Clube de Leitura da Casa Amarela

O livro que foi lido para o encontro de maio do Clube de Leitura da Casa Amarela, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, deixou os leitores apaixonados. Foi unãnime . O livro é todo epistolar e o leitor vai montando o quebra cabeça. Na primeira carta sabemos que uma escritora inglesa escreve para seu editor. O ano é 1946. Pós Guerra. E a falta de comida ocupa um grande espaço. A partir disso, Máximo, nosso leitor italiano, cineasta e poeta, contou as suas lembranças do pós guerra. Apesar de ter apenas quatro anos, ele se lembrava de muitas coisas. Seu pai era da Resistência. Ele diz que se lembra do cheiro do pós guerra. Renné falou do seu encanto com a estrutura do livro. De como, através das cartas, vamos montando uma história incrivel, cheia de histórias. Cada carta de cada personagem para a autora vai acrescentando mais um pedacinho. Falamos de como a Sociedade Literária, fruto de um acaso e da imaginação de uma personagem, garante a sobrevivência do grupo. De como a partir da Sociedade Literária os laços de afeto, de amizade entre as pessoas, se tornam vigorosos e espessos. Uma história linda de liberdade e amor. E o humor inglês é absoluto. Apesar de tantas histórias tristíssimas, saimos leves do livro. Essa magia que existe e circula entre as pessoas que leram o mesmo livro e discutem, é palpável e enche o espaço de alegria. Entre os leitores de uma ilha, na época da Segunda Guerra e nós, hoje. Maria Clara e Fernando levantaram a questão: Será que esses personagens existiram? Mas eu acho que isso não importa. O que importa é que acreditamos no que está sendo contado, nos identificamos com os personagens, sonhamos e sofremos junto com eles. Maria Clara deu a ideia: Deixamos um espaço de tempo para que quem quiser possa seduzir o leitor falando de algum livro que tenha amado. Fernando falou de Guerra e Paz. Eu falei do Tempo entre Costuras, de Maria Dueñas. Uma vez por ano nosso encontro acontece numa propriedade rural. Fernando foi um anfitrião maravilhoso. O almoço na varanda era de cinema. Foi um grande encontro. Agradeço aos leitores do Clube que estiveram presentes: Máximo, Renée, Paulo, Adelaide, Ângela, Gil, Bruna, Maria Clara, Flora, Hector, César, Chico, Denise. Agradeço ao Hélio e Fernando. E espero que o Clube tenha uma vida muito longa. Nosso próximo livro é Cem Anos de Solidão e o encontro será dia 15 de julho em Visconde de Mauá, com 3 leitores visitantes de Salvador.

O Remanescente

Nosso encontro do Clube de Leitura do dia 11 de março de 2017 reuniu muita gente em torno do livro O remanescente de Rafael Cardoso. Quando li o livro fiquei muito impactada, pois essa história tem liames profundos com a minha própria história. Quando uma história se enlaça com a nossa, quando numa grande vertigem somos sugados para dentro de um livro, para um outro espaço – tempo, quando seus personagens se fundem com nossas almas e ossos, então o milagre aconteceu e saímos do lado de lá transformados, porque não há lado de lá ou de cá. Eu estava em Visconde de Mauá, na minha casinha da montanha, acendendo o fogão de lenha. Uma página de jornal na minha mão falava da Berlim de 1920, da Berlim do Nazismo, da Berlim de hoje, tão miscigenada. Não acreditei na coincidência. Personagens que estavam na festa que abre o livro em julho de 1930, estavam no artigo. Resolvi guardar o jornal e abrir o nosso debate com a sua leitura. Propus discutirmos o livro por cenas ou acontecimentos. Mas Cristiane disse, não! Antes preciso ler as últimas frases do Prelúdio. No prelúdio o autor conta como foi atropelado por sua história familiar quando soube que seus avós não eram franceses, mas sim alemães. Então Cristiane leu: “ Palavras podem conter imagens. Imagens podem ter significados múltiplos. Tudo pode não ser bem o que parece. Este livro não é um simples inventário de achados, mas o memorial da enxada que revira a terra escura do passado”. Eu mesma contei um pouco da minha infância. A tristeza que foi viver numa casa de imigrantes. Meus pais também vieram de navio. E eu nunca fiz as perguntas que hoje estão na ponta da minha língua, mas não há papéis para decifrar, eles estão mortos, morrerei também sem as respostas. Laís e Sarita falaram a mesma coisa. Elas também filhas de imigrantes judeus poloneses. Então começamos com a primeira cena do livro. Uma festa magnífica na casa do Hugo Simon, banqueiro, homem sensível, socialista, judeu alemão totalmente assimilado, mecenas, culto, um homem verdadeiramente extraordinário, cercado pela nata da inteligência alemã. Filósofos, pintores, cientistas. Estamos em abril de 1930. Gertrudes sua mulher é uma anfitriã perfeita. O casal está vivendo o esplendor, que logo, se estilhaçará em mil pedaços. Como os vidros, na noite de cristal. Passamos para a cena do restaurante onde estão Demeter e Ursula e onde pela primeira vez nos defrontamos com um nazista de carne e osso. O primeiro ovo da serpente. Este nazista reage violentamente a um beijo entre duas mulheres e Ursula sai em defesa das duas de uma maneira magnífica e selvagem. Evelyn Kligerman sublinha o quanto esta Ursula se parte e fragiliza com o exílio e o triângulo amoroso que viverá com a irmã. Falamos da fuga. De como Gertrudes já estava com tudo preparado antes de Hugo lhe dizer que fugiriam. Falamos da intuição feminina, mas Andre Murray, meu filho,sublinha que esta mulher que sabia organizar um jantar esplendidamente, sabendo quem deveria sentar-se ao lado de quem, era uma grande estrategista e usa esse talento cada vez em que a linha entre a vida e a morte fica muito tênue. Hector diz que era impressionante como os nazistas nunca estavam a mais de 300 metros dos personagens. Hector nos lembra as origens da II Guerra e fala em como hoje estamos vivendo um momento também tão estranho e perigoso. Falamos da fuga de Paris, de como Demeter, que no começo era um dândi, cresce como ser humano a partir do momento em que não sendo judeu, escolhe ficar com a família, fugir do trem, entrar para a resistência… Gilcilene diz que ficou muito triste do autor não escrever o seu reencontro com a família que conseguiu resgatar. Falamos da chegada no Brasil. Do medo, do pavor de que a identidade original pudesse vir à tona. Falamos do Estado Novo. Laís nos diz que o livro nos torna melhores, e que para além de todos os ismos o que conta é a bondade humana, a capacidade que o ser humano tem de se reinventar, de cair e levantar. Falamos do milagre da amizade entre Hugo e Bernanos. Do suicídio de Walter Benjamin e Setephan Zweig. Cristiano conta que Walter Benjamin já estava convidado para dar aulas no Brasil. Falamos do encontro lindo entre Demeter e Lasar Ségall debaixo da chuva. Do desejo latente todo o tempo de revelar a identidade oculta, que lateja e dói muito. Evelyn sublinha que hoje por um nada nos derrubamos e imagina o que esses imigrantes passaram, como tiveram que cair e se levantar e seguir em frente, num exílio em espiral que nunca termina, pois ao exílio de fora corresponde um exílio interno, um vagar para sempre. Imaginem, dissemos todos, os deslocados e exilados de hoje. E assim fechamos o encontro deste livro absolutamente maravilhoso. Lemos em voz alta alguns poemas do Gullar. Delma deu um show com o poema que escolheu. O almoço esteve esplêndido, um coq au vin, preparado com tanto amor por meu filho Chef André Murray. Uma torta de chocolate para os aniversariantes feita pela minha nora Daniela Keiko Takahagui Murray. Livros foram sorteados. E Rivka nos contou que está criando junto com uma amiga, um Clube de Leitura em Teresópolis. Eu só lembrei: Mas não pode faltar comida! E Rivka disse um ditado em hebraico, que sem pão não há Torá…

E-books

Agora estou focada nos meus e books. Sinto uma energia tão grande nesse projeto que parece que vou partir para uma grande viagem, rumo a um planeta desconhecido. Não consigo publicar meus poemas dirigidos ao público, digamos, adulto. Nenhuma editora se interessa. Então resolvi publicar as minhas coletâneas em formato digital , sem nenhum lucro. Qualquer pessoa pode acessar gratuitamente. Mas, para não perder a dignidade, mandei fazer 50 exemplares da coletânea DELÍRIOS,, numa edição artesanal, com técnica do século XVII, por Domingo Gonzáles, o que me provoca uma grande alegria. Imagino que poderiam ter sido produzidos na pequena gráfica onde trabalhava Natanael, maravilhoso personagem do livro Como a Água que Corre, da Marguetite Yourcenar, que lemos no Clube. E assim, apago as fronteiras do tempo, apago as fronteiras entre realidade e ficção. O livro em papel ficou lindo. Mas a edição digital será maravilhosa também, com desenhos feitos em cerâmica pela minha irmã Evelyn Kligerman. Em dezembro estará accessível. E então aconteceu uma alegria inesperada, já que a vida é uma caixinha de música, mas ao contrário das caixinhas com a bailarina aprisionada para sempre nos mesmos acordes, a música nunca se repete: Joana Cavalcânti me convidou para a inauguração da sua Casa Azul, em Recife. E aí vou apresentar meu livro novo, Delírios, com a voz do William Amorim, grande amigo, psicanalista e escritor, que fala poesia lindamente. Ele irá de São Luis ao Recife especialmente para isso e para dividirmos o palco na Fundaj, num evento lindo para professores . Depois farei um lançamento do Delírios em Mauá, no Babel Restaurante do meu filho André Murray e então, quem sabe terei novamente a voz do William e a presença da Joana. Vou dando corda na minha caixinha.

Com Ginzburg e Calvino

Ontem me dei conta de que nosso Clube de Leitura da Casa Amarela já tem seis anos. Sei porque meu grande e amado amigo Latuf, que foi embora para Pasárgada em 2010, estava vivo quando fizemos nosso primeiro encontro. Acho que agora não há mais perigo do Clube se desmanchar no ar, sempre tive esse medo. Desde criança achava que ninguém viria nos meus aniversários e que claro, iriam se esquecer de mim. Mas os laços que a literatura cria entre as pessoas são impressionantes. E cada vez mais gente quer vir ao nosso encontro. Ontem recebemos cinco pessoas novas. A casa estava lotada. E me trouxeram muitos presentes! Tortas, vinho, geleias, licores. O livro As Pequenas Virtudes, que chegou nas minhas mãos inesperadamente numa tarde em Salvador, pelas mãos da minha amiga Verbena, deixou todo mundo emocionado, extasiado. São crônicas. O livro se divide em duas partes. A primeira, bastante autobiográfica, a segunda, como sublinhou Maria Clara, mais ensaística. Fomos passando crônica por crônica. Falamos do exílio e da memória. Da escrita maravilhosa da Natália. Máximo Tarantini, italiano, nos falou das distâncias naquela época. Então, quando a família estava exilada em Abruzzo, escondida, durante a guerra, além da sensação de exílio, pois haviam abandonado a própria casa, os amigos, a família, tudo o que amavam, havia a dificuldade de se chegar até lá. Não é como hoje, diz Maximo, quando se vai de Roma a Abruzzo em quarenta minutos. Rafael falou de Proust para falar da memória. Cristiano lembrou que a cantiga infantil que Natália ouvia em Abruzzo era um prenúncio da morte do seu marido, como se anunciasse o seu assassinato. Cada crônica dessa primeira parte, onde ela fala da sua vida, tem a sua cor. Uma nostalgia que é como um vento triste, às vezes muito humor, como quando ela fala da sua estadia na Inglaterra, ou da sua relação com o segundo marido. Em outra crônica Natália conta a amizade com Cesare Pavese, autor premiadíssimo. É o mais belo tratado sobre a amizade: ela não esconde nada do gênio dificílimo do amigo, das suas manias e esquisitices, mas com suas palavras ela vai untando o amigo com uma camada espessa de amor, quase um unguento. Até o desfecho , o seu suicídio, pensado e preparado, num mês quente de agosto, num hotel em Turim, a sua cidade natal. Li um poema belíssimo do Pavese. Máximo nos lembrou que o suicídio naquela época era uma filosofia de vida. Cesare dizia que a única liberdade que o homem tinha era a de escolher o momento de sair da vida. Lembramos que anos mais tarde Primo Levi também se matou. Na crônica sapatos rotos falamos da liberdade . Da importância de ter uma infância sólida, com sapatos fortes, para que no futuro se possa fazer belas escolhas, inclusive a de andar com sapatos rotos, uma metáfora maravilhosa. Gilcilene nos disse que As Pequenas Virtudes, crônica maravilhosa sobre as Pequenas e Grandes Virtudes, trouxe de volta seu pai, pela relação desprendida que ele tinha com o dinheiro. Falamos um pouco sobre o significado do dinheiro. Denise e Chico disseram que a crônica fez com que repensassem muitas atitudes com os filhos. A paixão de todos foi a crônica Meu Ofício, que no caso de Natália era a escrita, mas suas considerações valem para qualquer ofício. Em nosso Clube temos contadores, advogados, professores, um médico, Dr. Messias, comerciantes,poetas e cada um se viu nesta crônica, Todos sublinharam como Natália trabalha o tempo todo com luz e sombra, Messias disse que ela traz para a sua escrita todas as nuances do ser humano, todas as suas faces. Ao passar para Calvino, Marcovaldo, Cristiano disse que nem parecia o mesmo escritor das Cidades Invisíveis (que já lemos no clube).Mas a sua escrita maravilhosa é sempre a mesma. Propus que cada um falasse o que quisesse sobre qualquer episódio. E que maravilha de considerações. Cristiano definiu Marcovaldo: uma mistura de Chaplin com D.Quixote. Ou foi Maria Clara, não tenho certeza.. Íamos nos lembrando e rindo e amando relembrar. Máximo disse algo muito interessante. Depois da Guerra a Itália se uniu e perdoou. Todos se perdoaram querendo olhar para o futuro. Marcovaldo fazia parte deste momento. Falamos da sua busca pela beleza, pela natureza, quando a Itália deixava de ser agrária para ser industrial. Acho que Marcovaldo, apesar da sua condição de extrema pobreza, da consciência que tinha dessa pobreza, da sua vida miserável, não desistia de tentar viver poeticamente: aí reside a sua maravilha. O seu olhar buscava os caminhos para chegar até o fio que divide a dureza da vida, da experiência poética. Alguns leram poemas da Emily Dickinson. Ronaldo e Ana cantaram: alimento.antes do almoço. Fiz tabule, um arroz cremoso com frango desfiado e um arroz bem mediterrâneo com atum. Cantamos parabéns para os aniversariantes, Samuel, nosso caseiro, Angela e Fernando. Vinho branco e vinho tinto. Meus pães. Cada um ganhou um livro do Juan autografado, O Amor Impossível, longa entrevista com Saramago. O livro é maravilhoso e está saindo do catálogo da Manati. Se alguém tiver interesse pode encomendar na editora. Angela trouxe livros para sortear e Máximo também. Nosso próximo encontro será dia 7 de maio. Os livros: O Memorial de Maria Moura de Raquel de Queiróz e O Compadre de Ogum de Jorge Amado. Poemas do Quintana.

Peru de Natal

Uma vez ao ano o encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela acontece no sítio de dois leitores, na zona rural de Saquarema, na frente da lagoa, um lugar de indescritível beleza. O primeiro encontro seria na nossa casa de onde saímos em caravana. O caminho até lá já é absolutamente deslumbrante. Ao chegar fui saudada ruidosamente por um peru, em homenagem ao conto do Mário de Andrade. Os donos da casa avisaram: não parem os carros debaixo das mangueiras carregadas! Fui de carona com a Adelaide Vidal, pois não temos carro e nunca soube dirigir. Reencontrei Rafael Santana, que foi amigo do meu amigo Latuf, que ao partir para a Via Láctea com seus livros, me deixou órfã. Rafael Santana é professor titular da UFRJ de literatura e agora entrou para o Clube. Trouxe um pedaço do Latuf, que era seu orientador. Máximo Tarantini, cineasta italiano que vive alguns meses em Saquarema, também é um novo membro do Clube, assim como Paulo Luiz Oliveira, que publicou o livro Tamoios, a presença dos índios na nossa região. Começamos o encontro com o Conto de Natal do Dickens, numa discussão acalorada. Cristiano Mota Mendes lembrou que no século XIX o ocultismo estava na moda, o que de certa moda explicaria a aparição do fantasma do sócio Marley. Falou também da critica social que Dickens faz. Norma Estrela falou de Cronos. Ronaldo falou que astroógicamente Scrooge era um saturniano. Afinal todos concordamos que apesar de não sermos leitores do século XIX e às vezes o conto soar estranho aos nossos ouvidos, o que fica é a transformação de um ser humano, para que assim ajude a transformar uma sociedade tão cruel. Passamos para o maravilhoso Peru de Natal do Mário. Falamos da sua irreverência, de como o patriarcado ali se quebra e começa o reino feminino. Rafael trouxe a lembrança das festas pagãs. Fomos tão felizes nesse conto. Estávamos todos nessa mesa de pura alegria. No Presente dos Magos de O.Henry, nos emocionamos com um amor tão singelo e verdadeiro. Afinal os dois, despojados do que tinham de mais precioso materialmente falando,ficaram mais ricos, pois a consciência de terem um ao outro se fortaleceu. No Natal na Barca falamos da barca de Caronte mas também da barca que leva ao novo, falamos da travessia, da fé, de milagres. É um conto forte e belíssimo esse da Lygia. Natal na Terra das Neves nos levou a um lugar tão estranho para nós, tão inóspito. Nesse conto de Jack London, o Natal é a justiça. E a partida na escuridão rumo à luz. Belo conto. Na Missa do Galo as galinhas d’angola gritavam como loucas no jardim! saudando o conto. Novamente a questão da mulher na sombra e como por alguns instantes aquela mulher se ilumina, transborda, seduz. O conto é de um erotismo sutil e magnífico. Muito se falou então de Machado e Mário de Andrade. Para o conto Presepe, a surpresa: Ronaldo tocou no violão uma canção feita para o conto e cantou junto com Ana. Ronaldo Mota nos prometeu vir sempre aos encontros daqui pra frente. Cantaram ainda junto com Cristiano duas músicas do espetáculo teatral Barquinho, pois tinham algo do espírito do Natal. Felipe Lacerda leu um poema do Drummond. Eu li meu poema de Natal e Fernando leu um poema de Natal do Chico Peres. Então fomos para a mesa que ninguém é de ferro. Hélio e Fernando, nossos anfitriões, prepararam a mesa mais linda. Fizemos nosso amigo oculto de livros e poemas. Angela Maria Quintieri cantou com Ronaldo ao violão. Todos do grupo trocamos juras de amor, pois já somos uma família ligada pela literatura.Antonio Antônio Cesar Alves, Fátima Fatima Alves, incansáveis em sua delicadeza, trazem muita alegria ao grupo. E os ausentes Gilcilene Cardoso, Maria Clara, Leila Bialowas, Jose Augusto Messias, Izabella Coutinho estiveram o tempo todo presentes. Teve bolo de aniversário para Felipe, Cristiano e para mim que faço anos dia 27. E fomos felizes para sempre. Ganhamos livros maravilhosos. Lindas escolhas.

Mestres do Amor

Há uma magia e um mistério nos encontros. No Clube de Leitura da Casa Amarela essa maravilhosa alquimia sempre se repete. Ontem discutimos Judas, do Amos Óz e A Última Escala do Velho Cargueiro, do grande escritor colombiano Álvaro Mútis. Cristiano, que foi quem sugeriu a leitura do Judas, não pode vir, mas me escreveu pelo whatsup oferecendo uma chave para o elo entre os dois romances: “ Puxe pelas duas mulheres dos romances. São personagens extraordinárias. Mestres do amor, como Diadorim foi para Riobaldo”. Suzana Vargas sugeriu que um bom começo seria ler um trecho do velho cargueiro. Ela sempre faz isso em seus encontros de leitura. Adorei a idéia e escolhi o primeiro encontro do narrador com o navio, quando vai a Helsinque e quer chegar ao extremo da Finlândia para ver as cúpulas douradas de São Petersburgo. Felipe Lacerda, que voltou ao Clube quase depois de um ano de ausência, leu em voz alta, já que além de ter passado em primeiro lugar no concurso para professor em Duque de Caxias, é ator. Há uma beleza tão imensa nesta cena, é tudo tão absolutamente perfeito, que todos ficamos sem fôlego e a partir daí recontamos o romance que tem dois narradores, já quem um deles conta a história que ouve de outro. E o livro é uma incrível história de amor. E ao unir as duas mulheres dos dois livros ,Warda e Atalia, que são duas mestres do amor, foi possível começar a discutir o Judas, um dos melhores livros que já li na vida. Fizemos a mesma coisa, comecei lendo o primeiro parágrafo: “ Eis aí uma história dos dias de inverno no final de 1959 e início de 1960. Nesta história há erro e desejo, há amor frustrado e certa questão religiosa que ficou aqui sem resposta. Em alguns prédios ainda se reconhecem os sinais da guerra que há dez anos dividiu a cidade. Ao fundo dá para ouvir o toque distante de um acordeão ou os sons nostálgicos de uma gaita ao entardecer, por trás de uma persiana cerrada.” O romance inteiro já está aí, concordamos todos. Neste trecho mínimo Amos Oz já nos joga neste lugar, Jersusalém dos anos 60, já nos situa historicamente, falando das ruínas da Guerra da Independência, e nos fala de erro e desejo, e ao evocar os sons nostálgicos da gaita, também nos fala de memória. E a maior questão do livro que tem muitas e muitas camadas é a traição. Suzana Vargas disse que a epígrafe também diz o livro inteiro: “Eis que corre o traidor na beira do campo. Não ao vivo, mas ao morto que há nele a pedra mirava. Nathan Alterman” Shmuel, o estudante, nos é oferecido em sua inteireza quebrada. Ele perde tudo de uma só vez: a namorada, a mesada dos pais para poder estudar, a irmã que vai para a Itália. Então começa a sua aventura, ao aceitar o emprego de “distrair” e cuidar um pouco do velho intelectual, Guershom Wald. Shmuel escreve sua tese. A de que Judas não era um traidor, mas sim o discípulo que mais amou Jesus. O próprio avô de Shmuel foi considerado traidor pelos israelenses e assassinado, quando na verdade era um agente duplo. O pai de Atalia foi considerado um traidor, pois antes da Declaração do Estado de Israel pela ONU, ele pregava um não Estado, com árabes e israelenses vivendo juntos e misturados, sem fronteiras. Ele, como um profeta, já previa a carnificina futura. Então Amos Óz, concordamos todos, desarruma o conceito de traição. Os traços físicos, o cheiro de cada personagem é tantas vezes reforçado, que eles saem do livro e estão ali, bem diante dos nossos olhos, de carne e osso. Suzana Vargas mos diz que Amós Oz parece que escreve fazendo cinema. Gilcilene fez um depoimento lindíssimo. Ela disse que a cada encontro do livro seus preconceitos são destruídos, há uma desconstrução de tantas idéias preconcebidas que ela tinha. Fernando, Helio, Cesar, Flora, tantos falaram sobre a traição de Judas, e do que seria o mundo e o cristianismo se o judaísmo tivesse aceito Jesus. Shmuel , em sua tese, sustenta que, ao contrário, não foi uma traição. Judas não era um traidor. Abravanel não era um traidor, o avô do Shmuel não era um traidor. Falamos todos da beleza e do cuidado que havia entre Shmuel, o estudante e Guershom, o velho. Do cuidado com que Alalia, a mulher misteriosa e inalcançável tem com o estudante, ela, a sua “mestre do amor”. Messias , que não pode vir, também me mandou um whatsup sugerindo: “ Um dos clímax do livro é a carta da irmã!!!! Quase a metonímia do enredo do romance…” Lemos então um trecho da carta, belíssima, da irmã que vai para a Itália e pede ao irmão que não pare de estudar. Na verdade esta é a única relação familiar não destroçada. Maria Clara leu o trecho em que Guershom fala que Atalia, sua nora é sua “Koná”, que no hebraico contemporâneo, feminino de “koné”, quer dizer compradora, mas no hebraico bíblico tem o sentido de criador e dono. Assim, Atália era a sua “dona”. E foi impossível esgotar todas as maravilhas do livro que merece uma segunda leitura, uma terceira. Assim, de literatura, pão e vinho, a amizade de todos do grupo, a cada encontro se alimenta e fortalece. O almoço estava magnífico.

Miguilim

Receber Miguilim em nossa casa foi uma experiência única e maravilhosa. Este encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela foi especial pois festejávamos também o aniversário do Juan. Amigos mais do que amigos chegaram cedo do Rio e a varanda já estava arrumada para o almoço com as mesinhas que alugo cobertas com as lindas toalhas de chitão florido. A varanda fica parecendo um imenso jardim. Um pão acabava de sair do forno quando chegaram Messias , Kátia e Monique. Fizemos um botequinzinho com café e pão quente com queijo. E logo chegaram Cristiano, Ana e Ronaldo com seu violão para as muitas surpresas. O botequim foi crescendo. Chegaram Norma Estrela e Dirceu. Chegaram César e Fátima. E finalmente chegaram Hélio e Fernando, Chico, Gil. Entramos, nos sentamos. Quis começar pelo fim, marcando a nova data e indicando os livros: Dia 10 de outubro. Judas, do Amoz Oz e A Última escala do Velho Cargueiro do Alvaro Mutis.Li a linda carta da Professora Zete. Cristiano que estuda Guimarães Rosa desde a sua juventude, também fez a proposta de começar pelo fim. Mas eu não resisti e quis falar só um pouquinho do começo, quando Miguilim traz para a sua mãe o grande presente: alguém lhe disse, na sua viagem com Tio Terez, que o Mutum é bonito. E como ele queria levar esta frase de presente para a sua mãe! Assim ela não ficaria mais triste suspirando pelos cantos! E ela nem ligou, aprisionada que estava naquele lugar, naquele triângulo amoroso que Miguilim e seu irmão Dito intuíam. Mas Cristiano puxou o fio para o fim, para o médico que traz os óculos e finalmente Miguilim pode ver tudo e finalmente pode ir embora, a promessa que fez lá atrás quando Dito havia lhe ensinado que pagar uma promessa antes do pedido ser realizado é muito bom. Os óculos são o seu ritual de passagem. Messias falou um pouco dos rituais de passagem em algumas culturas. Chico e César falaram que o livro contava a infância deles. Messias contou que seu tio tinha uma fazenda onde passava a infância que era perto realmente do Mutum. E que ele havia vivido aquelas maravilhas. Gil falou que o livro também era a sua infância no interior do Maranhão. Ronaldo cantou uma música que ele fez para um espetáculo que faz a síntese do livro e fala lindamente do Miguilim não é alegre e não é triste. Nos apaixonamos pela música e cantamos o refrão. Maria Clara leu um poema que fez, lindíssimo, sobre o Miguilim. Falamos um pouco sobre tudo, a sensibilidade das crianças, o amor entre os irmãos, a morte do Dito, o ritual que a preta velha Mãiitina faz com Miguilim, a sensualidade da mãe, a tragédia da família. Seria Miguilim filho do Tio Terez? Falamos um pouco de cada personagem. Todos falaram que ninguém no mundo jamais descreveu a natureza como Guimarães Rosa . Cores, cheiros, animais, sensações. Todos nós vivemos no Mutum enquanto líamos o livro. E eu confesso que jamais sairei de lá. Assim como passei a minha infância no Sítio do Pica Pau Amarelo, agora vivo para sempre no Mutum, dentro das suas matas. Nas suas veredas. Juan , que passou a sua infância numa aldeia pobre no interior da Galícia , disse que dentro do livro estava em casa, pois foi aquilo que viveu. E lembrou que antigamente as crianças viviam no mundo real. Tocavam as coisas, viam a vida acontecer e morrer e que hoje vivem no mundo virtual. Ainda não temos distanciamento para saber o que é isso. E também disse que ele descreve um mundo que logo acabará, pois 80% da população já saiu do campo para as cidades Devo dizer que nunca li e reli nenhum livro mais belo na minha vida. E que se alguém não leu corra para ler pois ninguém pode viver sem Miguilim. Ana e Ronaldo prepararam uma surpresa para o Juan: cantaram Se Todos fossem iguais a Você.E, do Vinicius. Ana tem uma voz maravilhosa. Todos leram poemas do Vinicius e fechamos o encontro cantando Uma Tarde em Itapuã. Coral do grupo! Vanda preparou a melhor feijoada do mundo. Havia empadão de legumes para quem não come carne. Cantamos parabéns com violão e tudo. E celebrar a vida e a literatura alimenta a nossa chama de vida.

As Cidades Invisíveis

Ontem foi nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela .O dia estava nublado e um pouquinho frio. Às 10 horas. as pessoas começaram a chegar. Nosso grande amigo e nosso médico Messias e Kátia, sua mulher, Cristiano, Ana e Edith vieram do Rio. A Zete chegou de Cabo Frio para onde havia ido visitar uns amigos. E chegaram Hélio, Fernando, Chico, César, Fátima, Maria Clara. Hector e Flora chegaram atrasados trazendo mais um casal: Norma Estrela e não me lembro o nome do seu marido. Por último Gil, gripadíssima. Começo quase pelo final. A Zete trouxe para a nossa roda o seu sotaque baiano e uma fala belíssima: Começou dizendo que sua cidade, Ribeira do Amparo, era invisível e Saquarema para ela também era invisível. E agora as duas eram visíveis, pois ao falar da sua cidade ela passava a existir. E Saquarema agora existia para ela. Para falar sobre as Cidades Invisíveis do Italo Calvino, puxamos muitos fios coloridos. Falamos da sua matriz, a cidade natal de Marco Polo, Veneza, da beleza , da poesia, da delicadeza da escrita, das alucinações, as cidades são todas alucinadas. Falamos dos avessos, da cidade dos mortos, das sombras, das ruínas, da decadência das cidades. Do jogo dos espelhos, da beleza do encontro entre Kublai Khan e Marco Polo, do viajante e do grande Imperador que não se move. Do narrador e do que escuta . E tudo o que é imaginado , fulgura e existe. Falamos da influência de Borges, de Scherazade e por fim falamos sobre o olhar e sobre o tempo. Nas Cidades Invisíveis passado e futuro coexistem, Oriente e Ocidente. Tempo e Espaço. Falamos sobre as megalópolis hoje, a inviabilidades das cidades imensas. A inviabilidade do planeta! E terminamos com o último parágrafo do livro: ” E Polo: _ O inferno dos vivos não é algo que será: se existe, é aquele que está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que no no meio do inferno, não é inferno e preservá-lo e abrir espaço.” Como diz meu neto todas as noites: _ Mamãe, me conta as coisas bonitas. As coisas bonitas são o que acontece de bom na sua vida. Que nosso olhar busque sempre as clareiras que existem dentro do inferno. Juan escreveu um texto belíssimo que leu em espanhol, fazendo um elo entre as cidades invisíveis de Calvino e a Veneza de Marco Polo. Edith leu alto uma crônica do Rubem Braga: Recado ao Senhor 903. Zete leu o poema Perda da Elizabeth Bishop. Maria Clara trouxe uma reportagem de Marcelo Moutinho sobre a origem das crônicas do Rio de Janeiro. Trouxe também a letra de duas músicas . ” O nome da Cidade” de Caetano Veloso, maravilhoso poema que Maria Clara cantou maravilhosamente e “Lamento Sertanejo” de Dominguinhos e Gilberto Gil que cantamos todos juntos. Ana também cantou uma música linda sobre Porto Alegre, a sua cidade. Ana é bibliotecária e cantora. Tem uma voz muito bonita. Depois fomos para a varanda e o almoço estava esplêndido: escondidinho de aipim com carne seca, escondidinho de aipim com abobrinha e gorgonzola, arroz, feijão, couve, salada. Fiz dois pães lindos que foram devidamente devorados com azeite. César trouxe espumante para todos e oferecemos um ótimo vinho argentino, em homenagem ao Hector. Uma torta com o nome do César marcou seu aniversário. E estávamos todos em estado de graça: literatura, amigos, pão, azeite e vinho, comida maravilhosa, a música do mar… Esta é uma lindíssima clareira, com o chão varrido em círculos, onde dançam as fadas.

Morte em Veneza

No último encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela discutimos dois livros que se entrelaçam e são opostos. Marca D’Água de Joseph Brodsky é um mergulho do olhar na beleza, não uma busca pela beleza, pois simplesmente ela está em tudo e o poeta e suas entranhas navegam sem tensão. Se Marca D’Água se passa no inverno, Morte em Veneza de Thomas Mann se passa no verão, num calor que tudo apodrece, até mesmo o mundo interno tão bem construído do personagem escritor. Falamos das premonições, Cristiano lembrou que se em Marca D’Água o poeta é o narrador e personagem, em Morte em Veneza temos o narrador separado do personagem. A busca pela beleza em sua escrita, em sua vida, é cheia de tensão, o escritor nunca relaxa, ele não é um poeta que mergulha que se deixa perder, mas um caçador. Disciplinado, atento e tenso. Sua vida até então é uma arquitetura muito bem construída que começa a ruir já na escolha do seu destino, quando o destino se impõe. E rui definitivamente quando encontra Tadzio, o menino de beleza deslumbrante. Fernando pergunta: ” a sua paixão por Tadzio é homossexual ou apenas a busca da beleza perfeita”? Todos achamos que é uma mistura das duas coisas. Maria Clara fala do mito de Narciso. E diz que o amor homossexual é narcísico, o que gerou muita discussão. Cristiano trouxe dados concretos da vida de Thomas Mann. E falamos do contraste entre a “velhice” do escritor e a extrema juventude de Tadzio, apenas um menino. E como tudo se soma para desembocar na morte. Falamos muito. É um livro muito rico. Magnificamente estruturado. Discutir dois livros tão belos dá fome. Um almoço maravilhoso preparado pela Vanda, nossa caseira, vinho e pão feito em casa (por mim). E no final uma homenagem aos que fizeram ou fariam aniversário. Na verdade, Suzana e Leila, mas muitos também quiseram a homenagem e foi divertido. Cantamos parabéns, e já somos uma família. Próximo encontro: dia 16 de maio às 11hs Livros: As Cidades Invisíveis, Italo Calvino, alguma crônica do Rubem Braga e um poema da Elizabeth Bishop.

Encontro

Ontem aconteceu o nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela. Recebemos uma convidada muito especial: Suzana Vargas, poeta, criadora do espaço Estação das Letras no Rio de Janeiro.E Cristiano Mota Mendes, músico, ator, diretor de teatro, leitor extraordinário, que de vez em quando aparece. O grupo é bastante heterogêneo, o que torna a leitura de um livro extremamente rica, são tantos olhares diferentes . Começamos com Marca D’Água de Joseph Brodsky, que nos leva com seus olhos de poeta por uma Veneza no inverno, que eu achava em preto e branco, mas Maria Clara me chamou a atenção para os dourados delicadíssimos na luz do inverno. Maria Clara também nos diz que pelo fato de ter voltado a Veneza 17 vezes, a intimidade do poeta com os labirintos venezianos o torna quase um ser aquático. Adelaide, Janaína, César e Maria Clara comentaram sobre a dificuldade de entrar no livro e eu diria que há que atravessar o primeiro nevoeiro, pois não é um romance, não é um livro de poemas. É uma divagação, um quase sonho. Hélio diz que é uma prosa poética e romântica. Juan falou sobre dois momentos do livro que também aconteceram com ele em viagens a Veneza. Juan é, como Brodsky, um amante de Veneza, de tal maneira, que Felipe Gonzalez, quando estava no poder, lhe ofereceu o cargo de Cônsul Honorário O passeio de gôndola por uma Veneza desconhecida onde o gondoleiro pediu que se deitasse no fundo do barco e o encontro com a viúva de Ezra Pound. No livro Brodsky faz um passeio impressionante de gôndola à noite. Leila nos diz que fez um passeio de gôndola bem turístico, mas completamente emocionante. Ela encontrou a paz, e também um novo olhar sobre a cidade. Ninguém conhece a origem das gôndolas, diz Juan, e Chico conta das gôndolas em Las Vegas, para mim, algo completamente estranho. Como uma baleia num aquário. Juan completa: ao conhecer uma fábrica de gôndolas em Veneza, lhe contam que os maiores compradores são americanos. Angela e Helio leram trechos belíssimos. Todos falamos sobre a beleza que o olho encontra naturalmente em cada lugar que pousa. Assim também a escrita de Brodsky, maravilhosa. Falamos dos espelhos e da água. Da água calma e lacustre e então passamos para o mar, para Veneza no verão, para Morte em Veneza. Continuo amanhã a nossa viagem.