UMEI Áurea Trindade Pimentel de Menezes
Elas entraram trazendo a Eunice, uma boneca maravilhosa, que trabalha na UMEI Áurea Trindade Pimentel de Menezes, contando histórias para as crianças. Isolina Miranda me contou que a Eunice foi diretamente inspirada na minha Eunice, minha segunda mãe, que chegou na minha casa quando eu tinha três meses e só foi embora quando se aposentou, com meus filhos criados. A UMEI fica em Itaipu, tem horário integral e a Diretora Débora me conta, que apesar das dificuldades a escola tenta oferecer toda a felicidade possível. E pelo que ela e a Sub Diretora Rose Pena me contaram e as professoras confirmaram, a escola consegue. Foi uma tarde maravilhosa e me contaram os passeios e os projetos e fiquei sabendo que o poema que os pequenininhos mais amam é o Desejo de Abraço, do meu livro Poço dos Desejos, pois adoram abraçar e ser abraçados. Café com leite, pães e bolos e ouvi uma professora falando para outra o quanto era maravilhoso esse encontro fora da escola e num lugar tão belo. Ficaram emocionadas porque eu mesma faço o pão e sirvo, mas se não fosse assim qual seria a graça? Nana, que é super reservada, não gosta muito de gente, adorou o grupo e a Eunice e passou todo o nosso encontro sentada no meu colo. E Babel, que adora gente, não apareceu! Vai entender os gatos!
E.M. Prof Dilza da Silva Sá Rêgo
Quase que a escola não veio. E eu teria perdido uma das experiências emocionais mais impactantes da minha vida. Na sexta-feira, a Professora Lenilsa me ligou dizendo que afinal não tinham conseguido o ônibus, será que eu não poderia adiar o encontro? Disse que não, infelizmente, tenho muitas escolas querendo uma vaga. Ela se desculpou e desligamos. Logo me liga outra vez e diz que a escola viria sim, alugariam um ônibus. Eu não fazia a menor ideia de nada. Nem de que escola se tratava. Sabia apenas que era de Jaconé, mas já no Município de Maricá. Não mais Saquarema. Acordei às 5 horas da manhã para começar a preparar tudo. Tomei café com os gatos, fiz o pão. Gosto que o pão ainda esteja quente na hora do café. Às 9.10h um ônibus todo branco, antigo, ultrapassado, meio 1950, encostou no outro lado da rua. As crianças se arrumaram para uma foto com o mar ao fundo. Fui até lá, ao seu encontro. Depois da foto viemos juntos para a casa. Já vieram me abraçando, me beijando. Eu fiquei no portão e dizia, podem entrar, sentem nos bancos e no tapete. Recebi a Diretora, as professoras. Eram 30 crianças. Nunca sei como vou começar. Mas então começamos pelo momento pipi. Pedi ao Samuel que acompanhasse as crianças até a casinha de hóspedes do jardim, pois lá há um banheiro enorme, há um espelho enorme, além do passeio pelo jardim. É uma alegria. Na volta, realmente tomo contato com aquelas crianças. Duas meninas lindas são apresentadas. São gêmeas. Fazem aniversário hoje: Raissa e Raiane. Essas crianças são diferentes. Me contam os seus projetos. Amam ler. Fazem perguntas incríveis. Sabem coisas da minha vida. Possuem vocabulário, são donas das palavras. São da quarta e da quinta série de uma escola rural: E.M.Prof Dilza da Silva Sá Rêgo Então falamos de bichos. Eles sabem muito dos bichos. Trouxeram um painel de pano pintado com meu poema A Morte do Sabiá, do livro Fardo de Carinho. Falamos de gaiolas, prisões, caçadas. Eles querem que eu fale como fiz esse poema, o que senti. Falam de animais em extinção. Me contam que na lagoa há jacarés. Jacarés ou crocodilos? Um menino diz: Jacaré, crocodilos são da Austrália. Falam com propriedade, lindeza, sabedoria. Fazemos um intervalo para o café. Foi a mais linda dinâmica, algo tão amoroso, uma troca incrível entre as professoras e a Diretora e as crianças. Parecia uma dança, tudo fluia, flutuava, eles comiam como se come nuvens. Comiam com delícia e delicadeza. Trouxeram biscoitos que prepararam na cozinha da escola junto com as merendeiras. Me dizem a receita tintim por tintim. Trouxeram um doce de maçã. Havia uma criança especial, sorridente, integrada e uma mediadora só para ela. Comemos e bebemos absolutamente tudo o que havia sobre a mesa: sanduíches, pão caseiro, biscoitos, tomate ralado, manteiga, mel, bolos, leite com chocolate, suco de goiaba, café. Não sobrou nenhuma migalha. Era uma festa no céu. Um disse, esse pão é maravilhoso, vamos fazer na escola? Voltamos para os lugares. Então fizemos brincadeiras com meus poemas. Cada vez que eu precisava de silêncio eu pedia para eles ouvirem o mar. Falamos de paz e guerra, eles sabiam da Síria. Leram em voz alta . Sabem ler perfeitamente, com sentimento. Leram meu poema do Classificados Poéticos, o do Habitante de outra galáxia. Eles sabiam o que é uma galáxia. Uma teia de amor une essas crianças. Mas qual é o segredo? A Diretora me conta que é uma escola de horário integral. Entram cedinho e saem às 17h, jantam na escola. Ela me diz que tem tudo na escola. Biblioteca. Tem fantasias, ela me diz, tem espelho. Tem investimento na escola e isso é visível, os resultados são muito impressionantes. Crianças lendo fluentemente, com um vocabulário incrível, entendendo o texto perfeitamente, amorosas, sem nenhum clima de violência entre elas. Trouxeram os poemas mais lindos que escreveram, inspirados nos meus. Se uma escola pode funcionar assim e conseguir resultados assim, por que todas as escolas do país não podem ser assim? Por que os governos não escolhem educar assim como prioridade, como escolha de mudar o mundo? Quero agradecer a Diretora Raquel e as professoras que acompanharam essas crianças lindas: Lenilsa, Ana Rita, Jociene, Jacira, Cláudia. Hoje fiquei abalada com o que vivi. Ainda estou abalada. Ficarei abalada para sempre.
Café, pão e texto
Devo dizer que hoje recebi as 29 professoras (e um professor) mais incríveis do mundo. Vieram de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense e todo mundo sabe que lá não é o Leblon. Muita garra, muito desejo de fazer a diferença, de salvar a vida tão precária dos seus alunos e alunas. Fiquei maravilhada com todos os relatos. Já começou pela chegada: abraços, muita emoção e duas orquídeas lindas e um vaso de girassol. Hoje a minha casa está cheia de flores. Foram duas horas imensas e intensas! Sugeri que elas almoçassem no Girassol, que tem um preço especial para as professoras que recebo e fica na frente do mar. Aceitaram a sugestão. Eu não conseguia telefonar, então pedi pro Samuel, nosso jardineiro, ir até lá de bicicleta avisar. Tudo certo, mas uma meia hora depois toca a campainha e vou atender. Um rapaz me diz que é o cozinheiro do restaurante e precisava saber quantas pessoas queriam carne e quantas pessoas queriam peixe. A maioria queria peixe. Acho que é a primeira vez que um cozinheiro vai na casa do cliente anotar o pedido! Do encontro de hoje, 29 professoras e um professor, nasceu o desejo de criarem um grupo para troca de experiências. Fiquei maravilhada com a consciência de todos de que precisam fazer o melhor para salvar aquelas crianças. Algumas chegam ao quarto ano sem saber ler direito! Mas foram muitas sugestões e a coragem de tentar conseguir recuperá-las. A mesa do café, com a ajuda do meu anjo da guarda Vanda de Oliveira, estava linda. Tudo aconteceu em torno das questões que elas foram levantando. E depois fotos no jardim, autógrafos e outros abraços na partida.
Escola Oga Mitá
O encontro com a turma de professores hoje, da Escola Oga Mitá, foi de vastas emoções. Porque são minhas leitoras e apaixonadas por tudo o que escrevo. Como me disse Ana Ribeiro, eu faço parte da estrutura da escola. Ficamos quase quatro horas reunidas(os) na varanda, (só havia um professor e um motorista, mulheres na educação sempre maioria) primeiro na mesa de café que preparei com amor mesmo, depois numa conversa maravilhosa. Contei o meu percurso desde o começo. Falamos um pouco de tudo. Contei a feitura de vários livros, falei da relação do autor com o ilustrador, com a editora, falamos de livros e educação Oga Mitá é uma escola privilegiada. De dentro dela sairão seres humanos sensíveis e leitores. Uma professora me perguntou se me considero uma educadora. Acho que todos somos de alguma maneira educadores e deseducadores. Foi uma manhã radiante, de pura alegria. E dia 20 de setembro estarei no Oga Mitá.
Escola Municipalizada Onze de Junho
Hoje nosso encontro do Café, Pão e Texto com os professores foi diferente. A Escola Municipalizada Onze de Junho, de Itaboraí, esse ano faz um projeto com os alunos sobre Democracia e queriam ouvir o Juan Arias e seu olhar estrangeiro. Foi um encontro riquíssimo. Juan trouxe a sua vasta experiência de jornalismo: quarenta anos na Itália e no Vaticano como correspondente, alguns anos no franquismo na Espanha, escrevendo com um censor ao lado, seus anos na Rai, televisão italiana e dezenove anos de jornalismo no Brasil. Juan que viveu a Guerra Civil quando criança, que passou anos muito difíceis de pós guerra, fome e ditadura, com tantos anos dedicados ao jornalismo, colocou com muita propriedade, em pauta, as fragilidades da nossa democracia, ( indo primeiro até a Grecia, até a etmologia da palavra) e as nossas esperanças. Foram muitas perguntas. Alguns relatos. Muitos abraços. Um belo café da manhã. Hoje fui ouvinte.
E.M. Honorina de Carvalho
Recebi hoje a E.M. Honorina de Carvalho, que fica em Pendotiba, Niterói. Chegaram tarde, pois vieram num ônibus escolar comum, que tinha que atender muitos alunos antes. Brincamos com poemas, eu acho que é a melhor maneira de aproximá-los da poesia. Eram da sexta e sétima séries e um menino me disse, na hora de ir embora: – Tia, deixa eu morar com a senhora. Eu perguntei: – Mas e teu pai e tua mãe? Ele respondeu: – Não faz mal, tia, eu prefiro ficar aqui. Outro me disse que era uma honra estar com uma escritora famosa. E uma menina disse que jamais se esqueceria do que viveu hoje. Entre as brincadeiras poéticas eu pedi que me dessem ditados populares. Eles sabiam muitos, eu desconhecia quase todos. Para o meu Poço dos Desejos pedi desejos e o que mais me comoveu foi o desejo deles de que o tráfico acabasse. Desejam um mundo sem policiais e sem traficantes. Muitos querem ser engenheiros, trabalhar com informática, querem ser médicos… Tomara que consigam vencer tantas dificuldades. Pelo menos passamos juntos uma linda manhã de poesia com a Professora Marisa e Professora Vanessa.
Café, pão e texto
As escolas de Saquarema agora possuem um conceito: cada escola é uma “Escola que lê”. Dentro dessa frase mínima vive um universo. Não é necessário fazer mil e um malabarismos. Mas que todos na escola estejam envolvidos nesse grande desafio: o aluno leitor. Nosso Café, Pão e Texto hoje recebeu 25 professores de Salas de Leitura. Conversamos muito e fizemos a leitura compartilhada do conto Mistério em São Cristóvão da Clarice Lispector, que já sei de cor e salteado. Foi maravilhoso. Fiquei surpresa com tantas leituras lindas. E a felicidade no rosto de cada uma (apenas um professor!) ao final da nossa discussão: muitas nunca haviam vivenciado um momento assim. Discutimos muitas coisas. Família, amor, infância, adolescência, a genealogia das mulheres… E agora é verdade: as professoras de Saquarema estão de volta!!!
Escolas Municipais Amil Tanos e Zelia de Souza Aguiar
Eram 12 professoras e uma contadora de histórias, a Emilly. Vieram de Macaé, das Escolas Municipais Amil Tanos e Zelia de Souza Aguiar. Chegaram e Janete recitou meu poema ” Quero asas de borboleta azul” bem no portão. Ela disse que eu faço parte da sua vida desde sempre. Foi a manhã mais maravilhosa do mundo, onde falamos de leitura, Salas de Leitura, Rodas de Leitura, Clubes de Leitura e Professor Leitor! Ufa!!! Vieram atrás de ideias. Me trouxeram presentes: mangas maduras, queijos, requeijão, manteiga,sabonetes maravilhosos. Vanda Oliveira fez o café com leite e os sucos. Samuel, nosso jardineiro, foi decretado Mestre das Orquídeas. Acho que não saíram com as mãos vazias. Fazia a manhã de paraíso que um encontro desses pede. Eu havia feito os bolos ontem e o pão recheado hoje bem cedinho. Foi servido ainda quente. Emilly nos contou uma história linda. Li alguns poemas. Um segredo: a felicidade existe e tem todas as cores.
E.M. Professora Paulina Porto
Receber alguns alunos em casa é como abrir uma caixinha de surpresas: nunca sei como será. Eles eram do primeiro e segundo ano, ainda aprendendo a ler. Tinham de 7 a 10 anos. Um bando de passarinhos voando de lá pra cá! Primeiro a preparação da mesa do café, desde a véspera. Depois Samuel e Vanda chegam e me ajudam a fazer o cenário da varanda. As crianças da E.M Professora Paulina Porto, zona rural de Tanguá, já chegaram animadíssimas. Quando abri o portão entraram radiantes e se jogaram no tapete com as almofadas. Perguntei quem queria ir ao banheiro. Todos. Na volta do banheiro já falavam que estavam com fome. Então começamos pelo lanche. Fiz dois bolos, um de fubá com coco e outro de chocolate, fiz quibe de forno, pão recheado, comprei panetone, sucos e café com leite. Começamos com meu livro Carona no Jipe, depois Caixinha de Música e Brinquedos e Brincadeiras. Fechamos com o Receitas de Olhar. Mas para cada poema que leio com eles eu tenho brincadeiras. São brincadeiras com poesia. Eles se maravilharam com o barulho do mar. Diziam sempre: o mar está bravo! Depois foram pro jardim e brincaram de pique esconde, tiramos fotos e era linda de ver a alegria deles. A escola, na zona rural, não tem quintal de terra ou grama. É tudo cimento, me conta a Professora Vladimara. E hoje para eles era mesmo dia de festa. Ainda iam na lagoa e no Museu Arqueológico de Araruama.
E.M. Sítio do Ipê
Uma escola com aula de cinema em convênio com a UFF, sob a regéncia da Professora Suzana Alves da Cruz, dentro do Projeto Inventar com a Diferença: Cinema e Direitos Humanos. Professoras completamente engajadas com literatura e arte. A turma de reforço escolar aprende reforçando a auto estima com criatividade e leitura. Essa foi a magnífica escola que recebi hoje, a E.M.Sítio do Ipê, de Niterói. Escola com horta e composteira! As crianças estavam numa felicidade só. E lemos poemas, brincamos, rimos, comemos, eles correram pelo jardim. E tudo foi filmado pelos alunos do curso de cinema. O que vi e ouvi reforça tudo o que penso sobre Educação: sem literatura e arte a escola é uma prisão. Hoje tinhamos um visitante especial: o Jaques Lucas Cavalcanti, aluno de jornalismo da UFRJ. Ele veio para me entrevistar para um trabalho. Depois as crianças foram fotografar o mar ( de longe! ), pois o mar está de ressaca. E depois que eles se foram, guardo essa alegria bem guardada, meu coração cheio de esperança.