Clube de Leitura da Casa Amarela

Ontem aconteceram vários milagres. O tempo amanheceu belíssimo, quando na véspera havia chovido torrencialmente. A temperatura era de paraíso. Acordei bem cedo para fazer os pães. O segundo milagre é o que se repete a cada encontro desde 2010: As pessoas chegam com sua alegria, para essa comunhão entre literatura e amizade, regada a pão e vinho, comida maravilhosa, fogão de lenha aceso e música do mar. Confesso que sempre me espanto de que o Clube de Leitura continue existindo e que novas pessoas continuem chegando. Ontem veio pela primeira vez Marcia Borges uma leitora incrível. Edith Lacerda veio também. Quando ganhei o livro A Assinatura de Todas as Coisas de Elizabeth Gilbert, não dei um tostão por ele. Autora de best seller, escreveu Comer, Rezar e Amar, que virou filme. Deve ter ganho rios de dinheiro, mas o livro segue uma receita fácil e não aconselharia a sua leitura em nosso Clube. A assinatura de Todas as Coisas ficou em cima da bancada onde vivem os livros ao alcance da mão e um dia eu disse: ganhei tão gentilmente de presente da Flora, vou ler. E a minha surpresa foi imensa e não parei de me espantar até a última linha. Entramos no século XIX, no prólogo, com o nascimento de Alma em 1800. E todas as questões do século estão postas com uma trama extraordinária, uma linguagem fluida, um trabalho de pesquisa de botânica impressionante. É raro encontrar personagens tão densos e interessantes, que conservam sua coerência durante todo o livro. Que a literatura opere esse milagre a cada livro é a maior dádiva da existência: somos transportados no tempo, nesse livro viajamos duzentos anos num abrir e fechar de olhos, entramos no corpo e no psiquismo de outras pessoas, sentimos o que sentem, numa gama imensa de emoções… Todos os leitores amaram o livro. E nosso poeta escolhido foi Cruz e Souza. Gilcilene Cardoso, nossa maranhense, negra belíssima, foi a primeira a contar a sua história mas antes fez um depoimento impressionante. Disse: as cadeias estão cheias de negros, porque não puderam estudar. Olhem Cruz e Souza, filho de escravos alforriados, estudou e que poeta magnífico! Sua poesia é pura música. Música triste. Nosso almoço é sempre uma festa. Festejamos os aniversariantes Samuel, nosso jardineiro, Fernando e Ângela, que não pode vir. Já no fim da tarde chegou Rafael Santana de surpresa e deu para quem ainda estava aqui uma aula fantástica de Mário Sá Carneiro. Nosso próximo encontro será dia 5 de maio. Os livros serão Outros Cantos de Maria Valéria Rezende e Dona Purcina, A Matriarca dos Loucos, de Cineas Santos. O poeta, Carlos Nejar.

Escolas Municipais Amil Tanos e Zelia de Souza Aguiar

Eram 12 professoras e uma contadora de histórias, a Emilly. Vieram de Macaé, das Escolas Municipais Amil Tanos e Zelia de Souza Aguiar. Chegaram e Janete recitou meu poema ” Quero asas de borboleta azul” bem no portão. Ela disse que eu faço parte da sua vida desde sempre. Foi a manhã mais maravilhosa do mundo, onde falamos de leitura, Salas de Leitura, Rodas de Leitura, Clubes de Leitura e Professor Leitor! Ufa!!! Vieram atrás de ideias. Me trouxeram presentes: mangas maduras, queijos, requeijão, manteiga,sabonetes maravilhosos. Vanda Oliveira fez o café com leite e os sucos. Samuel, nosso jardineiro, foi decretado Mestre das Orquídeas. Acho que não saíram com as mãos vazias. Fazia a manhã de paraíso que um encontro desses pede. Eu havia feito os bolos ontem e o pão recheado hoje bem cedinho. Foi servido ainda quente. Emilly nos contou uma história linda. Li alguns poemas. Um segredo: a felicidade existe e tem todas as cores.

E.M. Professora Paulina Porto

Receber alguns alunos em casa é como abrir uma caixinha de surpresas: nunca sei como será. Eles eram do primeiro e segundo ano, ainda aprendendo a ler. Tinham de 7 a 10 anos. Um bando de passarinhos voando de lá pra cá! Primeiro a preparação da mesa do café, desde a véspera. Depois Samuel e Vanda chegam e me ajudam a fazer o cenário da varanda. As crianças da E.M Professora Paulina Porto, zona rural de Tanguá, já chegaram animadíssimas. Quando abri o portão entraram radiantes e se jogaram no tapete com as almofadas. Perguntei quem queria ir ao banheiro. Todos. Na volta do banheiro já falavam que estavam com fome. Então começamos pelo lanche. Fiz dois bolos, um de fubá com coco e outro de chocolate, fiz quibe de forno, pão recheado, comprei panetone, sucos e café com leite. Começamos com meu livro Carona no Jipe, depois Caixinha de Música e Brinquedos e Brincadeiras. Fechamos com o Receitas de Olhar. Mas para cada poema que leio com eles eu tenho brincadeiras. São brincadeiras com poesia. Eles se maravilharam com o barulho do mar. Diziam sempre: o mar está bravo! Depois foram pro jardim e brincaram de pique esconde, tiramos fotos e era linda de ver a alegria deles. A escola, na zona rural, não tem quintal de terra ou grama. É tudo cimento, me conta a Professora Vladimara. E hoje para eles era mesmo dia de festa. Ainda iam na lagoa e no Museu Arqueológico de Araruama.

Clube de Leitura da Casa Amarela

A Quinta da Harmonia fica entre o sonho e o delírio. É um dos lugares mais belos que conheço, na zona rural de Saquarema e foi lá o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. O livro era Terra sem Mapa, do uruguaio Ángel Rama. Éramos muitos. Juan Arias começou falando da sua infância na Galícia, no fim da Guerra Civil, nos contou que aquelas memórias do livro poderiam ser as suas. Mas o livro acordou em quase todos alguma terra sem mapa, as nossas próprias memórias. Trouxemos relatos da nossa infância. Concordamos que o livro está dividido em cenas, como pinturas e não capítulos. Concordamos que sua escrita consegue com sua beleza um esgarçamento das nossas emoções. Mas nem todos concordaram. Máximo, cineasta italiano, achou a sua linguagem artificial. Felipe Lacerda achou o livro sentimental demais. O livro é narrado sob o ponto de vista de uma menina pequena e muitas vezes me trouxe Miguilim. Depois só Juan e Maria Clara falaram um poema do Antonio Machado. Porque já era tarde, porque o tempo começou a nos atropelar. Tínhamos fome. Havia um clima tão festivo no Clube, uma espécie de festa de Natal e de fim de ano, com tanta alegria, que parecia que poderíamos voar. Brindamos ao Clube: literatura, vinhos, amizade. Aos anfitriões Hélio e Fernando que nos receberam da maneira mais linda. Depois do almoço tivemos sorteio de livros e fomos ficando até o fim da tarde na Quinta da Harmonia, que não parece de verdade, parece um filme, ou as páginas de um livro maravilhoso. Vida longa ao nosso Clube. O próximo encontro será no dia 24 de fevereiro. O livro: Os Tambores de São Luís, Josué Montello e o poeta Cruz e Souza.

E.M. Sítio do Ipê

Uma escola com aula de cinema em convênio com a UFF, sob a regéncia da Professora Suzana Alves da Cruz, dentro do Projeto Inventar com a Diferença: Cinema e Direitos Humanos. Professoras completamente engajadas com literatura e arte. A turma de reforço escolar aprende reforçando a auto estima com criatividade e leitura. Essa foi a magnífica escola que recebi hoje, a E.M.Sítio do Ipê, de Niterói. Escola com horta e composteira! As crianças estavam numa felicidade só. E lemos poemas, brincamos, rimos, comemos, eles correram pelo jardim. E tudo foi filmado pelos alunos do curso de cinema. O que vi e ouvi reforça tudo o que penso sobre Educação: sem literatura e arte a escola é uma prisão. Hoje tinhamos um visitante especial: o Jaques Lucas Cavalcanti, aluno de jornalismo da UFRJ. Ele veio para me entrevistar para um trabalho. Depois as crianças foram fotografar o mar ( de longe! ), pois o mar está de ressaca. E depois que eles se foram, guardo essa alegria bem guardada, meu coração cheio de esperança.

CIEP 258 Astrogildo Pereira

Hoje vivi uma experiência magnífica . Recebi um grupo de jovens do Ensino Médio, do CIEP 258 Astrogildo Pereira. São alunos do Ensino Médio Integral. Uma turma experimental, piloto. A escola tem 2 turmas experimentais. Eles têm aulas de filosofia, sociologia, projeto de vida, estudos orientados ( temas para debate). Fizemos o encontro dentro de casa, pois o tempo está chuvoso e frio. Foi ótimo, pois ficou muito íntimo. Eles eram lindíssimos. Comecei falando do Brasil. Do nosso momento. E fomos abrindo para o mundo inteiro. Falei da revolução francesa, da revolução russa, de como as revoluções são sangrentas e matam demais e de como a verdadeira revolução só através da educação. Falamos de arte, de vanguarda, de família. Falamos de ousadia, criatividade. Do perigo que os livros representam, por isso livros são queimados e perseguidos em regimes de terror, de que a biblioteca da escola deveria ser a sua verdadeira casa. Falamos de identidade, genealogia. De como somos nós e os outros. Os que nos antecederam. Li poemas. Fiz exercícios de poesia oralmente com eles. Foi tão bonito e emocionante que preciso me acalmar contando. Eles se apaixonaram pelo meu pão. Prometi fazer uma oficina de pão nas férias com eles. Queriam comprar o meu pão! Depois foram fotografar o jardim. E Nathalia Santos, aluna linda, na hora de ir embora me disse: – Eu esperava outra coisa. Obrigada pela chuva de conhecimento. Minha amada Bruna Pinto, do Clube de Leitura, é professora deles e estava aqui e me prometeu criar um Clube de Leitura com eles. O que estou sentindo é um arco íris por dentro

E.M. Clotilde

Hoje o Café, Pão e Texto recebeu adolescentes da E.M. Clotilde, da sexta, sétima e nona séries. Quando o ônibus encostou na porta da casa, entrei no ônibus e fui ovacionada. Muita emoção. Ter Roseléa Olímpio como aliada é uma dádiva. Cada aluno e aluna me beijava e abraçava com fervor no portão, antes de entrar. Comecei perguntando o que nos difetenciava dos outros animais que dividiam o planeta com a gente. Então falamos do que é humano. E o que podemos fazer para retirar do poço que somos nós a água mais limpa, já que nós humanos trazemos o gene da violência. Falamos da literatura como ferramenta capaz de nos ajudar, nos sensibilizar para o outro, nos ajudar a desenvolver nossa compaixão e empatia. Falamos de todos os sentimentos. Falamos da diferença entre a poesia e a prosa. Eles participaram, falaram, se inquietaram. Li um poema do Carteira de Identidade e pedi para que cada um encontrasse uma palavra que o nomeasse. Até o motorista do ônibus, Sr. Magno participou. Li poemas de amor do Fruta no Ponto. Eles vibraram, ficaram muito muito felizes. Depois de tanta conversa e poesia queriam saber tudo sobre o meu processo de criação. Meu pão foi sucesso mais do que absoluto. O jardim foi sucesso absoluto. Depois de mil fotos e selfies, na hora da partida, eles me pediram um encontro ao contrário: Eles é que vão ler para mim os seus poemas, lá na Sala de Leitura da escola, que leva meu nome. Definitivamente os meus encontros com os adolescentes são o que há de bom na face da Terra.

Clube de Leitura da Casa Amarela

Hoje o encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela foi uma grande celebração. De muitas coisas. Do Prêmio Comunique-se que o Juan Arias ganhou. De termos Marijose Sanchez de Arias, nossa sobrinha de Granada e sua amiga Loli Ortiz Lirola na casa. De celebrarmos Antonia, ainda na barriga da mãe Carol, mulher do Felipe Lacerda, que é leitor do Clube desde o seu começo. Celebramos também o aniversário da Vanda Oliveira, meu anjo da guarda, do Chico Peres e da Adelaide Vidal. Discutir o Livro dos Homens de Ronaldo Correia de Brito não é tarefa nada fácil. Começamos pelo primeiro conto mas logo, feito uma enxurrada, os contos iam se atropelando como a água nas pedras e era impossivel conter cada conto em suas margens. Cada conto tem a sua crueldade e beleza. A morte é personagem constante. Atravessam os contos do primeiro ao último. Os contos são cinema, puro Glauber Rocha, diz Máximo, cineasta italiano. E aproveita para comparar o Sertão com a Sicília, com seus códigos de honra. Cristiano Mota Mendes nos fala da diferença do sertão de Ronaldo e de Guimarães Rosa. O sertão de Ronaldo é seco, nos remete a Graciliano. Cesar Alves nos traz semelhanças entre personagens de sua aldeia natal com alguns personagens. Bruna aponta a questão feminina. Maria Clara fez uma pesquisa exaustiva sobre o nome de cada personagem, nomes que já trazem em seu bojo muitos significados. Uma descoberta maravilhosa. E fomos, pulando de conto em conto sem saber qual o mais impressionante, cada pessoa com o seu preferido. É um livro magistral. E a discussão em grupo foi alargando, ampliando os significados. Como se junto com a Carol, fossemos engravidando também. Cada conto com a sua extrema beleza, às vezes uma beleza terrível. Ronaldo é um arquiteto. Nada é ao acaso. Recomendo este livro com fervor. E não é um.livro fácil. Juan nos diz que as grandes obras se inspiram no local , na aldeia. Parte do pequeno para o Universal. Não por acaso cultura significa cultivar a terra. E de repente a surpresa que Ângela preparou para comemorar os sete anos do Clube: Cada pessoa leu um poema de minha autoria. Até minha tia Alice se levantou e leu. Fiquei absurdamente emocionada. Não podia acreditar, pois eu havia indicado Ana Cristina César, mas sem eu saber, fui a poeta escolhida. O almoço foi magnífico. Eu havia pedido que todos trouxessem fraldas para Antonia. E realmente fizemos uma montanha de pacotes de fraldas. Nosso próximo encontro será dia 2 de dezembro. O livro é Terra sem Mapa de Ángel Rama. O poeta é Antonio Machado. Casamento perfeito.

E.M. Amália da Costa Mello

Hoje, depois de toda a chuva e sudoeste de ontem, pude fazer o encontro do Café, Pão e Texto na varanda. Embora frio, não chovia. A E.M. Amália da Costa Mello veio pelas mãos da Neuzileia Oliveira Santana, de Sampaio Correia e era uma turminha do segundo ano, tão lindos e amorosos, pareciam gatinhos, borboletas, passarinhos. Fizemos muitas brincadeiras com os livros Caixinha de Música, Quem Vê Cara não Vê Coração, Receitas de Olhar, Poemas e Comidinhas. Uma das brincadeiras, depois da leitura de um poema, era que bichinho cada um queria ser. Tigre, águia, sereia… e uma menina disse: princesa! Acordei muito cedo para fazer pão e bolo. Aline De Oliveira Oliveira, um dos meus anjos da guarda, veio me ajudar. A varanda parecia um bosque, cheia de folhas e galhos pelo vendaval de ontem. Havia que varrer e limpar para receber a escola. A alegria das crianças tem todas as cores e sinos. Ganhei tantos beijos e abraços que meu coração está abarrotado.