Senhorita Brill
Ontem, em nossa reunião do Clube de Leitura Amarela, apenas uma pessoa, o César, leu o livro Xogum até o final. Eu já sabia, por isso escolhi um conto maravilhoso da escritora Khaterine Mansfield, e começamos com uma Roda de Leitura. Eu fui a leitora-guia e dei o melhor de mim, pois o conto Senhorita Brill é uma obra-prima , uma joia. A Senhorita Brill todos os domingos vai ao Parque ouvir uma orquestra tocar. Desta vez ela vai com sua estola de pele, imagino que de raposa, e ela dá vida ao bichinho morto e todos disseram que há uma transferência clara, a pele é ela, que vive sozinha num quarto que é como um armário , mas aos domingos no parque vive as vidas dos outros pelos pedaços de conversas que ouve, e ela se sente atriz participando, como disse Maria Clara, do teatro do mundo. Até que… será que eu conto o final? Não vou contar. Deixo vocês, meus leitores buscarem o conto para saber do esplêndido e inesperado final. Depois falamos do Xogum, discutimos o livro numa discussão inédita: Só um o leu inteiro, outros leram 50% , outros um pedacinho e resenhas… Mas a discussão foi ótima, falamos da vida e da morte, dos samurais e dos Senhores e da poesia e dos jardins e do amor entre o Anjin-san e da Mariko. Chico prometeu terminar o livro e Maria Clara também.No final Maria Clara, que deu uma aula sobre esta forma de poesia e Hélio trouxeram haicais belíssimos do Bashô e outros mestres japoneses. Chico e Maria Clara leram haicais de sua autoria. Aline, Vanda e Samuel, nossos caseiros e sua filha, participaram de toda a Roda de Leitura e das discussões. Temos duas pessoas novas, Celmar, minha professora de italiano e Sonia que me trouxe uma mandala lindíssima de presente. Fazia muito frio e sudoeste e tivemos que votar pra saber se comíamos fora ou dentro. A votação foi meio truncada e finalmente comemos fora. Mas a sobremesa foi dentro: uma torta-bolo de aniversário para Aline, Vanda e Chico que fizeram anos recentemente. Angela trouxe vários presentes para todos. Ela sorteou um livro e o Chico ganhou numa concurso meio truncado também. Chico o doou para a outra Angela levar para a biblioteca da E.M Ozíres e eu pedi emprestado pois é sobre os colegas de classe da Anne Frank e fiquei muito interessada. Sonia trouxe uma mousse maravilhosa de abacaxi e Hélio e Fernando trouxeram de presente de Burano dois lindos panos bordados e um queijo parmeggiano para Juan. Foi dia de presentes, César trouxe para o almoço vinho tinto e branco. O próximo encontro será no dia 6 de dezembro às 10hs na minha casa e o livro será A PONTE INVISÍVEL de Julie Orringer.
Pele de Asno
Nosso Café da Manhã Literário com os Professores e Diretores de Saquarema e a presença da Secretária de Educação Ana Paula e a Vice Secretária de Educação Beth, foi caloroso, cheio de discussões, verdades e segredos. O vento na varanda era tão forte e frio que tivemos que nos apertar na sala. Comecei contando o conto Pele de Asno do Perrault para discutirmos sexualidade na escola, como abordar tema tão vasto, íntimo e delicado, urgentíssimo, já que em Saquarema temos meninas de 13 anos engravidando? Propus a literatura sempre como o estopim para a discussão. Todos de olhos fechados, eu contei o conto maravilhoso que fala da passagem da menina para mulher, de como a menina tem que simbolicamente matar a mãe, o desejo incestuoso do pai, a presença de uma terceira pessoa para ajudar, a fada madrinha, todos os sacrifícios pelos quais a menina tem que passar, a busca da identidade (o que existe debaixo da pele) e o final feliz. Algumas professoras sugeriram colocar na sala uma caixa de segredos onde os alunos possam depositar seus segredos e depois a professora lê e se for o caso, encaminha para a Secretaria de Educação ou para o Conselho Tutelar. É uma ótima ideia. Depois discutimos um artigo maravilhoso sobre educação que era o resumo de um Simpósio Internacional realizado pelo jornal O Globo. Todas as professoras saíram daqui com o título de Maestras dos Saberes . Discutiu-se cada item junto com Ana Paula, a Secretária de Educação, que participou como se fosse professora e esteve todo o tempo aberta para ouvir críticas, pedidos, dar sugestões. Falou-se muito sobre Bullying e li o livro Fazer um Bem da Bia Bedran que é belíssimo. Fazer um bem para ocupar o lugar do mal. Fabricar afeto na turma. Quem ama não maltrata, não humilha. Por último li meu conto Margarida, do livro Exercícios de Amor, da Lê Ed., a história de uma avó que conta para a neta um segredo do seu passado (um aborto). Gostaram tanto do conto que espontaneamente bateram palmas! Depois fomos para a mesa do café e insisti muito no quanto a comida gera amor entre os que estão participando. E abraços. Este espaço para que os professores se encontrem, possam conversar com a Secretária de Educação, possam discutir questões difíceis da escola com literatura, é importantíssimo. E para mim são momentos da mais absoluta felicidade.
Encontro do Clube de Leitura na Montanha
Nosso encontro marcado na montanha no último sábado, dia 26 de julho, para discutir os livros Amrik de Ana Miranda e Um bonde chamado Desejo de Tenessee Williams foi envolto em frio, neblina, fogo e emoção. Primeiro chegaram Hélio e Fernando e a lareira já estava montada. Quando chegaram todos, César, Fátima, Chico, Denise, Lenivaldo e Angela (Evelyn, minha irmã, já estava lá.) o clima era de tanto recolhimento, bem-estar, felicidade que a vontade que tínhamos era de parar o tempo. Evelyn destacou a escrita dançada de Amrik e muitos tiveram dificuldade com sua fragmentação, Fátima achou picotada demais. César navegou em suas águas com facilidade. Felipe começou o livro e não gostou e parou. A dança secreta foi avaliada: será que Amina tirou toda a sua roupa? Lenivaldo destacou a beleza do texto, sua poesia imensa e Hélio e Fernando a perfeita reconstrução histórica. Hélio também nos disse que era a história de qualquer imigrante. A dureza das viagens de navio, a chegada num país estranho, a saudade.Evelyn falou da sensualidade das comidas, dos temperos. Todos falamos da avó e da neta dançando no telhado. Fátima e Denise do espaço que a mulher podia ocupar naquela época, espaço tão restrito e da dança como porta para a liberdade. Todos dissemos o quanto Amina era livre. Lenivaldo e Hélio destacaram a beleza do personagem do tio cego que é o guia de Amina. Falou-se sobre o amor do tio, se seria incestuoso ou não. A maioria achou que não. E o enigma: com quem ficaria Amina? Com Abraão, para quem Amina dançou a dança proibida, cujo casamento destruiu ou Chafic, o homem idealizado, o que existe e não existe? Depois da discussão todos concordaram que o livro era belíssimo, acho que até quem não leu, como Angela, mulher de Lenivaldo ou Felipe, que não terminou. Mas Felipe ressaltou que todos já eram leitores preparados para ler um livro fora da zona de conforto, com uma sintaxe diferente. Pausa para o café. A lareira crepitava e uma chuvinha tornava a sala envidraçada ainda mais bela. Então começamos a discutir Um Bonde Chamado Desejo. Felipe nos contou que foi sua primeira prova de teatro, que era seu autor preferido e nos explicou que as indicações supérfluas eram maravilhosas pois apesar de não entrarem em cena, guiavam os sentimentos do diretor. Os dois livros se tocam pois o tema, afinal é o desejo. Já começando pelo título, que na verdade era um bonde concreto que levou Blanche ao encontro da sua última destruição. Desenrolamos o livro como um maravilhoso pergaminho. César nos contou que era o primeiro livro com texto de teatro que lia e que ficou fascinado. Todos comentamos o quanto o final era duro, como era triste, ah, mas antes Felipe quase foi linchado, pois ao estilo Nelson Rodrigues disse que toda mulher gosta de um brutamontes como o Stanley! Discutimos se houve um estupro ou não e relemos o final para afirmar sim, houve, o foi o que acabou de fazer com que Blanche atravessasse o último fio que a separava da loucura. Denise, como psicóloga nos trouxe ótimas confirmações. E deixamos marcado o próximo encontro para o dia 4 de outubro com o livro Xogum e alguns haicais japoneses ou não. Escolhi um livro daqueles, como disse o Fernando, que se atracam com o leitor, grudam em sua pele, imobilizam o leitor em sua trama. E o grande prêmio do nosso encontro : um almoço no Babel Restaurante do meu filho André Murray, maravilha das maravilhas.
Festa de Babette
Como agradecer tantas dádivas que tenho recebido da vida? O Clube de Leitura da Casa Amarela é uma das minhas maiores alegrias, é um grande presente e somos já uma linda família, nosso traço em comum: amamos ler. Maria Clara, Leila, Gil, Felipe, Pamela, Cristiano, Ana, César, Flora, Hector, Helio, Fernando, Juan, Chico, Adelaide, Isabela, será que esqueci de alguém? E ontem falamos tanto de anjos, eles percorrem os contos da Karen Blixen de lá para cá, agradeço ao Samuel e Vanda, nossos anjos. O dia ontem, o do nosso encontro, estava lindo e quente. Vanda nossa caseira, já cedinho às voltas com o bobó que inventei de abóbora com salmão. Ficou maravilhoso, simplesmente. De sobremesa compramos uma torta de coco para festejar o recente casamento de Ana Cristina e Cristiano. A sala estava cheia e optamos por discutir conto por conto do livro Anedotas do Destino da Karen Blixen. Todos ressaltaram a beleza da escrita, a beleza da urdidura dos textos e a estranheza das histórias. Felipe lembrou que ela nasceu na mesma terra de Andersen e que portanto, apesar da diferença no tempo, o estilo dos dois tinha um parentesco. É o “maravilhoso” em estado puro. Falamos sobre a grande espiritualidade dos contos, a ausência de moral no final das histórias , a busca pessoal de cada personagem. Pamela, namorada do Felipe que veio pela primeira vez, falou que os contos bebiam diretamente na fonte do inconsciente e tinham um parentesco a posteriori com o surrealismo, com Dali. César falou sobre a perfeição do conto da História Imortal, o conto do Mister Clay é uma ode à literatura. Fazer com que a ficção virasse realidade para depois tornar-se ficção outra vez..Foi maravilhoso termos lido A Tempestade do Shakespeare para poder ler depois A Tempestade da Karen Blixen. Nos deu um grande alicerce, pois o conto da Blixen é inspirado na peça. E o conto do anel retoma o conto de fadas do lobo mau…Conto totalmente Junguiano.Hélio, Fernando, Chico, leram trechos especialmente poéticos. Pulamos o conto da Festa de Babette, pois depois do almoço passamos o filme. Saímos do filme emudecidos, transtornadoss, Leila cheia de lágrimas, todos nós alucinados com a beleza do filme, a fidelidade da adaptação. Cada um de nós agradeceu estarmos juntos, dividirmos juntos tanta felicidade e beleza.. Nos abraçamos com emoção verdadeira. O próximo encontro será dia 26 de julho em Visconde de Mauá e os livros serão: Amrik de Ana Miranda e Um bonde Chamado Desejo de Tenesse Williams.
Alguém para correr comigo
Nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela, ontem, dia 22-02-14, foi cheio de alegria e surpresas maravilhosas. Recebemos gente nova. Jurema e Caroline, professoras, vieram de São Paulo! Viajaram a noite inteira para estar aqui. Fiquei muito emocionada. Vieram também, pela primeira vez, José Prado, editor, Miriam,que também foi minha editora e duas alunas da Estação das Letras. Temos assim, um grupo bem heterogêneo bem variado: Contadores, advogados, um vereador, professores, uma agente de viagens, uma ex diretora de escola, um arquiteto e escultor. Talvez seja esta diversidade o que torna o grupo tão interessante. As primeiras a falar sobre o livro Alguém para Correr Comigo, do israelense David Grossman, foram Maria Clara e Leila . Maria Clara disse que de todos os livros lidos no nosso Clube, esse tinha sido o que ela mais gostou. Leila falou que se viu adolescente, com todas as indagações, questões existenciais, oscilações de auto-estima próprias desta época. E acrescentou que achava que todos sentiram o mesmo. Hector leu algumas frases do livro em hebraico para que todos pudessem ouvir a sonoridade da língua original. Maria Clara ressaltou o tempo da narrativa, super interessante, os personagens estão sempre em tempos desencontrados e seus tempos só se encaixam no final. Várias pessoas leram trechos belíssimos do livro e falaram que é um livro policial, é um livro de amor ,e principalmente de amizade. Amizade da irmã pelo irmão, o que leva a personagem Tamar a viver situações limite, colocando várias vezes sua vida em risco. A cadela Dinka que leva Assaf a conhecer lugares e pessoas estranhas foi para muitos, a personagem principal. Uma trama toda picotada, um verdadeiro quebra cabeça onde pouco a pouco as peças vão se encaixando. Falamos da gruta para onde Tamar leva o irmão como lugar de renascimento. Falamos da capacidade maravilhosa de Tamar para ouvir.Da sua capacidade de ser para cada pessoa o que a pessoa precisava que ela fosse. Todos falaram do ritmo vertiginoso do livro . Todos falaram do começo do livro, confuso e difícil. Felipe falou que o livro é cheio de silêncios. Caroline disse que esperava um final mais mágico, menos real, eu discordei e disse que achava que o final era perfeito. Felipe disse que concordava com ela. E que eu tinha o péssimo hábito de maltratar as pessoas que vinham pela primeira vez. Ele disse que com personagens tão bizarros e situações inusitadas ele também queria um final mágico. Juan disse que a vida sempre supera a ficção e que a história de cada um é sempre extraordinária. Hélio falou que ficou surpreso de que Jerusalém, a mítica cidade , tivesse este submundo apresentado no livro. Juan lembrou que cada cidade tem várias camadas, várias cidades na mesma cidade. César disse que Tamar lhe parecia um espírito muito iluminado. Todos nos apaixonamos pela Freira Theodora. Enfim, todos amaram o livro. Nossas discussões são feitas com o coração. Ângela trouxe para o Samuel, nosso jardineiro e ouvinte assíduo das discussões, de presente de aniversário, já que era seu aniversário, uma camiseta preta com o desenho da casa amarela com o título do clube. A camiseta era tão linda que todos morremos de inveja! E o almoço foi servido no fogão de lenha, tudo preparado pela Vanda e sua filha Aline: Salada verde, maionese de batata, arroz de forno e abóbora com carne seca. Pães com azeite. Flora trouxe dois pães integrais magníficos Eu fiz um pão branco com a mão esquerda somente. Tudo regado a espumante, vento do mar e alegria. Brindamos ao Samuel, que cuida do nosso jardim desde 2002 e prepara a casa para receber o Clube. Com uma torta maravilhosa cantamos parabéns para ele e nosso próximo encontro será dia 12 de abril com os livros A Tempestade de Shakespeare e Anedotas do Destino da Karen Blixen.
As brasas no Clube de Leitura da Casa Amarela
Com a falta,abonada por todos, da nossa querida Roseana , por motivo dos mais felizes – o nascimento de sua neta Gabriela, de seu filho André com Dani Keiko – realizamos sábado passado nossa reunião literária sobre o livro As Brasas do húngaro SándorMárai.. (Benvinda, Gabriela! Saúde!). Hélio e Fernando, membros honorários do grupo, compareceram para o debate, seguido de delicioso almoço, entre antigos e novatos do Clube flutuante: Juan Arias, escritor e esposo de Roseana, os professores Felipe, Adelaide e Maria Clara, o poeta-vereador Chico Peres, seu irmão César e Fátima Alves, Hecto e Flora , Gil , a reaparecida Leila e os estreantes Jonas ,Pollyana e Lenivaldo Ausências mais lembradas: as Ângelas. Incumbida,como leitora veterana, de subsistir Roseana na condução da reunião, dei o chute inicial de que o livro tratava da formação de uma longa amizade – entre Henrik e Konrad – desde a infância, intermediada pela formação na maturidade de um triângulo amoroso entre dois amigos e a mulher , que uma vez rompido, pela fuga sem explicação de Konrad teria causado consequências irreversíveis na vida dos três: o general Henrik esperaria por 41 anos e alguns dias a volta de seu amigo para apurar uma verdade. A minha hipótese de que a história nos apresentaria um triângulo amoroso na relação entre os principais personagens gerou imediatamente acalorada divergência de opiniões em relação a este ponto:se teria ou não havido um vetor homossexual entre os amigos no triângulo que viveram.Leila disse não ter imaginado isso nenhuma vez sequer na leitura do livro, que nada havia de concreto, nem de sugestivo em relação a isso. Fernando ponderou que se o próprio Konrad teria apresentado Kriztina ao amigo Henrik, vindo depois a torná-la sua amante isso era sim indício de uma posse indireta do corpo do amigo; Jonas declarou que no começo achou “que eles iriam se pegar”; Felipe fez uma colocação pessoal de que já vivera amizade de um tipo assim bem estreita, de complementariedade, também seguida de afastamento e tinha sido mal-interpretada, sem nada de sexual ter havido, perguntou se as pessoas do grupo vivenciaram algo assim; muitos concordaram que viveram situações sentimentais algo confusas. Chico, César e Felipe leram à propósito trechos do livro que falam da presença de Eros nas amizades, na leitura quando jovem e releitura da teoria de amor de Platão da personagem do general em sua busca de compreender a amizade; mencionei os ensaios de Montaigne sobre a amizade como uma relação onde somos narcisos do outro – do amigo que possuímos; Juan, conduzindo-nos para um debate propriamente mais literário do livro, lembrou trechos de grande qualidade poética como os da descrição sensível, feita pelo general, da caçada, em que Konrad apontando um cervo por detrás de Henrik teria a oportunidade de matá-lo se quisesse, fingir que sua morte teria sido fruto de um acidente para ficar com sua mulher; e ainda descrição da arrumação detalhada da sala de jantar com”as velas azuis que queimariam até o fim”, na noite em que os dois amigos aos 75 anos afinal tiveram a conversa definitiva depois de 41 anos e dias sem se verem;Juan mencionou, inclusive, que o título da tradução portuguesa para este livro era mais fiel ao original –” Velas que queimam até o fim” , ao que eu observei que As brasas também respeitava o clima do livro de fogo vivo até o fim; Hector aproveitou a deixa para malhar as traduções em português, que algumas em inglês eram melhores, que ler no original, sim, claro que sim – ponderei que mesmo ruins é melhor haver traduções que não, e que se hoje temos traduções melhores de um Dostoiévski,por exemplo, é porque algumas gerações de tradutores se aventuraram antes, dando-nos a ler autores de línguas pouco conhecidas de nós ; Hélio e Fernando que foram os únicos a trazer poesias húngaras para a roda, reclamaram também – não sabiam se eram tristes os poemas ou as traduções; (Continuo pensando: sem tradutores, como fazer esta e outras rodas de leitura?) Em relação à apresentação das personagens, muitos se confessaram irritados com o tamanho da fala do general Henrik em relação às poucas informações que o Capitão Konrad deu sobre si e seus atos entre o dia de sua fuga (ele nega sempre ter fugido)e sua volta. Em relação ao primeiro, Gil resumiu a ópera: ” Fiquei estressada com o homem que não parava de falar , nem deixava o outro responder às perguntas que fazia. Mas depois pensei que ele estava entalado há 41 anos e tal. Então, o melhor é falar. Fala, meu filho”; Alguns consideram que a enorme fala do general feita para o seu antigo amigo sobre o que teria se passado no dia da caçada que foi o mesmo da fuga seria uma espécie de se mostrar afinal vitorioso, de mostrar que ele já sabia de tudo , que não fora enganado. Felipe considerou que o autor forçara um pouco a barra, pois que um personagem militar, não acostumado a pensar sentimentalidades se mostrava filosófico demais naquela conversa. Eu objetei que, no caso, não estávamos diante de um personagem caricato, um militar obtuso, mas de um ser humano que trabalhara durante décadas as suas memórias, diversificando suas reflexões. Lembrei à propósito o livro Memórias, sonhos e reflexões de Carl Jung, livro de cabeceira de Fernanda Montenegro que sua filha tentou várias vezes ler quando moça, só conseguindo quando envelheceu, como disse a sua mãe. A jovem Pollyana observou que o vômito verbal do general tinha a ver com os diversos silêncios que perpassam a relação entre todos os personagens, desde os principais. Foram sendo lembrados, entre outros, os silêncios de Henrik – que nunca mais falou com a mulher por oito anos, até ela morrer, depois que descobre que sua mulher era amante do amigo –Konrad, que pouco ou nada conta de sua casa ao amigo, Kriztina, que escreve num diário coisas que não consegue dizer ao marido; aos secundários: Nini, a ama de 91 que
Catedral do Mar
Ontem foi o encontro do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela. Cedinho fiz os pães e junto com a Vanda , uma comidinha ótima: arroz com bacalhau e purê de abóbora com leite de coco e coentro. De sobremesa trouxe doces de Minas, Hélio e Fernando trouxeram cuscuz e Flora e Hector trouxeram um bolo cuja receita Flora experimentava pela primeira vez. Hector disse que seríamos cobaias, assim como os reis tinham alguém que experimentava a comida antes para se saber se estava envenenada. A discussão do livro A Catedral do Mar de Ildefonso Falcones foi calorosa. Fernando começou citando o livro do meu marido Juan Arias, 50 Motivos para Amar o Nosso Tempo, para comentar que perto da Idade Média vivemos no melhor dos mundos. E todos falaram das crueldades terríveis que eram moeda comum e que hoje são impossíveis em quase todos os lugares, eu disse quase. Todos citaram as partes mais tristes, mais impressionantes. Maria Clara falou do personagem principal como um super herói, mas apesar das improbabilidades dos encontros que o livro apresenta, a trama é muito bem montada e você não respira até o final.Cristiano falou da complexidade do personagem Juan, irmão adotivo de Arnau. Falamos do amor das mães do livro. César achou que Mar era a personagem mais fraca, menos bem construída.Maria Clara achou que o encontro final entre os dois ficou muito ambíguo. Falamos da inquisição e principalmente do poder. Ronaldo sublinhou que para ele a questão principal do livro era esta. Gil falou que as coisas não mudaram tanto. Os pobres continuam sendo sempre os grandes injustiçados. Falamos dos judeus, das injustiças sofridas. Todos concordaram que o livro era uma aula de história, Maria Clara frisou o quanto aprendemos sobre Barcelona e a Idade Média e como o livro está bem fundamentado. Ela trouxe um livro sobre o Gótico e mostrou as fotos da Catedral do Mar. Juan trouxe várias críticas que saíram no El País, seu jornal, críticas que acabaram com o livro, dizendo que é um quase plágio do livro Os Pilares da Terra e é catalanista. Eu acho que sim, o autor se inspirou nos Pilares da Terra, de Ken Fowlet e não sei se isso é um crime, a Idade Média está aí em mil livros de história e cada autor faz o que quiser com este material riquíssimo. A trama é diferente, os personagens são diferentes.Não acho que o livro seja catalanista, ele simplesmente conta a história de Barcelona. Chico achou o livro grande demais, ele poderia ter menos umas 150 páginas, ele disse, mas Maria Clara discordou, é aventura até o final. Discutimos qual das mulheres seria o grande amor da vida do Arnau e as opiniões foram divergentes. Gil falou que no livro, os personagens de alguma maneira davam a volta por cima e conseguiam sobreviver e naquele tempo isso já era muito. César disse que Arnau era um homem bom, mas a sua vingança não combinava com a sua bondade. Mas achamos muito justa a sua vingança por tudo o que sofreu. Angela, que trabalha na Sala de Leitura da escola Ozires, ganhou um aplauso pela homenagem que vai receber por seu trabalho, homenagem mais do que merecida.A Angela que veio do Rio falou da crueldade contra os judeus e trouxe livros da StellaMaris Rezende que foram sorteados durante o almoço. O poeta escolhido era Lorca e Juan leu esplendidamente La Casada Infiel em espanhol. Ronaldo trouxe o violão e cantou sua versão musical do Verde que te quero Verde.Gil, Hélio, Fernando leram belos poemas e Chico fez um poema sobre o Mar brincando com a personagem. Minha editora Carolina, da Rovelle, veio e sua doçura pairava pela sala. Eu falei da saudade imensa que sinto dos encontros aqui em casa com as escolas, do nosso lindo Café da Manhã Literário. Maria Clara, Cristiano e Ronaldo , que se encontraram na Rodoviária do Rio para vir para Saquarema, de tanto conversar, perderam o ônibus que havia mudado de plataforma e tiveram que vir de táxi para chegar a tempo. Na mesa do almoço éramos uma grande família unida pelos livros. E tomara que este Clube siga por muitos e muitos anos. O nosso próximo encontro será no dia 16 de novembro e leremos As Brasas do Sandor Maarai, que já li duas vezes e lerei pela terceira. Não conheço a poesia húngara e vamos trazer trazer algum poema húngaro. Ronaldo vai pesquisar e trazer alguma música para violão. E o encontro será no sítio de um dos participantes. A todos os que estiveram aqui comigo meu mais profundo agradecimento.
Volta para casa e Clube de Leitura
Depois de vinte dias na minha casinha da montanha voltei ontem à tarde para casa. Lá não tenho internet e foram dias magníficos de mergulho num outro mundo. Nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela desta vez aconteceu na montanha. Muitos aproveitaram para passar alguns dias de férias com a família em Visconde de Mauá. A nossa reunião começou na varanda do Babel Restaurante do meu filho André Murray, com sua vista magnífica. Discutimos o livro A Mocinha do Mercado Central de Stella Maris Rezende,ed. Globo. O que seduziu a todos foi o jogo com os nomes. A cada novo nome acrescentado uma nova personagem nascia e todos ressaltaram o jogo de espelhos, o teatro. A estrutura do romance, nos levava a discutir o texto como um quebra cabeça. Movíamos as peças no tabuleiro .O que era sonho, o que era realidade ou ficção , impossível dizer. Ressaltamos o “aparato” imagina-mágico . A partir destas duas palavras tudo se torna possível. O pai da mocinha foi posto no banco dos réus e absolvido. O romance , de busca do pai, do amor, de novas identidades para encontrar a sua própria identidade ia sempre se desdobrando, se abrindo em encontros mágicos e desencontros: o desencontro da Valentina com a vida. O romance traz para o leitor temas fortes e violentos , estupro, suicídio, a morte de uma criança. Mas com extrema delicadeza vai desatando nomes e nós. Para todos os leitores do Clube, a autora deixou o final em aberto. Assim cada um podia escrever o seu final, escolher um caminho. Todos sublinharam o encontro da mocinha com a poesia , pura magia. Depois brincamos com o significado de nossos próprios nomes e eu ganhei meu nome escrito num grão de arroz, presente de Gil e Maria Clara. Num segundo momento ouvimos histórias das 1001 Noites e poemas do Leminsky. E então fomos para a minha casinha onde comemos um cozido magnífico preparado pelo meu filho André.Fazia frio, a amizade e o prazer do texto discutido nos aquecia. Tivemos novos leitores em nosso encontro: Fátima, César, Denise e algumas jovens e lindas meninas. Maria Clara e Gil plantaram bromélias na mata que envolve a casa. E uma alegria imensa jorrava de dentro de mim.
O Físico
Chegaram cedo ao nosso encontro, Mariana, que viajou toda a noite de São Paulo para Saquarema e Cristiano e Ana que vieram de Teresópolis.Agradeço especialmente a presença generosa destes leitores que vieram de longe. Não veio Ângela do Rio, mas mandou uma linda carta falando do impacto que a leitura do livro O Físico, do Noah Gordon provocou em sua vida. E a sala foi se enchendo aos poucos e ficou lotada. A discussão do livro, riquíssimo em todos os sentidos, foi quente e maravilhosa. Angela, professora do Osíris, fez um dos depoimentos mais emocionantes que já presenciei, de como este livro foi um grande estímulo para a transformação do seu olhar, de como agora ela sabe que não pode desistir da sua biblioteca, do seu projeto de leitura na E.M.Osíris aqui em Saquarema. Sou testemunha do seu belíssimo trabalho. Maria Clara, como sempre, nos traz com a sua leitura afiadíssima, novos ângulos do livro. Cristiano nos falou dos personagens como arquétipos. Ressaltamos todos como o autor soube amarrar todos os pontos, dar muito bem os seus nós de marinheiro urdidor do texto, nada fica ao acaso, embora não seja histórico, o livro está muito bem fundamentado. Juan nos falou da presença árabe na Andaluzia, da superioridade da cultura árabe sobre os europeus e todos destacaram as diferenças entre a Europa escura, tenebrosa, atrasada, e a Pérsia luminosa, limpa, refinada, requintada. Foram destacadas as belas histórias de amizade que permeiam o livro e muitos leitores se envolveram a tal ponto que acordavam de madrugada para continuar a leitura do livro! Gil nos falou que foi possuída pelo livro com uma tal força que agora sim, sabe que é uma leitora. Hélio e Fernando sublinharam a beleza da cultura árabe, do convívio do judaísmo com o ilsamismo, o que também foi reforçado por Héctor fazendo um contraponto com a situação hoje no Oriente Médio. Felipe ressaltou a beleza do crescimento do livro quando é discutido em conjunto e Ana quer criar um Clube de Leitura em Teresópolis. No final lemos os poemas árabes medievais, cada um mais lindo do que o outro, Aline queria se esmerar na pronúncia do seu poeta escolhido e Juan trouxe um poema belíssimo que leu em espanhol. A surpresa: Mariana, bem escondida dentro da casa (quando os poemas começaram a ser lidos ela sumiu) irrompeu na sala vestida como odalisca e dançou magnificamente, dançarina formada que é em dança do ventre. Ficaram todos de boca aberta e corações na palma da mão. Foi insuperável! O almoço foi esplêndido: salada de grão de bico, arroz com lentilha coberto com uma camada de cebolas fritas no azeite e quibe de forno. Fiz um pão integral, um com queijo e outro de milho e as sobremesas foram um capítulo maravilhoso: Vanda fez um pavê incrível, parecia uma espuma, Gil trouxe um doce de chocolate crocante indescritível e Hélio e Fernando trouxeram cuscus. Vinho tinto para aumentar a alegria e a temperatura amena, o dia tão azul, tudo à nossa volta era cenário. E o próximo encontro será no dia 27 de julho na minha casinha em Visconde de Mauá. Para minha surpresa todos amaram a idéia e já irão reservar uma Pousada no Vale do Pavão. Para chegar na minha casinha basta seguir as setas do Babel Restaurante, é lá. Vamos ler A Mocinha do Mercado Central, da Stella Maris Rezende, ed. Globo e poemas do Leminski. Além disso cada um levará um conto das Mil e Uma Noites para prorrogar um pouco este clima oriental que nos encantou.
Surpresa no Clube de Leitura
Ontem nosso encontro do Clube de Leitura foi cheio de surpresas. Recebemos muitos hóspedes novos para discutir Morte e Vida Severina do João Cabral e Sagarana do Guimarães Rosa. Às 10 horas a mesa da varanda já estava pronta, 3 mesas juntas, onde se sentariam 24 pessoas. A temperatura estava amena, o dia lindo. E começaram a chegar os convidados. Hélio e Fernando, Edith Lacerda, pela primeira vez no Clube e Maria Clara. Chegaram as duas Ângelas. Isabela e Adelaide, mãe e filha, primeira vez no Clube. Chico Perez, nosso vereador poeta, Felipe e sua amiga-quase-namorada Gisele, Gil de cabelo afro, Aline, (a filha do Samuel, aniversariante ontem, nosso jardineiro e Vanda, nossa caseira), entrou para o Clube e estava linda e eufórica, era a sua primeira experiência do gênero. Chegaram Flora e Héctor. Começamos sem o Professor Ivo que chegou logo depois com Rejane e Carmen Regina. Leila me telefonou do Rio, inconsolável: quando foi estacionar seu carro na Rodoviária do Rio, o vidro explodiu e não podia deixar o carro estacionado sem vidro, então não veio. Começamos com uma leitura em voz alta do maravilhoso trecho do livro que o Chico Buarque musicou e então destacamos os trechos que mais impactaram cada um. Gil falou da sua avó retirante. Maria Clara e Edith falaram da beleza dos ofertórios, os presentes da terra que era oferecido ao recém-nascido. Juan falou da beleza do que é feito com as mãos. Falamos da morte nômade e do final esplêndido em que a vida vence a morte. Falamos do título: não é Vida e Morte, mas sim Morte e Vida. Falamos do nome Severino usado como adjetivo.Fernando falou da vida “severa” que vem de Severino. Aline falou que era uma grande lição: quando se pensa que tudo está perdido vem a vida e nos oferece outra vida. Já íamos começar a discutir os contos do Sagarana quando chegou a grande surpresa que guardei no fundo da boca, não contei para ninguém. Felipe começava a ler o conto Fita Verde no Cabelo quando chegaram Ana Cristina, Cristiano Mota e Ronaldo Mota. Os dois foram do grupo Hombu. Eles são um duo que canta Guimarães Rosa e trouxeram o violão. Aí pronto, foi uma aula de Guimarães Rosa recheada de canções. Impossível escrever tudo o que falamos e ouvimos. Foi uma cachoeira de Guimarães, um grande mergulho. Ana Cristina trabalha no SESC Teresópolis e também é cantora. Eles foram trazidos pelas mãos do Carlos Dimuro que não veio, mas nos deu este presente ao saber que discutiríamos Sagarana. Messias, nosso amigo mais do que amado, foi o grande ausente. Mas o vento maravilhoso que soprava ontem, foi um pedido especial do Messias. Ele, como a Menina de Lá do Guimarães, faz muitos milagres. Quando passamos para a mesa, já estávamos mais do que alimentados, mas a Vanda fez uma comidinha bem da roça no fogão de lenha onde era servida: um arroz maluquinho com muitas surpresas dentro, feijão mulatinho com paio e linguiça e farofa de couve e ovo. Na mesa pães feitos por mim, azeite, vinho, salada de trigo sarraceno. De sobremesa a torta de aniversário do Samuel., pudemos cantar o parabéns com Ronaldo Mota no violão.Flora e Hélio trouxeram pudim. Nosso próximo encontro será dia 27 de abril e o livro: O Físico, do Noah Gordon . Pedi que todos tragam poemas árabes da Idade Média.