. Eles trabalham no Ensino Médio de Formação de Professores, o Normal, e a Escola tem mais de um século. Eram todos Professores e Professoras apaixonados pelo tema Formação de Leitores. Duas professoras formadas em biblioterapia. Uma das Professoras formada em Biblioterapia, está fazendo formação em Psicanálise e nos contou que por ter sido leitora, quando acabou o Ensino Médio, (fez Normal), ela quis mais, justamente por ser leitora. Filha de pai operário, ela é a prova viva do que a literatura é capaz. Os depoimentos foram belíssimos, de chorar. Todos muito preparados, contaram experiências magníficas e muito emocionantes. Propus que este grupo criasse um Clube de Leitura. Uma Professora me disse que o que estava acontecendo, café, pão e texto, a bela mesa compartilhada, (os Professores trouxeram várias maravilhas para enriquecer a mesa) era uma comunhão. E é. Neste tempo sombrio, de cortes severos na Educação, na Merenda Escolar, ser Professor/a comprometido e engajado, é um dos maiores atos de Resistência. Todos sabemos quanto ganha um Professora e quanto ganha um Deputado. Esse meu Café, Pão e Texto me enche de alegria e esperança. Uma salva de palmas para este beĺissimo grupo que esteve comigo hoje.

CIEP 258 – Bacaxá – Saquarema

Hoje recebi o CIEP 258, de Bacaxá, Saquarema, para o Café, Pão e Texto. Fizemos atividades lindíssimas com os/as jovens do Ensino Médio. Bruna Pinto trouxe uma caixa com vários dos meus poemas de vários livros , que foram retirados da caixa por todos e chamei 3 pessoas para a leitura em voz alta. Pedi que comentassem o poema sem certo ou errado, onde foi que o poema tocou. Que falassem sobre as imagens. Depois propus um exercício que era o seguinte: Coloquei uma música instrumental do Chik Corea, as Children Songs, e enquanto lia um poema, eles dançavam. Uma jovem começou e logo outros tomaram coragem. Até o Samuel, nosso fiel escudeiro e jardineiro dançou! Propus um exercício escrito e saíram o s poemas mais maravilhosos. Dei apenas os dois primeiros versos. Fiquei/ficamos todos emocionadíssimos com a beleza e densidade dos poemas. O café da manhã era muito bom. Fiz pão recheado com queijo. Foi pra mesa quente, desmanchando. Finalizamos com todo mundo se abraçando com a leitura do meu poema Desejo de Abraço, do livro Poço dos Desejos. A sensação é a de que algo sublime aconteceu hoje na Casa Amarela de muita poesia.

E. M. Clotilde de Oliveira Rodrigues

Primeiro encontro do Café, Pão e Texto com a E. M. Clotilde de Oliveira Rodrigues, Escola rural de Sampaio Correia, Saquarema. A partir do meu livro Tantos Medos e Outras Coragens, ed.FTD, Medos e Coragens foi o tema principal. Também conversamos sobre manipulação, e como um bom leitor não se deixa manipular. Falamos sobre gravidez indesejada na adolescência, já que são adolescentes. Falamos sobre ódio e amor. Duas alunas leram poemas. O livro Desejo de Árvores e Pássaros foi sorteado. Foi uma conversa corajosa, já que muitos temas hoje são tabus e vejo muitas adolescentes grávidas em Saquarema. Todos estavam vacinados, menos uma aluna que irá se vacinar amanhã. Foi um lindo encontro e desejo muito que eles tenham levado os temas que abordamos para reflexão. Hoje precisamos ser corajosos. O momento exige. E nos posicionarmos. Não se pode fingir que nada está acontecendo. O meu pão recheado saiu maravilhoso. Lilia, filha da Vanda, meu anjo da guarda, fez as coxinhas de galinha, e confesso que desta vez comprei os bolos prontos, bem caseiros, na padaria do mercado da esquina, pois meus bolos são temperamentais, às vezes dão certo e outras vezes não. O dia está chovendo e nem puderam ir ao jardim ou ao mar. Mas para eles, acho que foi algo próximo a uma aventura.

Clube de Leitura da Casa Amarela

Em nossos encontros do Clube de Leitura da Casa Amarela, antes da Pandemia, era oferecido um almoço. Desde cedinho eu fazia o pão e Vanda começava os preparos. Samuel me ajudava a arrumar a varanda, eu alugava mesas que eram cobertas com toalhas de chita que mandei fazer especialmente para os almoços do Clube. Era toda uma azáfama maravilhosa até que todos começassem a chegar. Não faltava vinho e a torta dos aniversariantes do mês e dos meses passados antes do encontro. A sala também era preparada para a ocasião. Éramos muitos. Uma tribo amorosa. Como transpor essa maravilha para o modo distância? Acho que consegui. Fazemos o encontro por zap. A roda de ontem foi aberta com a Canção da América na voz de Ana Cristina e Ronaldo no violão. É assim: Eu abro o encontro às 10h da manhã com uma brevíssima gravação. Depois vou chamando um por um, todos já com as suas gravações prontas, antes colocam uma foto e enquanto ouvimos a voz do leitor falando sobre o livro, comentamos digitando. São muitos leitores. Alguns moram longe, entraram no Clube porque o modo distância permitiu. O encontro vai de 10h até às 14h. Quatro horas sem intervalo! Cada voz com seu timbre, cada leitura trazendo novos pontos de vista. O livro lido foi A Pane, de Dürrenmatt. Recomendo com louvor. Fala de culpa, manipulação. Há um julgamento numa cidadezinha bucólica no interior da Suíça, uma bela casa, um quarteto de senhores viúvos e aposentados, a saber: um Juíz, um Advogado de Defesa, um Promotor, um Carrasco. Um banquete pantagruélico é servido. Um banquete macabro. O convidado, que chega até ali por causa de uma pane no carro, entra num jogo perigoso fazendo o papel de réu. É uma obra-prima. Dürrenmatt é um mestre.