O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço

Chovia. A varanda estava molhada e úmida, então o nosso encontro com os alunos do EducandariodoBem De Saquarema aconteceu dentro de casa, na sala e ficou bem aconchegante. Eles já conheciam muitos dos meus livros e chegaram com perguntas inquietas que não queriam parar dentro da boca, então começamos pelas perguntas surpreendentes que me fizeram. Renan queria saber como é a mente de um poeta. Rayane queria saber como é a vida de uma escritora. Kamilla me perguntou qual o livro que mais gostei de escrever e porque decidi morar em Saquarema. Victor me perguntou como eu me sentia ao ler uma coisa que eu escrevi. Aiene queria saber que livro eu gostaria de escrever. Queriam saber da Babel, a nossa gata que se mudou para as estrelas. Falamos então sobre vida e morte. Falamos sobre os gatos. Disse para eles que a mente de um poeta talvez seja bastante parecida com a mente de um gato. Eles queriam saber o que é uma editora e como faço para conseguir publicar um livro. Eles tinham um poço inteiro de curiosidade e falei do meu livro Poço dos Desejos e li alguns poemas do livro. Li o poema do Abraço : DESEJO DE ABRAÇO Desejo de abraço nunca passa. Abraço é o nó mais delicado que há. Um braço aqui e outro lá e o coração se derrete, o corpo afunda na mais gigantesca felicidade. Fatima Alves disse que tinha no celular a música “O MELHOR LUGAR DO MUNDO É DENTRO DE UM ABRAÇO” do J.Quest e pedi para ouvirmos no final. Li também o poema “Desejo de ouvir o pensamento dos gatos” para falar um pouco da mente dos poetas. Eles falaram dos seus desejos. Falamos de leitura, da leitura do mundo. Eles queriam conhecer as nossas gatas. Juan buscou a Nana e a energia da sala era tão amorosa que Nana assistiu a tudo no colo do Juan prestando muita atenção. Ela adorou o poema dos gatos. A Luna, nossa gata persa bem velhinha, é bem tímida, um pouco autista e não gosta de multidão. Vinte pessoas para ela já é multidão. Fizemos a brincadeira da Orquestra Noturna, do livro Caixinha de Música e finalizamos com a música do J.Quest. Então, antes do lanche, todos nos abraçamos muito e de verdade. Havia parado de chover e eles escolhiam o que queriam comer na mesa, bolo, pão recheado feito por mim, panetone, suco, café com leite e iam lanchar no jardim. Ninguém queria ir embora. Havia, como no meu poema do livro Poço dos Desejos, um desejo de parar o tempo.

E.M. Joaquina

As crianças da E.M.Joaquina vieram de longe para o nosso encontro Café, Pão e Texto. As professoras com Elcimar, a Diretora, são amorosíssimas!!! A Lilliam, filha da nossa caseira Vanda fez muito sucesso com suas coxinhas de galinha e foi seu primeiro contato com o meu projeto, pude então medir com uma fita métrica de nuvens, o tamanho do seu impacto. Ela ficou encantada. Tivemos o momento pipi, o momento jardim, o momento poesia. Apresentei meus novos livros e brincamos muito. Adoro brincar. Eu não tenho idade. Eles não conheciam o mar!!! A Secretária de Educação , Miriam Inês, veio com sua equipe e até fotógrafo profissional. O que acontece aqui é o evento mais luxuoso possível. Crianças e adultos entrelaçados com os fios leves e densos da poesia. Agradeço a Vanessa Coelho o seu carinho comigo. E a E.M.Joaquina nos ajuda a pensar que uma educação diferente é possível.

E.M. Magid Repani

Gosto da palavra azáfama.As palavras que os árabes nos deixaram são lindíssimas. O dicionário me diz: grande pressa e ardor para executar uma tarefa. Pois bem, hoje de manhã corri bastante para deixar tudo ponto para o café da manhã com a E.M. Magid Rapeni, de Magé, R.J. Kátia Costa me disse que sairiam da escola às 7:00 e de Magé até aqui não é tão longe assim. Umas duas horas. Acontece que se perderam e chegaram com um pouco de atraso, mas já estava tudo pronto. Fiz dois pães imensos recheados com muzarela, bolos, pães doces, sucos, café com leite. As crianças eram pequenas, da terceira série, lindas, maravilhosas. Um menino passou mal no ônibus, vomitou e tomou um banho no meu banheiro, coitadinho. Mas logo ficou todo animado. Assim que chegaram correram todos para o jardim. Como eram pequenos, resolvi fazer muitas brincadeiras com os poemas. E comecei perguntando do que é que eles brincam na hora do recreio. Para minha surpresa, brincam de tudo de antigamente. Cabra-cega, amarelinha, queimado, escolinha, casinha, etc. Li então alguns poemas do livro Brinquedos e Brincadeiras, ed. FTD. Fizemos a Orquestra Noturna, e Unidunitê, do Caixinha de Música. Fizemos o Caldeirão da Bruxa, com o Poemas e Comidinhas, ed. Paulus. Eles já haviam visto o vídeo no meu site e amaram fazer o poema e a bruxaria sugerida. Fizemos o poema Cada Macaco no Seu Galho, do livro Quem Vê Cara Não Vê Coração, ed. Callis e foi divertidíssimo, pois todos imitavam macaco e tinham que trocar de lugar com o amigo. Depois lancharam , voltaram pro jardim e finalmente o momento mais esperado: O MAR!!! Muitos não conheciam o mar. Foi muito emocionante. Na volta limpar os pés no jardim com a mangueira também foi um momento maravilhoso. A escola tem um IDEB de 6.1,o melhor do Município e assim se pode avaliar a dedicação das professoras e da Diretora Kátia Costa. Até os motoristas participaram arrumando e desarrumando a varanda para o encontro. Na hora da despedida todos queriam morar aqui para sempre.

E.M. Clotilde

Hoje de manhã recebi a E.M.Clotilde, escola rural de Sampaio Correia, Saquarema, dentro do Projeto Café, Pão e Texto, pelas mãos da Professora Delma. Não havia mais vaga, pois recebo uma escola por mês e dia 5 já receberei uma escola de Magé. Mas como a Secretaria de Educação de Saquarema me pediu, eu não podia negar. Eram apenas quinze crianças da quinta série e os professores e o marido da Professora Delma que veio ajudar. Hoje não era dia do nosso caseiro , então esperamos a escola chegar para que todos ajudassem a arrumar a varanda. Clodoaldo, da Secretaria de Educação, o marido da Delma e as professoras e alunos ajudaram a mover mesas e bancos e logo a varanda estava arrumada para o nosso café literário. Pão, queijo, bolo, sucos, café com leite, sonhos… muita coisa gostosa. Comecei lendo o conto “Um Presente de Natal” de O’Henry. O conto era grande, por isso eu parava em cada parágrafo para que a gente fosse conversando. As crianças amaram. O conto é belíssimo. Depois apresentei meu novo livro “Coração à Deriva” com as maravilhosas ilustrações da Cláudia Simões, ed. Rovelle. Contei a história que construí com os poemas, mostrei as aquarelas , li algumas poesias e eles amaram. Depois fizemos alguns ditados populares do meu livro”Quem vê cara não vê coração”, ed. Callis, e então fizemos uma orquestra com o livro “Caixinha de Música” , parceria com meu filho Guga Murray, ed. Manati. Fizemos também o jogo Unidunitê, com meu poema com o mesmo nome. Fechei com o poema da paz, do meu livro Poço dos Desejos, ed. Moderna. Café, pão, texto, jardim. A criançada foi toda para o jardim descobrir as orquídeas floridas. Uma menina com olhos de gato me disse que o maior sonho da vida dela era vir na minha casa me conhecer! e que era louca por orquídeas. Eles fizeram muitas fotos no jardim, passeavam no jardim como se estivessem no Éden. E na saída me encheram de beijos e abraços, uma cachoeira de amor.

Mestres do Amor

Há uma magia e um mistério nos encontros. No Clube de Leitura da Casa Amarela essa maravilhosa alquimia sempre se repete. Ontem discutimos Judas, do Amos Óz e A Última Escala do Velho Cargueiro, do grande escritor colombiano Álvaro Mútis. Cristiano, que foi quem sugeriu a leitura do Judas, não pode vir, mas me escreveu pelo whatsup oferecendo uma chave para o elo entre os dois romances: “ Puxe pelas duas mulheres dos romances. São personagens extraordinárias. Mestres do amor, como Diadorim foi para Riobaldo”. Suzana Vargas sugeriu que um bom começo seria ler um trecho do velho cargueiro. Ela sempre faz isso em seus encontros de leitura. Adorei a idéia e escolhi o primeiro encontro do narrador com o navio, quando vai a Helsinque e quer chegar ao extremo da Finlândia para ver as cúpulas douradas de São Petersburgo. Felipe Lacerda, que voltou ao Clube quase depois de um ano de ausência, leu em voz alta, já que além de ter passado em primeiro lugar no concurso para professor em Duque de Caxias, é ator. Há uma beleza tão imensa nesta cena, é tudo tão absolutamente perfeito, que todos ficamos sem fôlego e a partir daí recontamos o romance que tem dois narradores, já quem um deles conta a história que ouve de outro. E o livro é uma incrível história de amor. E ao unir as duas mulheres dos dois livros ,Warda e Atalia, que são duas mestres do amor, foi possível começar a discutir o Judas, um dos melhores livros que já li na vida. Fizemos a mesma coisa, comecei lendo o primeiro parágrafo: “ Eis aí uma história dos dias de inverno no final de 1959 e início de 1960. Nesta história há erro e desejo, há amor frustrado e certa questão religiosa que ficou aqui sem resposta. Em alguns prédios ainda se reconhecem os sinais da guerra que há dez anos dividiu a cidade. Ao fundo dá para ouvir o toque distante de um acordeão ou os sons nostálgicos de uma gaita ao entardecer, por trás de uma persiana cerrada.” O romance inteiro já está aí, concordamos todos. Neste trecho mínimo Amos Oz já nos joga neste lugar, Jersusalém dos anos 60, já nos situa historicamente, falando das ruínas da Guerra da Independência, e nos fala de erro e desejo, e ao evocar os sons nostálgicos da gaita, também nos fala de memória. E a maior questão do livro que tem muitas e muitas camadas é a traição. Suzana Vargas disse que a epígrafe também diz o livro inteiro: “Eis que corre o traidor na beira do campo. Não ao vivo, mas ao morto que há nele a pedra mirava. Nathan Alterman” Shmuel, o estudante, nos é oferecido em sua inteireza quebrada. Ele perde tudo de uma só vez: a namorada, a mesada dos pais para poder estudar, a irmã que vai para a Itália. Então começa a sua aventura, ao aceitar o emprego de “distrair” e cuidar um pouco do velho intelectual, Guershom Wald. Shmuel escreve sua tese. A de que Judas não era um traidor, mas sim o discípulo que mais amou Jesus. O próprio avô de Shmuel foi considerado traidor pelos israelenses e assassinado, quando na verdade era um agente duplo. O pai de Atalia foi considerado um traidor, pois antes da Declaração do Estado de Israel pela ONU, ele pregava um não Estado, com árabes e israelenses vivendo juntos e misturados, sem fronteiras. Ele, como um profeta, já previa a carnificina futura. Então Amos Óz, concordamos todos, desarruma o conceito de traição. Os traços físicos, o cheiro de cada personagem é tantas vezes reforçado, que eles saem do livro e estão ali, bem diante dos nossos olhos, de carne e osso. Suzana Vargas mos diz que Amós Oz parece que escreve fazendo cinema. Gilcilene fez um depoimento lindíssimo. Ela disse que a cada encontro do livro seus preconceitos são destruídos, há uma desconstrução de tantas idéias preconcebidas que ela tinha. Fernando, Helio, Cesar, Flora, tantos falaram sobre a traição de Judas, e do que seria o mundo e o cristianismo se o judaísmo tivesse aceito Jesus. Shmuel , em sua tese, sustenta que, ao contrário, não foi uma traição. Judas não era um traidor. Abravanel não era um traidor, o avô do Shmuel não era um traidor. Falamos todos da beleza e do cuidado que havia entre Shmuel, o estudante e Guershom, o velho. Do cuidado com que Alalia, a mulher misteriosa e inalcançável tem com o estudante, ela, a sua “mestre do amor”. Messias , que não pode vir, também me mandou um whatsup sugerindo: “ Um dos clímax do livro é a carta da irmã!!!! Quase a metonímia do enredo do romance…” Lemos então um trecho da carta, belíssima, da irmã que vai para a Itália e pede ao irmão que não pare de estudar. Na verdade esta é a única relação familiar não destroçada. Maria Clara leu o trecho em que Guershom fala que Atalia, sua nora é sua “Koná”, que no hebraico contemporâneo, feminino de “koné”, quer dizer compradora, mas no hebraico bíblico tem o sentido de criador e dono. Assim, Atália era a sua “dona”. E foi impossível esgotar todas as maravilhas do livro que merece uma segunda leitura, uma terceira. Assim, de literatura, pão e vinho, a amizade de todos do grupo, a cada encontro se alimenta e fortalece. O almoço estava magnífico.

E.M. Brasil

Hoje, na minha casa, tive a honra de receber uma escola absolutamente extraordinária. a E.M.Brasil, uma escola da periferia do Rio, de Olaria. A escola tem um dos IDEBS mais altos de todo o Estado do Rio: 6.8 Este desempenho se deve ao ofício do sonho. A escola prioriza a literatura e a arte. E o que vivi hoje foi tão emocionante que não podia acreditar! Um grupo de 20 adolescentes, absolutamente apaixonados por literatura! A escola vai participar da FLUPP, uma Festa Literária que irá ocupar três dias inteiros e alguns autores e seus livros estarão presentes . Meus livros Colo de Avó, Diário da Montanha, O Mar e os Sonhos e Brinquedos e Brincadeiras foram os escolhidos. A turma é muito afiada. São pensadores e sonhadores. Comecei lendo um conto do meu livro Exercícios de Amor. Falamos sobre amor amizade, sobre processos de criação. Eles fazem aulas de teatro e artes visuais na escola. Agora estão trabalhando com mandalas. Falamos sobre o efeito curativo das mandalas e das cirandas, falamos sobre Bispo do Rosário e o Museu do Inconsciente da Dra. Nise da Silveira. Falamos sobre identidade. Os alunos leram em voz alta alguns poemas do meu livro Carteira de Identidade. Falamos dos nomes de cada um e seus significados. Gritamos nossos nomes para o Universo ouvir. Tocamos em temas duros como gravidez precoce, suicídio, adolescentes que se cortam. Falamos da importância das palavras. Há palavras que ferem e destroem pessoas. Outros alunos leram alguns poemas do meu livro Poço dos Desejos. Falamos sobre os desejos. Amanda disse que o seu desejo é ler todos os livros possíveis, ler infinitamente. Brendo disse que seu desejo era dar para a sua mãe em dobro tudo o que recebeu Marcela disse que seu desejo era não errar, acertar sempre. Juan Arias, meu marido, falou que isso era impossível. Erramos e acertamos. E disse que a ciência faz novas descobertas errando. Lygia quer se formar em medicina. Chandler quer realizar todos os seus desejos. Eles estavam acompanhados de Carla, a coordenadora do Projeto Flupp, Rosângela, Regente da Sala de Leitura e uma mãe que parecia uma aluna. Vieram todos com a camiseta que idealizaram para a Flupp: “Caminhos de Murray” com um desenho lindo. Tomamos um café da manhã tardio: cachorro quente, coxinha de galinha, (a filha da Vanda fez) bolo, chocolate quente (que ninguém quis) e suco de caju. Os jovens foram ver o mar de ressaca. Foram ao jardim. Fotografaram MUITO e no final de tudo demos um grande abraço coletivo bem apertado e gritamos de felicidade. Urramos. Daqui foram visitar a Igreja de Saquarema.

A Bailarina

Hoje nos meus pães entraram os últimos fios da noite, era escuro quando comecei a amassá-los . Esperava a Escola Municipalizada Elcira de Oliveira Coutinho e queria os pães ainda quentes para o nosso Café, Pão e Texto. Fiz também um belíssimo bolo de fubá. Às nove em ponto o ônibus encostou aqui na porta e as crianças se espalharam pela varanda, nos bancos, no chão. E vieram cheios de novidades , estavam loucos para me contar. Há um grupo de leitores na Escola que se chama GALE. São alunos contadores de histórias, sempre no contra-turno. Eles contam histórias, mostram o livro, as ilustrações, em outras turmas, até nas turmas dos maiores. E o melhor: vão de casa em casa. Tocam a campainha e perguntam para quem abre a porta: _ Você quer ouvir uma história? A professora vai junto. Achei a ideia genial, maravilhosa!!! Perguntei para a professora e para eles, de que maneira esse envolvimento com a leitura modificou a vida deles. Todos me disseram que melhoraram o rendimento nas outras matérias e que melhoraram também como seres humanos. São mais solidários e mais generosos. A Professora Elisângela disse que eles foram modificados pela leitura contínua. A escola tem um blog que funciona como a redação de um jornal:Blog da Escola Elcira. Tem equipe de relações públicas, redatores, equipe de fotografia. http://emelcira.blogspot.com e estão no facebook . Também fizeram um aplicativo para baixar no celular. Detalhe: É uma escola rural. Totalmente antenada sob a coordenação do Professor Edgard. Fizemos , como sempre, brincadeiras com meus poemas. Juan falou bastante sobre a importância de se adquirir vocabulário. Como a escola tem uma rádio, dei a ideia de colocarem no ar um poema todos os dias. Invenção da E.M.Gustavo Campos quando trabalhei lá em 2002. E já que a escola tem um trabalho incrível com informática, dei a ideia de aprenderem espanhol com algum curso on line que é tão barato. A aluna Sabryne Taina fez a contação do meu livro Maria Fumaça Cheia de Graça , vestida com a camiseta do Gale, o grupo de leitura e a bolsa de pano bordada onde carregam os livros. E depois a bailarina Gabriela dançou enquanto Manuela dizia lindamente o poema A Bailarina. Trouxeram a música! Foi lindo, emocionante. Depois chocolate quente, pães, bolo, biscoito de chocolate. E um passeio no jardim com o Samuel para a gincana das árvores. Dois meninos ganharam o livro Uma Carta para Deus, do Juan . Depois sessão de fotos. E hoje não deu para ir saudar o mar, pois o mar está furioso demais, há uma verdadeira ressaca. E fomos todos felizes para sempre!!!

Dia de colo de avó

As pessoas que vivem na Casa Amarela e a E.M. Almeida Garret, receberam o presente mais magnífico do mundo! Julia Cardenas, atriz e contadora de histórias chegou junto com a Dora, sua filha e Priscila, dos mil instrumentos. Um pouquinho antes do ônibus da escola encostar em nosso nosso portão. o dia magnífico fazia o cenário mais esplêndido possível para a festa. O almoço já estava em andamento, fogão de lenha cantando, o feijão perfumando a varanda. A mesa grande já cheia de pratos , copos, talheres e no chão colchas coloridas. As crianças chegaram pelas mãos das professoras Christiane Pereira Lamas e Carla, super amorosas. Primeiro o momento pipi, depois de uma longa viagem. Julia já tinha suas magias arrumadinhas no chão. Priscila com seu caixote de instrumentos aos pés. As professoras elogiaram as cores da casa, amarelo ocre e azul turquesa . Falei, falamos, das cores frias e quentes, das cores que acalmam, das que excitam, de como as cores interagem com a gente e pudem mudar o nosso ânimo, de como as cores possuem uma frequência, uma vibração. Perguntei a cor do amor. Alguns disseram azul, outros vermelho. E de repente a magia começou. Julia nos apresentou seu passarinho, a Isadora que possui vários nomes porque é de origem espanhola. Juan também disse seu nome , imenso. E Julia fez brotar de dentro dos poemas do livro Colo de Avó, a magia mais absoluta. As imagens do livro se tornaram os objetos mais lindos. Nós todos, a sua plateia, não sabíamos se chorávamos ou se ríamos. As canções , entremeadas com os poemas, deixava nossa respiração por um fio. Priscila tem os instrumentos mais inusitados e loucos, que ela fabrica. Num determinado momento houve um cortejo no jardim, todos acompanhando a Julia, que carregava nas mãos um arco-íris… Julia nos contou a história dos seus avós e bisavós, fez um álbum de fotografias muito muito antigas, seus bisavós que saíram da Espanha e foram até o Uruguai de veleiro no ano de 1932… com as crianças a bordo! As crianças também contaram histórias de suas avós. E o passarinho Isadora participando ativamente de cada momento. Acho que nunca me emocionei tanto. Com cada poema do livro Julia fazia um feitiço mais impressionante. Meu livro cresceu, ficou imenso, se esparramou pelo Universo… Então, antes do almoço brincamos de Unidunitê, com um poema do livro Caixinha de Música e fizemos um jogral com o poema Caldeirão da bruxa, do livro Poemas e Comidinhas. O almoço estava maravilhoso, preparado pela Vanda. Cada um com seu prato no colo, todo mundo sentado no chão, ou nos bancos. As Professoras trouxeram doces de leite, de coco, de chocolate. E depois do almoço tivemos uma gincana no jardim. Eu tinha três livros para sortear. Os três primeiros que acertassem o nome de três árvores ganhava um livro. Foram conduzidos pelo Samuel. Acertaram a árvore de acerola, de canela, a goiabeira. Depois, todos já de volta, falaram seus poemas. E finalmente foram cumprimentar o mar. E foram embora com sorrisos de sol. Foi um dia maravilhoso. Agradeço.