Clube de Leitura da Casa Amarela
Como dar conta de um livro tão belo, tão monumental, como “Com a Vida pela Frente”, de Émile Ajar/Romain Gary? Grandes livros chegaram nas minhas mãos por um sopro de magia, sem buscá-los. Foi este o caso. Acho que foi na década de 70, ou começo dos 80, que uma amiga muito amada, Monica Botkay, me emprestou o pequeno volume de La Vie Devant Soi. Eu me apaixonei perdidamente pelo livro, de paixão fulminante. Mas tinha que devolvê-lo. Nesta época não podia me dar de presente um livro importado e não havia em português. Mas nunca o esqueci. Momo, Mme Rosa e todos os maravilhosos personagens me habitavam. Em 1994, fui a Paris, fiquei hospedada na casa de uns amigos que não conheciam o livro. Cheguei no final da tarde e no dia seguinte de manhã fui atrás do livro. Foi o primeiro que vi, na beira do Sena, me esperando. Foi tão belo reencontrar todo mundo! Meus amigos leram e passávamos muito tempo discutindo o livro. Uma vez, Bartolomeu Campos Queiroz falou dele num encontro para professores. Ouvi-lo falar de Momo e Mme Rosa foi como se um raio me atingisse. Ninguém que eu conhecesse conhecia o livro! Quando criei o Clube de Leitura da Casa Amarela,em 2010, achei a tradução em português, li e não gostei. Mas agora, a edição da Todavia tem uma tradução perfeita e finalmente pudemos nos encontrar em volta de um dos livros que mais amei e amo na vida. Pelos olhos e pela fala de Momo, entramos em seu submundo de prostitutas, cafetões, travestis, africanos, muçulmanos, e uma velha judia, Mme Rosa, ex puta, sobrevivente de Aushwitz, com um retrato de Hitler debaixo da cama, para se lembrar que sempre pode ser pior. Entramos num apartamento em Belleville, Paris, lá em cima, no sexto andar de um prédio de periferia, sem elevador, que abriga uma infinidade de gente de todos os cantos e até um Senhor francês! O apartamento da velha judia é um lar clandestino para filhos de prostitutas mediante pagamento, pois nessa época era proibido as mães que exerciam a profissão criarem seus filhos. Mas ela tinha papéis falsos para todos e um policial que ela criou que a protegia. Por esse lado não havia problema. A história de amor de Mme Rosa, velha judia e Momo, menino muçulmano, talvez seja a mais bela que já tenha lido na vida. Para mim é um livro único. Absurdamente belo, triste, cômico. O Clube de Leitura da Casa Amarela amou e passamos quatro horas dicutindo online e nos emocionando.
Metamorfoses, Rio de Janeiro, vol. 17, número 1 – Rafael Santana
Metamorfoses Rio de Janeiro vol. 17 número 1 Rafael Santana Clique aqui para abrir o PDF
Podcast – Clube da Casa Amarela – Leituras de “Arthur, um autista no século XIX”, de Maria Cristina Kupfer.
Clube da Casa Amarela – Leituras de “Arthur, um autista no século XIX”, de Maria Cristina Kupfer. Ensino Remoto: Razões Para A Educação Básica Não Aderir OUVIR PODCAST
E-book – Aulas de Corte e Costura – Roseana Murray e Juliane Carvalho

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Clube da Casa Amarela
O autismo, para quem nada conhece do tema, é um enigma. Como acordes musicais, o espectro autista varia em intensidade. O autista, para nós, os leigos, é um país desconhecido. Entretanto, pais e mães e irmãos e professoras e professoras, precisam lidar cotidianamente com pessoas que possuem outra maneira de ser. E eis que de repente me chegou nas mãos um livro magnífico, Arthur, Um Autista No Século XIX, de Maria Cristina Kupfer, psicanalista, grande conhecedora do tema, na história, na teoria e na clínica. Mas a romancista aqui é soberana. Usa seu conhecimento como arcabouço para o romance que faz estremecer nossos pilares. Poderíamos chorar rios de surpresa e emoção. Maria Cristina, já na primeira frase, nos leva com delicadeza para o fim do século XIX. No dia 3 de outubro de 1891, entramos em Marguerite, uma aristocrata, mulher livre, dona de uma grande propriedade que herdou e admistra sozinha, função absolutamente masculina na época. ” Hoje alcei voo com o sol. Não imaginava poder realizar algum dia o que os monges do século XIV afirmavam ser a melhor maneira de escrever: acompanhando o nascimento do sol.” Essa primeira luz, que lhe trará a escrita em forma de diário, é a metáfora do desconhecido que se ilumina. Arthur entrará na vida desta mulher singular para a sua época e então terá começo a aventura mais extraordinária. Os personagens são potentes, assim como as situações vividas por Arthur. O silêncio do menino também é personagem. O silêncio é personagem e é a música que percorre o belíssimo romance. O Clube de Leitura da Casa Amarela teve no dia 26/06/2022 um dos seus encontros mais impactantes. Mesmo sem fazer parte do espectro, nos foi oferecido um espelho para um grande mergulho dentro das nossas águas.
Anatomias – Roseana e Evelyn

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Clube de Leitura da Casa Amarela
Longa Pétala de Mar, de Isabel Allende, tendo um verso do Neruda como título, foi o livro que nos uniu neste encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. Durante três horas de gravações e digitações, nosso método de encontro neste segundo ano da Pandemia, anos trágicos, vivenciamos o horror da Guerra Civil Espanhola, como disseram no encontro, um prefácio para a Segunda Guerra. Fugimos por montanhas cheias de neve, junto com uma massa de gente alquebrada, (paramos na fronteira com a França, esbarramos na crueldade das fronteiras). Conhecemos os Campos de Refugiados franceses, Campos da morte para os fugitivos da Espanha. Conhecemos a bondade humana em seu estado mais puro, o verdadeiro ouro dos alquimistas. Nascimento e Morte no cotidiano de sujeira e fome, e o milagre de um navio pilotado por Neruda. Em cada capítulo um verso do poeta, Neruda é o personagem que conduz 2000 espanhóis para o Chile. Entre voltas e reviravoltas, a tragédia da América Latina se desenrola diante de nossos olhos, dentro de nossos corações. Muitos habitantes do Clube, são testemunhas destes anos terríveis. A ficção é a maneira como a História passada também nos faz personagens. Misturando pessoas reais com gente inventada, seus amores, aventuras, Longa Pétala de Mar, essa grande Ode ao Chile, como disse um leitor, é uma geografia que levaremos para sempre.
E-book – De corpo e alma – Roseana Murray e Juliane Carvelho

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Clube de Leitura da Casa Amarela
Em nossos encontros do Clube de Leitura da Casa Amarela, antes da Pandemia, era oferecido um almoço. Desde cedinho eu fazia o pão e Vanda começava os preparos. Samuel me ajudava a arrumar a varanda, eu alugava mesas que eram cobertas com toalhas de chita que mandei fazer especialmente para os almoços do Clube. Era toda uma azáfama maravilhosa até que todos começassem a chegar. Não faltava vinho e a torta dos aniversariantes do mês e dos meses passados antes do encontro. A sala também era preparada para a ocasião. Éramos muitos. Uma tribo amorosa. Como transpor essa maravilha para o modo distância? Acho que consegui. Fazemos o encontro por zap. A roda de ontem foi aberta com a Canção da América na voz de Ana Cristina e Ronaldo no violão. É assim: Eu abro o encontro às 10h da manhã com uma brevíssima gravação. Depois vou chamando um por um, todos já com as suas gravações prontas, antes colocam uma foto e enquanto ouvimos a voz do leitor falando sobre o livro, comentamos digitando. São muitos leitores. Alguns moram longe, entraram no Clube porque o modo distância permitiu. O encontro vai de 10h até às 14h. Quatro horas sem intervalo! Cada voz com seu timbre, cada leitura trazendo novos pontos de vista. O livro lido foi A Pane, de Dürrenmatt. Recomendo com louvor. Fala de culpa, manipulação. Há um julgamento numa cidadezinha bucólica no interior da Suíça, uma bela casa, um quarteto de senhores viúvos e aposentados, a saber: um Juíz, um Advogado de Defesa, um Promotor, um Carrasco. Um banquete pantagruélico é servido. Um banquete macabro. O convidado, que chega até ali por causa de uma pane no carro, entra num jogo perigoso fazendo o papel de réu. É uma obra-prima. Dürrenmatt é um mestre.
E-book – Flores de Desejos – Roseana Murray e Maria Amália

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