E.M. Jurandir
Dia de receber escola para o Café, Pão e Texto é assim: acordo bem cedo pra fazer o pão e quando Vanda chega o pão já está quase pronto e completamos a mesa. Ventava muito e o café e o pão foram servidos na varanda e o texto dentro de casa. Roseléa Olímpio trouxe os bons leitores da Sala de Leitura da E.M.Jurandir em Sampaio Correia, que leva meu nome. Fizemos um sarau de poesia. Juntei alguns dos meus livros e abria um ao acaso e um aluno ou aluna lia o poema. Os temas do café eram puxados de cada poema. Falamos um pouco de tudo e foi muito bom. Disse pra eles que onde há palavras e negociação não há guerra. Onde há amor não pode haver violência. Falamos de paz, de construção, de acolhimento. De como algumas palavras são ninho e outras são facas. E fizemos um combinado: Ano que vem a Sala de Leitura fará uma oficina de declamação e Saraus periódicos. E a alegria era tanta que nenhum vento poderia desfazer.
Clube de Leitura da Casa Amarela

Hoje, dia 15/10, Dia do Professor/a, foi o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela, para conversaemos sobre o livro Hibisco Roxo da Chimamanda Adichie. Começamos falando, claro, da colonização europeia e da destruição das religiões puramente africanas. O Cristianismo entrou convertendo para salvar as almas e o islamismo também (li o livro Ségou, de Maryse Condé, que conta a conversão forçada). Já a Africa foi dividida como um botim e países foram criados juntando etnias inimigas. Hibisco Roxo, que se passa na Nigéria, fala de uma família católica riquíssima, com um pai (criado pelos missionários) fanático e cruel, para quem tudo é pecado, tudo é demoníaco e o inferno é ameaça constante, é o tirano e torturador de sua mulher e dois filhos. É tão fanático que renega o próprio pai por não querer ser convertido. Sendo muito rico, deixa o pai na miséria por não aceitar se converter. As crianças quase não podem ver o avô, pois é perigoso estar sob o mesmo teto de um pagão. O contraponto é o outro lado da família: a irmã do pai, Professora universitária, também católica, mas de um cristianismo amoroso, ela toda acolhimento e amor. A tessitura do livro é belíssima. A casa da tia pobre e livre, com seus filhos já pensadores críticos, é a saída do inferno para o paraíso, e os primos oprimidos conseguem encontrar a alegria e o riso e a voz. Não vou contar o livro todo, claro, mas dizer que nunca, nesses 12 anos de encontros, nunca a discussão foi tão acalorada e intensa, ninguém conseguindo esperar o outro acabar a sua fala, todos falando ao mesmo tempo, brigando para ser ouvido, tive que tentar algum silêncio para que pudéssemos escutar o outro, tocava até um sininho, mas parecia que estávamos incendiados pelo livro. Uma leitora, Gilcilene Cardoso , disse uma coisa tão linda, que jamais esquecerei: que ficou muito emocionada com as palavras em igbo que aparecem no livro, as comidas em igbo. Gil diz não saber de que lugar seus antepassados vieram e nunca saberá, mas quando ela leu “arroz jollof”, pensou que alguém da sua família, lá longe no tempo, numa aldeia, comia talvez arroz jollof. Chimamanda é uma escritora impressionante. Como temos tantas Professoras no Clube, Hibisco Roxo foi o mais belo presente no dia de hoje.
Rede Municipal de Saquarema
Hoje, dia 11/10/22, recebi 28 Professoras e 1 Professor das Salas de Leitura da Rede Municipal de Saquarema, dentro do meu Projeto Café, Pão e Texto. O outro Professor é estagiário na Secretaria de Educação. Elisangela Costa é a Coordenadora das Salas de Leitura e foi pelas suas mãos que as Professoras vieram. A minha fala foi sobre a importância monumental das Salas de Leitura nas Escolas. Não acho que exista nada mais importante numa Escola que a formação de leitores. Como decifrar o mundo sem ser leitor? Como ler um enunciado de um problema sem ser leitor? Quem sabe seja apenas na escola que o aluno tenha livros ao seu alcance? Infelizmente há um clichê terrível de que leitura e coisa de Professor de Português. Um dos escritores que amo, Primo Levi, era químico. Falamos muito hoje. Ouvimos muito uns dos outros. Falamos de problemas e de caminhos. Um depoimento de uma Professora me emocionou demais. Ela me contou que muitos anos atrás, esteve na minha casa, onde, na Roda de Leitura li o conto Mistério em S.Cristóvão, da Clarice Lispector. Ela não conseguiu entender nada nem acompanhar o que era dito. Ela não entrava no conto. Ela ficou muito chateada, leu e releu o conto e começou a ler outros livros, outros contos, romances… então, a partir do acervo acumulativo de literatura que foi fazendo por dentro, um dia ela releu o conto e tudo fez sentido, ela entrou naquele jardim onírico que Clarice criou. E ela disse: a partir da compreensão deste conto, minha vida mudou. Porque ela teve o insight das múltiplas camadas de leitura. Hoje é uma leitora apaixonada. E é isso que acontece com um leitor. Ele não fica na superfície, ele mergulha. Meu amigo e fazedor dos meus E books, Jiddu K. Saldanha esteve presente. Uma imensa alegria percorria a varanda. A alegria de dividir o café e o pão, as dúvidas, os anseios.
Instituto de Educação Clélia Nanci
Hoje, dia 27, recebi uma turma de Ensino Médio de São Gonçalo: Instituto de Educação Clélia Nanci, pelas mãos da Professora Heloisa, que conheci em Itaboraí. Esqueci de fotografar a mesa do Café, Pão e Texto!!!! A Professora me contou que na escola eles possuem o Portal da Conscientização, onde debatem temas como racismo, negritude, inclusão, etc. Fiquei maravilhada. Então, depois de uma hora e meia de viagem, primeiro houve o café. Sinceramente meu pão recheado é imbatível e sobre a mesa muitas delícias. E o texto de hoje era um pouco sobre tudo, já que o Portal da Escola me sinalizou que não era um público qualquer. São alunos e alunas leitores, acostumados a expor seus pontos de vista. Eles já haviam lido alguns livros meus e fizemos algumas dinâmicas com poemas. Falamos sobre empatia, compaixão, manias e desejos. Falamos de Rotas de Fuga. Quando estamos nos sentindo aprisionados, qual seria a rota de fuga de cada um? Um disse música, outro disse desenho, outro disse livros. E eu respondi: – viram, sempre escapamos pela arte! E um professor de matemática disse: – vocês falaram em arte e eu como matemático considero a ciência como arte, a matemática é pura abstração. Perguntei que livros lia e ele disse: – leio filosofia. Só uma aluna trouxe um poema de sua autoria, era lindo e ela o leu emocionada. No final fomos para o jardim e houve um grande maravilhamento com as orquídeas. Eles trouxeram uma toalha para fazer um piquenique em algum lugar, ainda iam escolher. Já era a hora do almoço. Mais de duas horas haviam se passado. E, claro, desceriam até o mar para colocar os pés na areia.
E.M. Professora Zilla Junger da Silva
A E.M. Professora Zilla Junger da Silva, no dia 20/09 às 10h, chegou na minha casa com tantos presentes: crianças maravilhosas que vieram de muito longe, de Duque de Caxias. Quando chegaram, a mesa do Café, Pão e Texto estava pronta, e fomos todos para o jardim. As nossas brincadeiras poéticas aconteceram entre as árvores e as flores. Poemas dos livros Caixinha de Música, Casas, Carona no Jipe e As Linhas que a Vida Borda. As Professoras Marinalva, Reginete e Raquel eram inacreditavelmente divinas. Uma onda de amor envolvia todo mundo como se fosse um casulo. Um aluno autista veio com a sua mamãe Andrea, carinhosíssima. As crianças correram, pularam, brincaram e obedeceram quando era para obedecer. Depois do café, fomos até o mar. Eles sentaram na areia, longe das ondas altas, cataram conchinhas, se sujaram de areia. Então, quando voltamos, a Professora Marinalva fez um relaxamento com eles no jardim e subimos até o estúdio no segundo andar para que eles se despedissem do mar visto do alto. E na despedida fizeram uma grande roda para me abraçar. Fiquei no meio da roda e me abraçaram com delicadeza. Quando o ônibus partiu, parecia que por aqui havia acontecido um milagre. O amor é sempre milagre.
E-book – Exercício de Poesia com Roseana Murray

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8° CRE, E.M. Bangu e outras…
A beleza de receber Professoras e um Professor, da 8° CRE, da E.M.Bangu e outras, (o Professor e uma Professora eram da 7° CRE) nos arredores, foi ímpar. Porque todos trabalham em Salas de Leitura e os depoimentos me deixaram mergulhada nas águas verde esmeralda da esperança. Uma Professora da Comunidade do Sapo, em Senador Camará, me contou que o trabalho com os alunos é de sensibilização com literatura. Dar a eles voz e palavras, apesar da dureza do cotidiano, dar a eles um lugar de reconhecimento e auto-estima através dos livros. A Sala de Leitura é este oásis. Fazer todo o possível para que sigam estudando e não repitam o destino de tantos jovens sem destino. Me contaram que as Salas de Leitura inventam projetos que envolvem todas as matérias e as famílias. Há uma Roda com Mães. Numa escola, uma vez por semana tudo para num determinado horário para se ler um poema em voz alta. O mesmo poema é lido em todos os lugares, até na cozinha para as merendeiras. Ou os Professores leem, ou um aluno pede para ler. Senti nessas Professoras e no único Professor, uma responsabilidade frente a cada aluno, uma garra, uma paixão sem fim. Os que estiveram aqui, neste 3 de setembro para dividir o pão comigo, tinham histórias belas para contar. Trabalhar dentro de Comunidades onde a polícia entra matando, é um ato de amor tão monumental. Quem esteve comigo aqui hoje sabe que a literatura é instrumento de transformar vidas de verdade. De dar fôlego e alento. O que posso dizer? Que me comoveram até a medula.
IEPIC de Niterói
O encontro do Café, Pão e Texto na casa Amarela, neste 2 de setembro, com os Professores do IEPIC de Niterói, foi uma cachoeira de alegria. O IEPIC ( Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho) tem 187 anos de história! Fundado em 1835, é a mais antiga escola de formação de professores da América Latina. Eles trabalham no Ensino Médio de Formação de Professores, o Normal, e a Escola tem mais de um século. Eram todos Professores e Professoras apaixonados pelo tema Formação de Leitores. Duas professoras formadas em biblioterapia. Uma das Professoras formada em Biblioterapia, está fazendo formação em Psicanálise e nos contou que por ter sido leitora, quando acabou o Ensino Médio, (fez Normal), ela quis mais, justamente por ser leitora. Filha de pai operário, ela é a prova viva do que a literatura é capaz. Os depoimentos foram belíssimos, de chorar. Todos muito preparados, contaram experiências magníficas e muito emocionantes. Propus que este grupo criasse um Clube de Leitura. Uma Professora me disse que o que estava acontecendo, café, pão e texto, a bela mesa compartilhada, (os Professores trouxeram várias maravilhas para enriquecer a mesa) era uma comunhão. E é. Neste tempo sombrio, de cortes severos na Educação, na Merenda Escolar, ser Professor/a comprometido e engajado, é um dos maiores atos de Resistência. Todos sabemos quanto ganha um Professora e quanto ganha um Deputado. Esse meu Café, Pão e Texto me enche de alegria e esperança. Uma salva de palmas para este beĺissimo grupo que esteve comigo hoje.
CIEP 258 – Bacaxá – Saquarema
Hoje recebi o CIEP 258, de Bacaxá, Saquarema, para o Café, Pão e Texto. Fizemos atividades lindíssimas com os/as jovens do Ensino Médio. Bruna Pinto trouxe uma caixa com vários dos meus poemas de vários livros , que foram retirados da caixa por todos e chamei 3 pessoas para a leitura em voz alta. Pedi que comentassem o poema sem certo ou errado, onde foi que o poema tocou. Que falassem sobre as imagens. Depois propus um exercício que era o seguinte: Coloquei uma música instrumental do Chik Corea, as Children Songs, e enquanto lia um poema, eles dançavam. Uma jovem começou e logo outros tomaram coragem. Até o Samuel, nosso fiel escudeiro e jardineiro dançou! Propus um exercício escrito e saíram o s poemas mais maravilhosos. Dei apenas os dois primeiros versos. Fiquei/ficamos todos emocionadíssimos com a beleza e densidade dos poemas. O café da manhã era muito bom. Fiz pão recheado com queijo. Foi pra mesa quente, desmanchando. Finalizamos com todo mundo se abraçando com a leitura do meu poema Desejo de Abraço, do livro Poço dos Desejos. A sensação é a de que algo sublime aconteceu hoje na Casa Amarela de muita poesia.
Clube de Leitura da Casa Amarela

Desde a década de 70, eu me sentava num cepo em cima do fogão de lenha na casa da D.Maria e Seu Elói, na roça, em Visconde de Mauá, para ouvir histórias. Sentado do outro lado da cozinha grande, num banco encostado na janela, Seu Elói picava o fumo de rolo, enrolava lentamente um cigarro de palha e falava sem começo-meio-fim, um rio sinuoso de palavras que ia me levando em suas águas, numa linguagem toda própria daquele lugar na montanha, que viveu isolado por tantos e tantos anos e só a partir dos 70 começou a se abrir. Assim, quando li pela primeira vez Grande Sertão: Veredas, pude entrar, porque já estava acostumada com as narrativas enoveladas do S.Elói, na beira do fogo. Foi de grande ajuda. No encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela, tendo pouco tempo para conversar sobre um dos livros mais impressionantes da nossa literatura, o único jeito era fazer uma festa, uma celebração. E foi assim. Samuel, nosso anjo jardineiro, logo acendeu o fogo do nosso fogão de lenha e arrumou a varanda. As pessoas foram chegando com vinhos, presentes e a alegria dos dias de festa. Juan Arias abriu o encontro com a leitura de um artigo publicado recentemente no El País sobre a força da poesia nos momentos tenebrosos. Cristiano Mota Mendes, o maior dos apaixonados pelo livro que já conheci, foi o leitor guia da discussão, com trechos escolhidos. Cada um apanha para si o que desejar deste livro absurdamente belo. Alguns colocaram o foco nos personagens, outros nas guerras, outros no amor de Riobaldo e Diadorim. Grande Sertão, ao longo dos anos, me ensinou a alegria nos momentos difíceis. É a lição mais maravilhosa. Agora, enquanto atravessamos o Liso do Sussuarão, precisamos manter uma certa alegria para não nos perdemos nos nevoeiros da tristeza. Neste momento temos um Hermógenes no comando. Neste momento o diabo existe no meio do redemoinho. Mas o pacto existiu, será? Houve música. Ronaldo Mota cantou a Canção de Siruiz. Teve um almoço maravilhoso preparado pela Vanda. Fiz pães. Lilliam, a filha da Vanda fez um bolo de aniversário para os que fizeram anos até este dia, nos meses de julho e agosto. Tivemos crianças no encontro. O amor era a luz da casa. Cantamos. O mar cantou. E recomeçaremos a ler Grande Sertão: Veredas outra vez. Uma e outra vez. Porque era uma vez um Riobaldo, um Diadorim…