Clube de Leitura da Casa Amarela
Uma vez por ano o nosso Clube de Leitura da Casa Amarela funciona na casinha branca na montanha. É uma maneira de dividir esse espaço dentro da mata, esse espaço mágico, com amigos, que como eu, amam livros e árvores. Muitos habitantes do Clube não puderam vir, mas recebemos a visita maravilhosa de três baianos. Max, Sara e Fabiane. Vieram de Salvador e Tucano, no Sertão, fizeram essa imensa viagem só para estar aqui. Max e Sara fazem Doutorado sobre leitura e nosso Clube está dentro de suas pesquisas. Karine, que tem um sítio por aqui, veio e tavez leve essa experiência para o Curso de Pedagogia da Faculdade Celso Lisboa, onde é uma das Diretoras. Conversar sobre Cem Anos de Solidão, é tarefa imensa. Por onde se começa? Cem Anos mistura os relatos bíblicos e as 1001 Noites, e o maravilhoso está presente em cada página.E pouco a pouco somos contaminados. Não com a peste da insônia, mas com a peste da beleza. Cem Anos começa e termina com um incesto. Seguimos a trilha dos acontecimentos mais marcantes. Os personagens mais incríveis, as cenas mais inesquecíveis, as que nos assombram por seu extremo grau de beleza. Cem Anos funda seus alicerces na poesia e quando se entra em Macondo se ganha a chave para quase decifrar o tempo e a condição humana. Falamos da circularidade do tempo, de fim e recomeço, de como os mortos de Macondo nos trazem nossos próprios mortos. Macondo, em seu começo, quando Úrsula Iguarán ainda não encontrou a saída e nem trouxe os forasteiros, é a nossa infância, nosso paraíso perdido, onde as coisas ainda não tinham nome. Falamos de Melquíades e seu conhecimento maravilhoso que de certa maneira também funda Macondo. Falamos dos amores desvairados e da extrema beleza da linguagem que nos leva ao céu com Remédios. A beleza feita de palavras que se transformam em cheiros e sons, em imagens tão belas como nunca houve, em pura poesia. Falamos das guerras. Do desatino das guerras , do seu não sentido: a própria materialização da loucura humana. Falamos da nossa pobre América Latina- Macondo em seus estertores. Construção, destruição, reconstrução, vidamortevida, Gabo apaga essas fronteiras. Dois irmãos, César e Chico, trouxeram episódios de sua infância no interior que poderiam estar em Macondo. Cada um entrou em Macondo do seu jeito. E quando a última palavra do pergaminho é decifrada, queremos voltar ao começo e viver tudo outra vez. Agradeço a todos que vieram por todos os meios: ônibus, carro, avião, a pé, de tapete voador: Jose Augusto Messias, Maximiano Martins de Meireles, Fabiane, Sara, Hélio, Fernando, Cesar Alves, Fatima Chico Peres, Denise, Kátia, Salvador Almeida, Karine, Gilcilene Cardosoe seu marido, Evelyn Kligerman. Agradeço ao meu filho Andre Murray que fez a feijoada no Babel Restaurante e a torta sacher dos aniversariantes. Os ausentes estiveram presentes. Cristiano Mota Mendes e Ana e Suzana Vargas que quase vieram. Cristiano com sua Macondo-Maioba. E William Amorim com quem tambem discuti o livro e que gostaria de ter estado aqui, certamente.
E. M. Glycério Salles
Uma escola veio de longe: Escola Municipal Glycério Salles, da cidade de Italva. Quase cinco horas de viagem até aqui, para o nosso Café, Pão e Texto. Mas como descrever a magia que se derramou sobre todos nós desde o minuto em que o ônibus encostou em nossa porta? Uma Professora, ao me abraçar na chegada, me diz: – Estamos realizando um desejo antigo. E recebi presentes da roça: doce de figo, geléias, queijos, kibe (Italva é a cidade do kibe!), uma almofada com meus poemas, avental de cozinha, com meus poemas e um cofre de mármore também com meus poemas! Ganhei também uma orquídea. Fizemos brincadeiras com os poemas. Rimos e dividimos a felicidade deste encontro. Alguns alunos disseram alguns poemas de cor. As crianças correram pelo jardim. E arrumamos as mesas pro almoço como se fosse um restaurante! Todos ajudaram, alunos e professores. Vanda Oliveira , Aline De Oliveira Oliveira e Samuel, meus anjos, foram incansáveis. Samuel acendeu o fogão às 7h da manhã e às 12.30 comemos a feijoada mais perfeita do planeta Terra. Éramos 37 pessoas! Servimos canjica de sobremesa. Depois fomos até o mar. Muitos não conheciam o mar! E então, sessão de autógrafos. E beijos. Devo dizer que os alunos eram maravilhosos. Fruto da dedicação de professores maravilhosos. E como hoje contei a história da Sherazade para eles, a minha sensação agora é a de estar voando num tapete voador. Agradeço a presença da Secretária de Educação de Italva Vera Lane Rodrigues e das professoras absolutamente maravilhosas e amorosas: Elane, Marley, Virginia, Eliane, Vivian, Elisângela,Leila, Si Lopes e Jussara. E esse lindo dia ficará guardado para sempre em nossos corações. Juan Arias falou espanhol com as crianças e elas amaram!!! Vamos fazer uma campanha pelo ensino de espanhol nas escolas municipais? Criança adora aprender línguas.
Café, Pão e Texto
Hoje, na mais bela manhã de outono, recebi um grupo de professores de escolas variadas. Vieram de Cachoeira de Macacu. O café da manhã foi incrivel. Éramos mais de trinta pessoas. Fiz, além do pão, um quibe de beringela e bolo, creme de ricota, mel, tomate ralado, chocolate quente, café com leite. Falamos de leitura e eram professoras e professores apaixonados. Uma professora disse: – Só podemos formar um leitor quando somos leitores. Fui apresentando alguns livros e ao chegar no Quem Vê Cara Não Vê Coração, poemas que fiz a partir de ditados populares, uma jovem me disse que os jovens nào conhecem mais os ditados, pois não os ouviram na infância. Entretanto, dizem: – ” É aquele ditado: Mas em seguida não dizem nada! Mas muitos se lembravam de ditados que ouviam da avó, na roça. Alguns eu não conhecia. Com o livro Cinco Sentidos e Outros, fomos buscando os outros sentidos. Intuição, Compaixão e alguém falou Fé. Mas fé como força, chama vital, o que nos move. E de poema em poema, de assunto em assunto, chegamos ao final. Tivemos também um momento de autógrafos e fotografias. Cansada e feliz. Nunca tive tantos encontros maravilhosos na mesma semana! E ainda por cima, junto com a Professora Jaline Silva, veio sua filha Isabelle para me conhecer e trouxe o cartão mais bonito do mundo. E terça feira será a festa de aniversário de um ano da Sala de Leitura que leva meu nome, na E.M.Clotilde, em Sampaio Correia. Haja coração.
E.M. Marcílio Dias
Quando o ônibus que trazia as crianças e jovens da E.M. Marcílio Dias, de São Gonçalo, encostou na porta da casa, a Diretora Cristina Brito me disse: – Quase não pudemos vir. Hoje houve confronto na Comunidade do Salgueiro, com muito tiroteio Mas a escola faz um trabalho lindo com leitura e acho que este grupo que veio ao meu Café, Pão e Texto está salvo. Falamos sobre todos os temas. Violência, tráfico de drogas, identificação dos jovens com os bandidos, poder, corrupção, injustiça social, miséria em todos os seus sentidos. Falamos sobre amor, paz, compaixão, bondade. Falamos sobre o poder da literatura para nos conhecermos, para fazermos as melhores escolhas. Amanda ganhou um Concurso de contos pelo Município e eu li o seu conto, belíssimo. Contei um pouco da minha vida, dos meus caminhos. Das coisas difíceis que tive que enfrentar e como consegui superar. Tomamos café da manhâ juntos. Fomos à praia ver o mar. Antes de ir embora, uma jovem belíssima me pediu: – Diga alguma coisa que eu possa levar para a minha vida. Eu disse. Ganhei um beijo e um abraço de cada um. Agradeço ao Professor José Leonardo ter me dado essa manhã de presente. Agradeço a luz dos olhos da Cristina e Núbia, por lutarem por essas crianças e jovens com tanto amor. Recebi um presente lindo. Um cabide decorado , meus poemas copiados pelos alunos, pendurados no cabide, com fitas e laços. E que eu possa receber belas notícias dessas pessoas tão lindas que vieram aqui. Que elas escapem da armadilha onde estão aprisionadas e possam voar muito alto.
Clube de Leitura da Casa Amarela
O livro que foi lido para o encontro de maio do Clube de Leitura da Casa Amarela, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, deixou os leitores apaixonados. Foi unãnime . O livro é todo epistolar e o leitor vai montando o quebra cabeça. Na primeira carta sabemos que uma escritora inglesa escreve para seu editor. O ano é 1946. Pós Guerra. E a falta de comida ocupa um grande espaço. A partir disso, Máximo, nosso leitor italiano, cineasta e poeta, contou as suas lembranças do pós guerra. Apesar de ter apenas quatro anos, ele se lembrava de muitas coisas. Seu pai era da Resistência. Ele diz que se lembra do cheiro do pós guerra. Renné falou do seu encanto com a estrutura do livro. De como, através das cartas, vamos montando uma história incrivel, cheia de histórias. Cada carta de cada personagem para a autora vai acrescentando mais um pedacinho. Falamos de como a Sociedade Literária, fruto de um acaso e da imaginação de uma personagem, garante a sobrevivência do grupo. De como a partir da Sociedade Literária os laços de afeto, de amizade entre as pessoas, se tornam vigorosos e espessos. Uma história linda de liberdade e amor. E o humor inglês é absoluto. Apesar de tantas histórias tristíssimas, saimos leves do livro. Essa magia que existe e circula entre as pessoas que leram o mesmo livro e discutem, é palpável e enche o espaço de alegria. Entre os leitores de uma ilha, na época da Segunda Guerra e nós, hoje. Maria Clara e Fernando levantaram a questão: Será que esses personagens existiram? Mas eu acho que isso não importa. O que importa é que acreditamos no que está sendo contado, nos identificamos com os personagens, sonhamos e sofremos junto com eles. Maria Clara deu a ideia: Deixamos um espaço de tempo para que quem quiser possa seduzir o leitor falando de algum livro que tenha amado. Fernando falou de Guerra e Paz. Eu falei do Tempo entre Costuras, de Maria Dueñas. Uma vez por ano nosso encontro acontece numa propriedade rural. Fernando foi um anfitrião maravilhoso. O almoço na varanda era de cinema. Foi um grande encontro. Agradeço aos leitores do Clube que estiveram presentes: Máximo, Renée, Paulo, Adelaide, Ângela, Gil, Bruna, Maria Clara, Flora, Hector, César, Chico, Denise. Agradeço ao Hélio e Fernando. E espero que o Clube tenha uma vida muito longa. Nosso próximo livro é Cem Anos de Solidão e o encontro será dia 15 de julho em Visconde de Mauá, com 3 leitores visitantes de Salvador.
De São Gonçalo para o Café, Pão e texto
Cada encontro do Café, Pão e Texto é único, irrepetível. As professoras de São Gonçalo me trouxeram as mais belas experiências. E a voz de uma adolescente do Ensino Médio, filha de uma professora, desoladora. Seu curriculum não tem literatura, a Biblioteca da Escola é vazia e morta e ninguém da sua sala lê nada. Mas uma professora trabalha com EJA, com jovens infratores e está conseguindo fazer o resgate destes jovens com poesia. Outra professora conta o trabalho de pesquisa que fez para o seu Mestrado ou Doutorado, não sei. Uma roda onde se lia literatura, se pensava, se produzia. De um grupo de quinze, seis morreram porque entraram no tráfico, mas os outros se salvaram. Continuam estudando. Foi muito bom falar, ouvir, trocar tanto. Foi muito bom ler meus poemas, abraçar e ser abraçada. O café estava maravilhoso. A temperatura fantástica e a luz perfeita. Manhã inesquecível.
E. M. Clotilde de Sampaio
Em nosso encontro de hoje, no Café, Pão e Texto, quando recebi a E.M.Clotilde de Sampaio Correia, escola rural, tive uma linda surpresa: todos eram leitores. Pois o critério para a seleção de quem viria era exatamente esse: ser sócio da Sala de Leitura Roseana Murray. Roseléa Olímpio promoveu um Concurso de poesia. Os três vencedores estavam aqui e seus poemas eram lindos. Ganharam um livro autografado de presente: Uma Gata no Coração, Caixinha de Música, Lua Cheia Amarela. Hoje escolhi um caminho diferente para começar o encontro. Falamos de sentimentos. Falamos dos sentimentos bons e dos maus. Enumeramos e demos nome. Falamos de amor, amizade e bondade. E fizemos brincadeiras com meus poemas. E servimos o café da manhã e fomos para o jardim. As crianças eram amorosíssimas. Fui beijada e abraçada um montão de vezes. E tudo era magia . E quase tenho vontade de chorar de tanta beleza.
Sobra Silêncio e Cordas (E Book)
Querida Roseana, entrar en tu página es atravesar un mar de belleza infinita, de palabrs que flotan y trazan las escalas de los sueños y hacen posible todo aquello que hemos deseado con el corazón. Qué felicidad tan grande sentir tu voz tan cerca de la tierra. Y tus Variaciones sobre Silencio y Cuerdas dibujan un tiempo feliz de escuchas y esperas hasta que la musica, el tempo de la espera se transforma en epifanía del sentimiento. Querida Roseana, entrar na tua página é atravessar um mar de beleza infinita, de palavras que flutuam e traçam as escalas dos sonhos e tornam possível tudo aquilo que desejamos com o coração. Que felicidade tão grande sentir a tua voz tão perto da terra. E as tuas Variações sobre Silencio e Cordas desenham um tempo feliz de escutas e esperas, até que a música, o tempo da espera se transformem em epifânia do sentimento. Francisco Jarauta, filósofo espanhol
Café, Pão e Texto
Como se forma um leitor? Hoje tivemos um encontro aqui na Casa Amarela com jovens do nono ano da E.M.Gustavo Campos. Vieram a pé, com a Professora Sa Lima, da Sala de Leitura e o Professor Rafael. Por mim, caminhadas pela cidade deveriam fazer parte da grade. Para fotografar, para olhar e contar depois o que viram. Dos dezoito alunos cinco se disseram leitores. E frequentadores da Sala de Leitura do Gustavo, que é muito boa. E os outros treze? Então algo precisa ser feito com urgência. Esses jovens ano que vem irão para o Ensino Médio. Acordei e antes de tomar café fiz um pão. Um jovem ficou emocionado e me contou que seu avô foi padeiro e fazia uma broa de milho maravilhosa. Falamos sobre tantas coisas. Mas principalmente sobre o quanto temos que melhorar como seres humanos e o quanto e como a literatura pode ajudar.Uma das alunas leitoras contou o seu envolvimento com um romance. Foi muito bom ela ter contado sua própria experiência. Li poemas. Falamos de identidade e desejos. Foi divertido, agradável, instigante. Eles amaram o jardim e não queriam ir embora nunca mais!
O Remanescente
Nosso encontro do Clube de Leitura do dia 11 de março de 2017 reuniu muita gente em torno do livro O remanescente de Rafael Cardoso. Quando li o livro fiquei muito impactada, pois essa história tem liames profundos com a minha própria história. Quando uma história se enlaça com a nossa, quando numa grande vertigem somos sugados para dentro de um livro, para um outro espaço – tempo, quando seus personagens se fundem com nossas almas e ossos, então o milagre aconteceu e saímos do lado de lá transformados, porque não há lado de lá ou de cá. Eu estava em Visconde de Mauá, na minha casinha da montanha, acendendo o fogão de lenha. Uma página de jornal na minha mão falava da Berlim de 1920, da Berlim do Nazismo, da Berlim de hoje, tão miscigenada. Não acreditei na coincidência. Personagens que estavam na festa que abre o livro em julho de 1930, estavam no artigo. Resolvi guardar o jornal e abrir o nosso debate com a sua leitura. Propus discutirmos o livro por cenas ou acontecimentos. Mas Cristiane disse, não! Antes preciso ler as últimas frases do Prelúdio. No prelúdio o autor conta como foi atropelado por sua história familiar quando soube que seus avós não eram franceses, mas sim alemães. Então Cristiane leu: “ Palavras podem conter imagens. Imagens podem ter significados múltiplos. Tudo pode não ser bem o que parece. Este livro não é um simples inventário de achados, mas o memorial da enxada que revira a terra escura do passado”. Eu mesma contei um pouco da minha infância. A tristeza que foi viver numa casa de imigrantes. Meus pais também vieram de navio. E eu nunca fiz as perguntas que hoje estão na ponta da minha língua, mas não há papéis para decifrar, eles estão mortos, morrerei também sem as respostas. Laís e Sarita falaram a mesma coisa. Elas também filhas de imigrantes judeus poloneses. Então começamos com a primeira cena do livro. Uma festa magnífica na casa do Hugo Simon, banqueiro, homem sensível, socialista, judeu alemão totalmente assimilado, mecenas, culto, um homem verdadeiramente extraordinário, cercado pela nata da inteligência alemã. Filósofos, pintores, cientistas. Estamos em abril de 1930. Gertrudes sua mulher é uma anfitriã perfeita. O casal está vivendo o esplendor, que logo, se estilhaçará em mil pedaços. Como os vidros, na noite de cristal. Passamos para a cena do restaurante onde estão Demeter e Ursula e onde pela primeira vez nos defrontamos com um nazista de carne e osso. O primeiro ovo da serpente. Este nazista reage violentamente a um beijo entre duas mulheres e Ursula sai em defesa das duas de uma maneira magnífica e selvagem. Evelyn Kligerman sublinha o quanto esta Ursula se parte e fragiliza com o exílio e o triângulo amoroso que viverá com a irmã. Falamos da fuga. De como Gertrudes já estava com tudo preparado antes de Hugo lhe dizer que fugiriam. Falamos da intuição feminina, mas Andre Murray, meu filho,sublinha que esta mulher que sabia organizar um jantar esplendidamente, sabendo quem deveria sentar-se ao lado de quem, era uma grande estrategista e usa esse talento cada vez em que a linha entre a vida e a morte fica muito tênue. Hector diz que era impressionante como os nazistas nunca estavam a mais de 300 metros dos personagens. Hector nos lembra as origens da II Guerra e fala em como hoje estamos vivendo um momento também tão estranho e perigoso. Falamos da fuga de Paris, de como Demeter, que no começo era um dândi, cresce como ser humano a partir do momento em que não sendo judeu, escolhe ficar com a família, fugir do trem, entrar para a resistência… Gilcilene diz que ficou muito triste do autor não escrever o seu reencontro com a família que conseguiu resgatar. Falamos da chegada no Brasil. Do medo, do pavor de que a identidade original pudesse vir à tona. Falamos do Estado Novo. Laís nos diz que o livro nos torna melhores, e que para além de todos os ismos o que conta é a bondade humana, a capacidade que o ser humano tem de se reinventar, de cair e levantar. Falamos do milagre da amizade entre Hugo e Bernanos. Do suicídio de Walter Benjamin e Setephan Zweig. Cristiano conta que Walter Benjamin já estava convidado para dar aulas no Brasil. Falamos do encontro lindo entre Demeter e Lasar Ségall debaixo da chuva. Do desejo latente todo o tempo de revelar a identidade oculta, que lateja e dói muito. Evelyn sublinha que hoje por um nada nos derrubamos e imagina o que esses imigrantes passaram, como tiveram que cair e se levantar e seguir em frente, num exílio em espiral que nunca termina, pois ao exílio de fora corresponde um exílio interno, um vagar para sempre. Imaginem, dissemos todos, os deslocados e exilados de hoje. E assim fechamos o encontro deste livro absolutamente maravilhoso. Lemos em voz alta alguns poemas do Gullar. Delma deu um show com o poema que escolheu. O almoço esteve esplêndido, um coq au vin, preparado com tanto amor por meu filho Chef André Murray. Uma torta de chocolate para os aniversariantes feita pela minha nora Daniela Keiko Takahagui Murray. Livros foram sorteados. E Rivka nos contou que está criando junto com uma amiga, um Clube de Leitura em Teresópolis. Eu só lembrei: Mas não pode faltar comida! E Rivka disse um ditado em hebraico, que sem pão não há Torá…