Encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela

Chovia e o sudoeste varria a varanda. Então seria mesmo impossível servirmos o almoço na varanda. Mas e será que as pessoas viriam mesmo com esse tempo, para conversarmos sobre o livro Paz e Terra, do Yehuda Amichai? E como discutiríamos seus poemas? Fiz um pão bem cedo, busquei verduras e legumes na feirinha da esquina e pensei que o jeito era todo mundo ficar mesmo dentro de casa, se viessem. E vieram. Só Cristiano Mota Mendes e sua Ana não puderam estar presente. Até nossa leitora Paula Gomes veio de Brasília para estar no Clube. Para começar combinamos que cada um escolheria um poema para ler em voz alta e diria o que o poema fez com suas entranhas. E foi um encontro muito especial, diferente de todos: um poema e outro e outro e a emoção de cada um aflorando, deslizando pela sala, palpável como se fosse um ser vivo. Amichai fala do que precisamos falar : Amor, todo tipo de amor, de pais pelos filhos, dos filhos pelos pais, de homens e mulheres, amor pelo outro. Fala de guerra e de paz, de memória e finitude. Fala do que somos, demasiadamente humanos. A sua poesia nos faz melhores. Vanda fez um almoço divino. Cada um com seu prato no colo, numa comunhão de todos os sentidos. Fernando e Hélio trouxeram o bolo dos aniversariantes e vinhos. César trouxe vinhos e Gil também. Bruna, que teve um filho faz um mês apenas, trouxe as suas lágrimas, quando leu um poema que fala do pai que leva o filho até o ônibus que o levará para a guerra. Delma falou do avô que morreu e que lendo o poema Esquecer alguém Esquecer alguém é como esquecer de apagar a luz do quintal e deixá-la acesa também de dia: mas isso é também lembrar pela luz. ela entendeu que o avô ainda estava ali, em seu quintal e era luz e sempre será.

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Choveu tanto ontem, no dia 18, e algumas pessoas escreveram de manhã dizendo que não poderiam vir. Mas afinal a sala estava cheia e novos habitantes chegaram. Paula Gomes veio especialmente de Brasília e Delma Marcelo Dos Santos trouxe uma amiga, Maristela. Temos agora algumas professoras e duas psicanalistas, além de advogados, contadores, um médico, um ator e músico, um cineasta, um jornalista, etc. O livro Sapiens abre um leque imenso de discussões sobre nosso percurso, nosso poder de criação e destruição. Discutimos o livro a partir do que cada um de nós sentiu, o que significou como revisão de valores e tomada de consciência. E sim, a conversa foi maravilhosa . Falamos muito de todos os temas e questões que o livro levanta. E afinal, há saída para nosso impasse? Achamos que há. A saída existe. Se nós, humanos seremos capazes de salvar nossas vidas é outra conversa. E de criarmos sistemas menos injustos. Mas o final do encontro foi luminoso. Todos achamos que construir no pequeno é a nossa salvação. Cada um no seu mundo, vai abrindo espaços . Criar consciência é o caminho. E tivemos histórias de vida muito emocionantes. E a poesia belíssima do Mia Couto foi a chave de ouro para fechar nosso encontro antes de passarmos para a varanda onde Fernando e Helio quiseram nos presentear com um banquete. Eram tantos pratos maravilhosos que eles trouxeram, que não sabíamos por onde começar! E os vinhos e o bolo dos aniversariantes, tudo isso ganhamos de presente. O próximo encontro será no dia 20 de julho no frio de Visconde de Mauá. O livro é Paz e Terra de Yehuda Amichai.

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Éramos poucos. Muita gente faltou ao encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela, cada um com seu motivo. É muito raro que todos possam vir. Como sempre as pessoas chegam e trazem um carregamento de alegria para esse reencontro. Bem cedo fiz um pão de tomate. Juan comprou as folhas e legumes na feirinha da esquina. Vanda preparou um almoço divino. Era o aniversário do Samuel. Um escondidinho de aipim vegetariano e outro com a carne de sol que ganhei em Itapetinga, da Ivanilde Teixeira, no sertão da Bahia. O livro Ethan Frome, nosso convidado, não é um livro fácil. É doloroso, é triste. Fala sobre o mal e esse tema hoje tem mesmo que ser discutido. Para falar sobre o mal e seu requinte, na figura de uma mulher, Edith Warthon escolheu uma paisagem gelada e deserta. Tudo é aprisionante. Sobre uma estrutura magnífica o mistério do romance vai se desvendando aos olhos do forasteiro narrador e diante dos nossos olhos. Aos poucos os retalhos vão se costurando Um livro feito de silêncios. De impossibilidades. O amor não foi suficiente para vencer as convenções religiosas e sociais. Antes de tudo é uma escrita maravilhosa e o final, um golpe de mestre. Sophia de Mello lavou a nossa alma com a sua poesia que é de uma beleza imensa. Uma grande voz. O almoço do Clube de Leitura da Casa Amarela é um capítulo a parte! Momento de acolhimento, comida incrível, abraços. Em todos os encontros temos a torta dos aniversariantes. Chegaram dois novos habitantes: Marina e Áurea, estão morando aqui e espero, vieram para ficar. E o Clube está sempre em movimento. O próximo encontro será no dia 18 de maio e o livro será o Sapiens, do Yuval Harari. Pedi um poema do Mia Couto. Adoro os seus poemas.

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O encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela é sempre uma festa. Uns chegam, outros somem, alguns voltam, mas o Clube resiste desde 2010 e é sempre maravilhoso estarmos juntos em volta de um ou dois livros. Os livros indicados eram De Repente nas Profundezas do Bosque, de Amós Oz e Momo, de Michael Ende. Os dois livros se entrelaçam. Intolerância, exclusão, medo, culpa, na belíssima fábula do Amós Oz, tema mais do que urgente. Em Momo, toda a questão da escuta e do tempo. Os dois livros são atualíssimos. Nos dois são as crianças que podem nos resgatar. Os livros foram amados por todos, lidos, relidos, sublinhados e são tesouros que jamais nos abandonarão. Além dos temas, a escrita das duas fábulas, cada autor com seu estilo, são puro deleite. Uma fábula tem o dom de ser atemporal. Se “de repente nas profundezas do bosque” trabalha completamente no simbólico, nessa aldeia de onde todos os animais foram embora, e os personagens são, cada um, preciosos, em “Momo”, tudo se passa na cidade e o que são os homens cinzentos, o que representam, fica por conta de cada leitor. Pedi que cada um trouxesse um poema sobre o tempo, de qualquer poeta. Trouxeram Cecília, Fernando Pessoa, Neruda, Drummond, Rubem Alves e até Roseana Murray. E o almoço que a Vanda Oliveira preparou no fogão de lenha era pura poesia! E os vinhos, a torta dos aniversariantes, a champagne, a música do mar, tudo era amor e dádiva. A todos os que aqui estiveram e vieram de perto e de longe, agradeço tanto! Aos que não puderam vir o meu desejo imenso de que possam estar aqui no dia 8 de dezembro com O Livro dos Abraços, do Eduardo Galeano e um poema do Juan Gelman. Em tempos incertos, só a amizade e a literatura, o aconchego dos abraços pode nos consolar.

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O encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela, que uma vez por ano acontece na casinha branca do bosque, em Visconde de Mauá, trouxe Diderot para a nossa sala, com todo o seu humor, ironia, irreverência. Que o romance Jaques, o Fataliste e seu Amo, com mais de 200 anos, traga um selo de atualidade, como se tivesse sido escrito hoje, foi o espanto que todos trouxeram para o grupo. Diderot faz um romance que vai sendo anunciado enquanto é construído. O narrador chama o leitor para dentro dessa viagem que sai de um lugar qualquer e vai para outro lugar qualquer enquanto vamos ouvindo mil e uma histórias maravilhosas com muitos narradores. Diderot desafia a nobreza, a Igreja e todas as regras. E gostaríamos de ter Jacques eternamente ao nosso lado, em suas aventuras, ouvindo a história dos seus amores. Liberdade, o poema do Paul Éluard, foi sendo lido em voz alta, estrofe por estrofe, nesse encontro onde falamos de servidão, tirania e liberdade. É um dos poemas mais belos que conheço. E ganhamos de presente um cassoulet, a feijoada francesa, do Chef Andre Murray, de comer rezando e a torta dos aniversariantes da Chef Daniela Keiko Takahagui Murray. E vinhos maravilhosos trazidos pelo grupo. Muito bom para preparar o clima de final da Copa do Mundo amanhã. E o próximo encontro será no dia 15 de setembro em Saquarema e vamos ler ou reler os livros De Repente nas Profundezas do Bosque, do Amós Oz e Momo de Michael Ende. Cada leitor trará um poema do poeta de sua escolha sobre o Tempo.

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A luz do Sertão de Olho D’Água, do romance Outros Cantos, de Maria Valéria Rezende inundou a sala do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela. Foram muitas viagens e muitos tempos em nossa viagem. Assim como a personagem Maria, dentro de um ônibus, aos solavancos, volta ao passado numa longa noite atravessada de memórias, cada um de nós se viu enredado nos fios coloridos dessa imensa rede de afetos e acolhimentos, quando Maria, ao ser despejada em seu exílio, na verdade nos leva com seu corpo miúdo a vivenciar a experiência mais bela de amor. Ela, que chega de outros exílios para ensinar, terá que aprender o que não se ensina em nenhuma escola. O livro nos trouxe muitas questões: o excesso de nossa sociedade de consumo, onde o objeto vale mais que a pessoa e o sentimento de infelicidade que isso traz. O contraste com a dureza da vida dessa comunidade onde nada havia, onde a água era o maior tesouro, mas o amor e a aceitação do outro era a verdadeira água. A escassez dá lições de amor. Falamos de como o livro trabalha fortemente com todos os nossos cinco sentidos e sentimentos. Ao abrir a sua caixinha mágica do tesouro, Maria nos faz abrir a nossa e desata a nossa memória, cada um de nós já passou por desertos e exílios. O livro é feito de cenas belíssimas, prontas para um filme. Máximo, nosso leitor cineasta chamou a atenção para a escuridão do ônibus, a sua penumbra. Ao voltar ao passado com a personagem, ao voltar quarenta anos para trás, a luz quase nos cega. Cesar Alves nos contou que cada segundo livre que tinha, corria para o livro. Todos nos apaixonamos por Fátima, a grande mulher do romance. Todos falamos da fé que era a chama da sobrevivência dessa comunidade privada de tudo. E ao entrelaçar o livro de Cineas Santos, Dona Purcina, com o Outros Cantos, a nossa emoção foi verdadeiramente intensa. Dona Purcina nos leva também ao Sertão, mas de uma outra maneira. Marcia Borges nos diz: Maria veio de fora, mas D.Purcina já estava lá dentro. Cinéas nos conta a história dessa menina que se transforma numa mulher extraordinária, que não tinha como estudar, (como os habitantes de Olho D’Água), mas fez o impossível para que seus filhos estudassem. A dureza de sua vida no Sertão e na pequena cidade para onde leva os filhos, vai sendo contada em textos curtos, cheios de poesia e humor, até que ao se olhar no espelho um dia e não mais se reconhecer, sabemos que o livro existe porque Cinéas também precisava construir a sua caixa do tesouro para guardar Dona Purcina. Os dois livros nos emocionaram imensamente. Tivemos muitas pessoas ausentes por motivos diversos e novos leitores chegaram para dividirmos o pão e o vinho em torno de um livro, num ritual magnífico que começou em 2010 e se repete de dois em dois meses. Em julho nosso encontro será em Visconde de Mauá e vamos ler Jacques, o fatalista e seu amo, do Diderot e o poema Liberdade de Paul Éluard.

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Ontem aconteceram vários milagres. O tempo amanheceu belíssimo, quando na véspera havia chovido torrencialmente. A temperatura era de paraíso. Acordei bem cedo para fazer os pães. O segundo milagre é o que se repete a cada encontro desde 2010: As pessoas chegam com sua alegria, para essa comunhão entre literatura e amizade, regada a pão e vinho, comida maravilhosa, fogão de lenha aceso e música do mar. Confesso que sempre me espanto de que o Clube de Leitura continue existindo e que novas pessoas continuem chegando. Ontem veio pela primeira vez Marcia Borges uma leitora incrível. Edith Lacerda veio também. Quando ganhei o livro A Assinatura de Todas as Coisas de Elizabeth Gilbert, não dei um tostão por ele. Autora de best seller, escreveu Comer, Rezar e Amar, que virou filme. Deve ter ganho rios de dinheiro, mas o livro segue uma receita fácil e não aconselharia a sua leitura em nosso Clube. A assinatura de Todas as Coisas ficou em cima da bancada onde vivem os livros ao alcance da mão e um dia eu disse: ganhei tão gentilmente de presente da Flora, vou ler. E a minha surpresa foi imensa e não parei de me espantar até a última linha. Entramos no século XIX, no prólogo, com o nascimento de Alma em 1800. E todas as questões do século estão postas com uma trama extraordinária, uma linguagem fluida, um trabalho de pesquisa de botânica impressionante. É raro encontrar personagens tão densos e interessantes, que conservam sua coerência durante todo o livro. Que a literatura opere esse milagre a cada livro é a maior dádiva da existência: somos transportados no tempo, nesse livro viajamos duzentos anos num abrir e fechar de olhos, entramos no corpo e no psiquismo de outras pessoas, sentimos o que sentem, numa gama imensa de emoções… Todos os leitores amaram o livro. E nosso poeta escolhido foi Cruz e Souza. Gilcilene Cardoso, nossa maranhense, negra belíssima, foi a primeira a contar a sua história mas antes fez um depoimento impressionante. Disse: as cadeias estão cheias de negros, porque não puderam estudar. Olhem Cruz e Souza, filho de escravos alforriados, estudou e que poeta magnífico! Sua poesia é pura música. Música triste. Nosso almoço é sempre uma festa. Festejamos os aniversariantes Samuel, nosso jardineiro, Fernando e Ângela, que não pode vir. Já no fim da tarde chegou Rafael Santana de surpresa e deu para quem ainda estava aqui uma aula fantástica de Mário Sá Carneiro. Nosso próximo encontro será dia 5 de maio. Os livros serão Outros Cantos de Maria Valéria Rezende e Dona Purcina, A Matriarca dos Loucos, de Cineas Santos. O poeta, Carlos Nejar.

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A Quinta da Harmonia fica entre o sonho e o delírio. É um dos lugares mais belos que conheço, na zona rural de Saquarema e foi lá o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. O livro era Terra sem Mapa, do uruguaio Ángel Rama. Éramos muitos. Juan Arias começou falando da sua infância na Galícia, no fim da Guerra Civil, nos contou que aquelas memórias do livro poderiam ser as suas. Mas o livro acordou em quase todos alguma terra sem mapa, as nossas próprias memórias. Trouxemos relatos da nossa infância. Concordamos que o livro está dividido em cenas, como pinturas e não capítulos. Concordamos que sua escrita consegue com sua beleza um esgarçamento das nossas emoções. Mas nem todos concordaram. Máximo, cineasta italiano, achou a sua linguagem artificial. Felipe Lacerda achou o livro sentimental demais. O livro é narrado sob o ponto de vista de uma menina pequena e muitas vezes me trouxe Miguilim. Depois só Juan e Maria Clara falaram um poema do Antonio Machado. Porque já era tarde, porque o tempo começou a nos atropelar. Tínhamos fome. Havia um clima tão festivo no Clube, uma espécie de festa de Natal e de fim de ano, com tanta alegria, que parecia que poderíamos voar. Brindamos ao Clube: literatura, vinhos, amizade. Aos anfitriões Hélio e Fernando que nos receberam da maneira mais linda. Depois do almoço tivemos sorteio de livros e fomos ficando até o fim da tarde na Quinta da Harmonia, que não parece de verdade, parece um filme, ou as páginas de um livro maravilhoso. Vida longa ao nosso Clube. O próximo encontro será no dia 24 de fevereiro. O livro: Os Tambores de São Luís, Josué Montello e o poeta Cruz e Souza.

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Hoje o encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela foi uma grande celebração. De muitas coisas. Do Prêmio Comunique-se que o Juan Arias ganhou. De termos Marijose Sanchez de Arias, nossa sobrinha de Granada e sua amiga Loli Ortiz Lirola na casa. De celebrarmos Antonia, ainda na barriga da mãe Carol, mulher do Felipe Lacerda, que é leitor do Clube desde o seu começo. Celebramos também o aniversário da Vanda Oliveira, meu anjo da guarda, do Chico Peres e da Adelaide Vidal. Discutir o Livro dos Homens de Ronaldo Correia de Brito não é tarefa nada fácil. Começamos pelo primeiro conto mas logo, feito uma enxurrada, os contos iam se atropelando como a água nas pedras e era impossivel conter cada conto em suas margens. Cada conto tem a sua crueldade e beleza. A morte é personagem constante. Atravessam os contos do primeiro ao último. Os contos são cinema, puro Glauber Rocha, diz Máximo, cineasta italiano. E aproveita para comparar o Sertão com a Sicília, com seus códigos de honra. Cristiano Mota Mendes nos fala da diferença do sertão de Ronaldo e de Guimarães Rosa. O sertão de Ronaldo é seco, nos remete a Graciliano. Cesar Alves nos traz semelhanças entre personagens de sua aldeia natal com alguns personagens. Bruna aponta a questão feminina. Maria Clara fez uma pesquisa exaustiva sobre o nome de cada personagem, nomes que já trazem em seu bojo muitos significados. Uma descoberta maravilhosa. E fomos, pulando de conto em conto sem saber qual o mais impressionante, cada pessoa com o seu preferido. É um livro magistral. E a discussão em grupo foi alargando, ampliando os significados. Como se junto com a Carol, fossemos engravidando também. Cada conto com a sua extrema beleza, às vezes uma beleza terrível. Ronaldo é um arquiteto. Nada é ao acaso. Recomendo este livro com fervor. E não é um.livro fácil. Juan nos diz que as grandes obras se inspiram no local , na aldeia. Parte do pequeno para o Universal. Não por acaso cultura significa cultivar a terra. E de repente a surpresa que Ângela preparou para comemorar os sete anos do Clube: Cada pessoa leu um poema de minha autoria. Até minha tia Alice se levantou e leu. Fiquei absurdamente emocionada. Não podia acreditar, pois eu havia indicado Ana Cristina César, mas sem eu saber, fui a poeta escolhida. O almoço foi magnífico. Eu havia pedido que todos trouxessem fraldas para Antonia. E realmente fizemos uma montanha de pacotes de fraldas. Nosso próximo encontro será dia 2 de dezembro. O livro é Terra sem Mapa de Ángel Rama. O poeta é Antonio Machado. Casamento perfeito.

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Uma vez por ano o nosso Clube de Leitura da Casa Amarela funciona na casinha branca na montanha. É uma maneira de dividir esse espaço dentro da mata, esse espaço mágico, com amigos, que como eu, amam livros e árvores. Muitos habitantes do Clube não puderam vir, mas recebemos a visita maravilhosa de três baianos. Max, Sara e Fabiane. Vieram de Salvador e Tucano, no Sertão, fizeram essa imensa viagem só para estar aqui. Max e Sara fazem Doutorado sobre leitura e nosso Clube está dentro de suas pesquisas. Karine, que tem um sítio por aqui, veio e tavez leve essa experiência para o Curso de Pedagogia da Faculdade Celso Lisboa, onde é uma das Diretoras. Conversar sobre Cem Anos de Solidão, é tarefa imensa. Por onde se começa? Cem Anos mistura os relatos bíblicos e as 1001 Noites, e o maravilhoso está presente em cada página.E pouco a pouco somos contaminados. Não com a peste da insônia, mas com a peste da beleza. Cem Anos começa e termina com um incesto. Seguimos a trilha dos acontecimentos mais marcantes. Os personagens mais incríveis, as cenas mais inesquecíveis, as que nos assombram por seu extremo grau de beleza. Cem Anos funda seus alicerces na poesia e quando se entra em Macondo se ganha a chave para quase decifrar o tempo e a condição humana. Falamos da circularidade do tempo, de fim e recomeço, de como os mortos de Macondo nos trazem nossos próprios mortos. Macondo, em seu começo, quando Úrsula Iguarán ainda não encontrou a saída e nem trouxe os forasteiros, é a nossa infância, nosso paraíso perdido, onde as coisas ainda não tinham nome. Falamos de Melquíades e seu conhecimento maravilhoso que de certa maneira também funda Macondo. Falamos dos amores desvairados e da extrema beleza da linguagem que nos leva ao céu com Remédios. A beleza feita de palavras que se transformam em cheiros e sons, em imagens tão belas como nunca houve, em pura poesia. Falamos das guerras. Do desatino das guerras , do seu não sentido: a própria materialização da loucura humana. Falamos da nossa pobre América Latina- Macondo em seus estertores. Construção, destruição, reconstrução, vidamortevida, Gabo apaga essas fronteiras. Dois irmãos, César e Chico, trouxeram episódios de sua infância no interior que poderiam estar em Macondo. Cada um entrou em Macondo do seu jeito. E quando a última palavra do pergaminho é decifrada, queremos voltar ao começo e viver tudo outra vez. Agradeço a todos que vieram por todos os meios: ônibus, carro, avião, a pé, de tapete voador: Jose Augusto Messias, Maximiano Martins de Meireles, Fabiane, Sara, Hélio, Fernando, Cesar Alves, Fatima Chico Peres, Denise, Kátia, Salvador Almeida, Karine, Gilcilene Cardosoe seu marido, Evelyn Kligerman. Agradeço ao meu filho Andre Murray que fez a feijoada no Babel Restaurante e a torta sacher dos aniversariantes. Os ausentes estiveram presentes. Cristiano Mota Mendes e Ana e Suzana Vargas que quase vieram. Cristiano com sua Macondo-Maioba. E William Amorim com quem tambem discuti o livro e que gostaria de ter estado aqui, certamente.