Hebe Coimbra – Diário da Montanha

Oi Roseana, O Diário da Montanha é simplesmente maravilhoso, por tudo, mas principalmente por seus esquilos e jacus, cada um com seu estilo; pelos poemas Horizonte e Moldura. Nossa, que deslumbramento! Hebe Coimbra Hebe Coimbra

Affonso Romano – Carteira de Identidade

Roseana, sua poesia é essa “Carteira de Identidade” que te permite cruzar todas as fronteiras, do local ao universal. Abre janelas para dentro e para fora, é física e metafísica. E sem as complicações que outros cultivam. E é um diário de sua alma. Parabéns. Assim te ” identifiquei “melhor, abraço, Affonso Romano

Poemas Para Ler na Escola – Arnoldo de Souza, médico e poeta

Querida Roseana. Desculpe a demora em lhe responder, mas além de outras múltiplas tarefas e viagens, esta se deu pelo fato de ter lido e relido o seu livro, suavemente, literalmente me deliciando, pois dessa vez você se superou, com uma poesia que não é sòmente para ler em casa e sim em cada lugar onde se possa ir, viajar, viver enfim e comemorar a maravilha do cotidiano. Em você a poesia perpassa todos os reinos e hierarquias. Ela é mineral, pois densa e seca as vezes , como as pedras, com relevos inéditos em sua geografia. É etérica pois esbanja vitalidade , numa torrrente , avalanche , numa verdadeira enchente , desaguando versos em grande velocidade. É anímica ou astral, pois traz consigo um poço de desejos e tormentas revelado as vezes de forma sutil , outras de forma explícita , mas sempre com ritmo e harmonia singulares e de incrível riqueza. E , por fim , emana profunda da consciência, da verdadeira intimidade do Eu, trazida em parceria com o sentimento do mundo e de suas cercanias. Como disse, dessa vez você se superou , com uma poesia , eu diria, quântica, alternando ondas e partículas na incerteza dos caminhos da energia, num oceano cósmico de possibilidades e dimensões invisíveis, apenas sentidas por quem a lê. Sim , Poesia pra se ler, pra se ter sempre imanente no fundo oculto de nós mesmos, para que a possamos reler sempre que a vida parecer eclipsarse. Arnoldo de Souza

Berta Lúcia Tagliari Feba

A expressividade da palavra e da imagem no livro O traço e a traça, de Roseana Murray (Livro selecionado para o PNBE 2012 ) Roseana, Os versos do livro O traço e a traça, de Roseana Murray, apresentam a história de traças que comiam os traços das letras dos livros. A autora tem mais de 40 títulos publicados para o público infantil, mas a qualidade literária de seus textos não delimita idade e demonstra atemporalidade, interessando também àqueles para os quais não foram inicialmente pretendidos. Recebeu prêmios concedidos pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), que potencializam sua importância no contexto da literatura infantojuvenil contemporânea. Elma, a ilustradora, é uma “artesã de ternuras”, como diz em seu blog. Além desse, já ilustrou livros de Tatiana Belinky (Acalantos e encantos, Ática, 2009), Rosana Rios (Poesia todo dia, Ave-Maria, 2009) e André Neves (Rabiscos para dias rurais, Cortez, 2009), e tem escrito e ilustrado suas próprias histórias, como A princesa Anastácia (DCL, 2006). O primeiro papel que uma traça comeu apresentava a história de uma cotovia, cujo canto não estava descrito, mas sim seus sonhos feitos de terra e ar. De tanta indigestão essa traça morreu e deu espaço para outra, que comeu uma folha onde havia a história de Maria, que, por sua vez, tinha mania de fazer coleção: “Catava bicho, catava folha, / catava tudo que é porcaria, / caco de pedra, terra macia” (p. 18). A traça, no entanto, comeu toda a coleção de Maria e “acabou igual a outra traça, / bem morta no chão” (p. 21). A morte desta fez entrar em cena mais uma traça, porém em outra história, na de João. Esse momento nos relata que, depois de ter matado a traça com o dedo polegar, João começou a andar pelo livro “assim como quem / não quer nada” (p. 28) até encontrar Maria, “sentada / num canto do pé da página” (p. 28). Com isso, por acharem que este livro já estava “muito chato” (p. 29), os dois decidem ir para outro, a fim de viverem muitas aventuras, como “cabra-cega, esconde-esconde, / pêra-uva-ou-maçã” (p. 30). Esse término concedido à história propicia ao leitor, por um lado, o diálogo entre este texto e todos os outros que na leitura o antecederam, e, por outro, leva-o a imaginar o que podem contar essas novas aventuras em outro livro. O texto poético apresenta muitas qualidades estéticas. A primeira delas refere-se à musicalidade, revelada pelas rimas “havia”, “mania”, “porcaria” e “macia” (p. 18), pelas aliterações nas palavras “TRaÇo” e “TRaÇa” (p. 4, 16), “CanTo” e “CoTovia” (p. 10), pela assonância da vogal “A” em “prAçA” e “trAçA” (p. 13), além do recurso muito frequente em poesias como a repetição “Tinha mais livro, / tinha mais traço / e tinha outra traça, comendo outra folha” (p. 16). Essa reiteração contribui para a ampliação do sentido do texto, uma vez que são somados mais elementos àqueles que já faziam parte da história, como livro, traço, traça e folha de papel. Com isso, o leitor sabe que mesmo com a morte de uma traça de tanto comer, terá a possibilidade de ler novos fatos com indícios parecidos. Uma segunda característica pode ser explicada pela função que o texto de imagem assume ao dialogar com o texto verbal e completá-lo. Um claro exemplo é o verso terminado com reticências (p. 25) e preenchido pela onomatopeia “nhoc, nhoc, nhoc” (p. 25), reproduzida em ponto de cruz sobre o étamine, para imitar o barulho que João ouviu sair de seu segredo guardado debaixo da cama. Outra qualidade, ainda, pode ser explicada pela plurissignificação do texto literário evidente em “Se a traça soubesse / que num papel cabe / mais mundo / do que gente numa praça / será que desistia?” (p. 13), versos que levam o leitor a participar da leitura e a criar imagens de que tudo o que existe ao seu redor Ipotesi, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 171 – 172, jul./dez. 2009 172 pode ser assunto a ser tratado nos livros que a traça comia e, consequentemente, por ser diversificado e em grande quantidade, ela não aguentaria. O efeito de alegria é constituído pelo jogo de palavras e de figuras, ao utilizar recursos linguísticos como os dois pontos nos versos: “Mas a traça não sabia / e foi comendo tudo, / o ninho, o sol, o canto, / os sonhos da cotovia […] e […] acabou desse jeito:” (p. 14). Sem texto verbal para terminar a frase, o leitor precisa imaginar a forma como a traça ficou depois de comer muito ou pode ainda interpretar a ilustração que demonstra uma das possibilidades de sentido para o texto que, simbolicamente, possibilita fazer escolhas de acordo com suas experiências de leitura anteriores e com seus conhecimentos prévios. Ademais, contribuem para a criação desse efeito as imagens que reproduzem tecidos coloridos bordados sobre étamine, lançando ao leitor a vivência de texto literário como uma trama de fios, na qual palavras e imagens se entrelaçam e formam novos significados. Por esses motivos, o livro propicia uma interação lúdica do leitor com a linguagem poética, promovendo a expressão de seus pensamentos e de seus sentimentos, além de possibilitar a visualização da metáfora do texto como um tecido, tanto por meio da organização das palavras no texto-verbal quanto pela composição do texto não-verbal. Outra metáfora que emerge desta produção literária é a do leitor voraz, ou seja, do leitor como um “devorador de livros”, tendo em vista a referência feita à traça que come todos os traços das letras. O poema não menciona a história de João e Maria, mas há uma alusão à narrativa tão conhecida pelas crianças, nutrindo o intertexto tematizado não somente pelo nome das personagens, mas também pela busca do caminho de casa, presente no conto, e pela procura de participação em novos traços do papel, inerente ao texto da escritora. Os recursos desses versos de Murray e

Roseana Murray: poesia para jovens leitores – Vera Maria Tietzmann Silva

Leitores e leituras Uma pergunta que se ouve com certa frequência quando se trabalha com poesia na escola é: existe poesia juvenil? Essa questão requer algumas considerações iniciais. Até pouco tempo, ou se era criança, ou se era adulto – e é assim que vemos os heróis das histórias de fadas, transformando-se de meninos frágeis e desajeitados em homens viris e independentes, quase da noite para o dia. A denominação “juvenil” aponta para o reconhecimento que a adolescência vem tendo como uma fase bem caracterizada na vida. Atualmente existe toda uma produção cultural voltada para o adolescente, assim como uma ampla gama de serviços clínicos e psicológicos especializados que se ocupam dos problemas próprios dessa fase de transição entre a infância e a vida adulta. A ideia de se fazer um tipo especial de texto para o adolescente é relativamente nova. As gerações passadas, que se iniciavam na leitura pelos quadrinhos e livros infantis, passavam às novelas de aventuras e, destas, aos grandes ficcionistas e poetas, fazendo essa transição de modo natural, sem traumas ou dificuldades. Mas isso era assim até os anos 60, quando a leitura se incluía entre as opções de lazer, sem vínculos com a escola. Quando os hormônios promoviam suas mudanças no corpo, e o anseio amoroso ou as dúvidas existenciais avassalavam a mente e inquietavam o coração, meninos e meninas buscavam nos poetas consagrados a voz capaz de expressar em palavras o que eles próprios sentiam. Liam, então, indiscriminadamente poetas clássicos e modernos, portugueses e brasileiros, de Castro Alves a Vinícius, de Camões a Cecília. Não se cogitava a hipótese de existir uma poesia voltada para a adolescência. Nos anos 70, com a expansão editorial e a intensa oferta de livros para a criança e o jovem, esse público passou a ter acesso a uma produção ficcional e poética específica e atraente. Contudo, a presença da literatura infantil e juvenil na escola parece ter acompanhado a divisão das séries, predominando as obras voltadas para a primeira fase do Ensino Fundamental, havendo menos opções para pré-adolescentes e adolescentes. A chamada literatura juvenil, de contornos e limites tão imprecisos quanto os do físico e da mente de seus leitores, sem dúvida existe. Ela vem merecendo a atenção da crítica especializada e já há algum tempo tem servido de corpus de análise de dissertações e teses acadêmicas. Maria Zaira Turchi, que vem orientando pesquisas nessa área, comenta: O gênero juvenil parece estar marcado por uma transitoriedade; melhor dizendo, como o adolescente, a literatura juvenil é um gênero em transição. Essa questão pode ser vista sob dois ângulos: transitoriedade porque a ênfase excessiva em elementos que estão na moda, assuntos e preocupações em evidência entre os jovens, pode fazer a obra envelhecer e tornar-se logo desinteressante ao leitor. Sob outro ângulo, a transitoriedade se manifesta na obra, como Jano, deus bifronte, com duas faces, uma que olha para trás e outra que olha para frente; daí a ambiguidade de alguns textos que suscitam a pergunta: é para jovens ou já é literatura para adultos? (Turchi, 2002, p.29) Ocorre, porém, que uma consulta nos catálogos das editoras logo deixa perceber que sob o rótulo de juvenil há um imenso número de novelas e contos, porém escassos livros de poemas. A faixa de fronteira entre o infantil e o adulto, o reduzido espaço que permeia os dois olhares opostos de Jano, parece estreitar-se ainda mais quando se entra no domínio do poético. Quando livros de poemas declaradamente juvenis existem, sua qualidade estética muitas vezes deixa a desejar, seja pela banalidade do conteúdo, seja pela indigência das soluções formais. Retoma-se, então, a indagação inicial, com uma variação: existe para o jovem algo que possa ser efetivamente chamado de poesia? A poesia e seus estatutos O poeta inglês William Wordsworth (1770-1850) definiu a poesia como “uma emoção relembrada na tranquilidade”, ideia que o teórico italiano Benedetto Croce desdobraria em 1928 ao afirmar que reconhecemos um poema quando “discernimos ao primeiro olhar, constantes e necessários, dois elementos: um complexo de imagens e um sentimento que o anima” (apud Bosi, 2001, p.8). À mola propulsora, que é a emoção, portanto, ele acrescentou um tipo especial de lavor, o da criação de imagens. Costumamos associar o poema à sua peculiar forma gráfica: a de um texto segmentado com ou sem simetria, em fragmentos denominados versos e estrofes, apresentando uma certa regularidade na repetição de pausas, acentos, sons. Mas o que fundamentalmente distingue um poema de um texto em prosa não é a disposição gráfica das palavras sobre o papel, tampouco o recurso intensivo à sonoridade da língua, num jogo de assonâncias, aliterações, rimas e ritmo, porém é antes o seu especial modo de construção, que exige um leitor especial. O leitor de poesia precisa estar atento às peculiares da dicção poética para ser capaz de fruí-la em sua justa medida. Para tanto, ele deve ter o ouvido aguçado para apreciar o jogo das sonoridades que, como a música, evoca sentimentos e sensações, reforçando o que as palavras dizem. E ele precisa ter também a visão desenvolvida, ser capaz de “ver com a imaginação”, visualizar mentalmente em cores, formas e volumes aquilo que as imagens poéticas lhe sugerem. Sim, porque é de fato nas imagens poéticas que se fundamenta a linguagem da poesia. Um texto em prosa se constrói pelo encadeamento de orações, períodos, parágrafos. Um poema, como bem assinalou Croce, se faz com uma constelação de imagens. Ainda assim, não há um divórcio total entre a prosa e a poesia, pois a sintaxe estará presente no poema, e o ficcionista poderá valer-se de imagens ao construir seus textos. Trata-se de uma questão de predominância, não de exclusividade. Enquanto a prosa se guia pela lógica e aciona a mente racional do leitor, a poesia, ao contrário, fala à sua subjetividade, ao seu lado noturno, que ignora o crivo da lógica. Como ocorre com os sonhos, a poesia toca diretamente a emoção do leitor, e a linguagem poética recorre aos mesmos processos da linguagem onírica, transformando o

Salgado Maranhão

Estimada Roseana, ontem tive a satisfação de receber dois livros seus: Carteira de Identidade e Poesia Essencial. E, maravilhado, comecei a ler o primeiro e, como ninguém é de ferro, vou tirando, também, uma casquinha do segundo. Penso que, uma das razões do seu grande sucesso, decorre do fato de você, como poucos entre nós, ter encontrado um registro de linguagem que contempla o adulto e a criança. Aliás, seus poemas não são para crianças, nem para adulto, são só para gente. E belíssimos! Parabéns… Salgado Maranhão

Catálogo de Bolonha

Carteira de identidade Roseana Murray. Illustrations by Elvira Vigna. Lê. 46p. ISBN 9788532907271 In Carteira de identidade (Identity Card), poet Roseana Murray created poems that speak of life, feelings, creation, poetry – they speak of our identity. In free verse, the poems are characterized by melodious sound, play in words, and very light lyricism. Black and white illustrations record subtly outlined fragments here and impressions there. They are drawings that suggest, that impress a feeling, a sensation… Poetry poetry Vento distante Roseana Murray. Illustrations by Martha Werneck. Escrita Fina. 83p. ISBN 9788563877062 A collection of 12 tales told in an atmosphere of fear and terror. Encounters, farewells, reunions, old age, memoirs, and mystery are all present in these stories. Time-honored award-winning poet Roseana Murray shares her prose for the delight of readers. In between the lines, we notice traces of her poetry: condensed ideas and lightness in the narrative. Black and white illustrations inaugurate every tale and introduce an atmosphere of mystery and suspense. (NP)