William Amorim
Uma alegria indescritível: chegar em casa e me deparar com um exemplar autografado, trazido pelos correios , do novo e belíssimo livro da poeta Roseana Murray. Poemas para metrônomo e vento é para ser lido com o corpo todo porque cada poema faz do leitor uma partitura viva, como se a poeta orquestrasse o tempo, o compasso e a pulsação musical em que cada um de nossos poros devesse vibrar sob inusitadas epifanias engendradas na beleza e na variação de cada verso. William Amorim Psicanalista
Escola Oga Mitá
O encontro com a turma de professores hoje, da Escola Oga Mitá, foi de vastas emoções. Porque são minhas leitoras e apaixonadas por tudo o que escrevo. Como me disse Ana Ribeiro, eu faço parte da estrutura da escola. Ficamos quase quatro horas reunidas(os) na varanda, (só havia um professor e um motorista, mulheres na educação sempre maioria) primeiro na mesa de café que preparei com amor mesmo, depois numa conversa maravilhosa. Contei o meu percurso desde o começo. Falamos um pouco de tudo. Contei a feitura de vários livros, falei da relação do autor com o ilustrador, com a editora, falamos de livros e educação Oga Mitá é uma escola privilegiada. De dentro dela sairão seres humanos sensíveis e leitores. Uma professora me perguntou se me considero uma educadora. Acho que todos somos de alguma maneira educadores e deseducadores. Foi uma manhã radiante, de pura alegria. E dia 20 de setembro estarei no Oga Mitá.
Escola Municipalizada Onze de Junho
Hoje nosso encontro do Café, Pão e Texto com os professores foi diferente. A Escola Municipalizada Onze de Junho, de Itaboraí, esse ano faz um projeto com os alunos sobre Democracia e queriam ouvir o Juan Arias e seu olhar estrangeiro. Foi um encontro riquíssimo. Juan trouxe a sua vasta experiência de jornalismo: quarenta anos na Itália e no Vaticano como correspondente, alguns anos no franquismo na Espanha, escrevendo com um censor ao lado, seus anos na Rai, televisão italiana e dezenove anos de jornalismo no Brasil. Juan que viveu a Guerra Civil quando criança, que passou anos muito difíceis de pós guerra, fome e ditadura, com tantos anos dedicados ao jornalismo, colocou com muita propriedade, em pauta, as fragilidades da nossa democracia, ( indo primeiro até a Grecia, até a etmologia da palavra) e as nossas esperanças. Foram muitas perguntas. Alguns relatos. Muitos abraços. Um belo café da manhã. Hoje fui ouvinte.
Poemas para metrônomo e vento estabelece, através de um ritmo cadenciado, uma poética sutil do movimento
Por Fernando Andrade Sempre me interessei muito pelos modos de ser da brisa. É porque só a noto em regiões afastadas do civilizado, como matas, sítios, fazendas e florestas, seu principal meio de existência. Talvez pelo silêncio desses locais, possamos estar atentos ao seu loco de existir, que é o breve som de um rumorejar de algum objeto, como o de folhas que balançam em um ritmo compassado. A brisa pode ser disfarçada com um ritmo musical, só não sei que tipo de instrumento sonoro seria e que cordas perpassariam seu sopro, pois a brisa vem da onde? Do amanhecer? Do entardecer? Por que ela está associada à mudança da luz como o escurecer? Sou neto de fazendeiro e me recordo das brisas poentes em Minas, onde o poente vinha junto com o balanço musical das árvores. Por que perpasso a brisa nesta resenha poética? Para me auxiliar em doces verdes das imagens que são árvores-fruto da nossa imaginação e voam ao sabor do vento. Por quê? Toda canção tem um batimento interno, como o pulsar da vida o tem dentro do peito meu-seu. Dizem que para aprender música é necessário um pouco de matemática, pois são cifras e motes cheios de compassos e pausas. Mas, gente, nunca vi nada tão diferente desta arte dos números e linhas do que a poesia, em seu colocar no meio do pensamento, onde se inicia um poema. A brisa sim, não se sabe de onde vem. Assim como o poema, alguém sabe como se materializa? Quando li os poemas da Roseana Murray, no seu mais novo livro Poemas para metrônomo e vento da editora Penalux, pensei que cada espaço em branco tinha um devir de brisa ali balouçando em fuga ou raiz. Fiquei me perguntando como a poeta inicia esses seus poemas, que começam com uma simples palavra-ideia, e vão se formando com uma certa coesão semântica, muito própria da poeta, em misturas de palavras com leveza e peso dentro de suas possibilidades de sentido e som, encarrilhadas como um trilho de um trem que carregasse um tipo de música – um trem melódico – que fosse intenso de azul. O ritmo de algumas canções parece com o de certas fábulas, que funcionam muito mais pelo formato de se compor dentro de contextos, no caso a página de um livro, do que pelos temas que necessariamente perpassariam. Digo melhor, os enredos só acontecem pelo exímio poder de construir frases melódicas encadeadas de forma simples e extremamente alusiva. A poeta, na maioria dos poemas, repete uma determinada palavra poética mas mantendo a ação em curso nas linhas dos versos. É muito interessante notar que os poemas têm poucos temas e sejam coesos como o vento e a cor azul a nortear uma andança poética pela jornada adentro do livro. Pela forte criatividade de Roseana, em trançar imagens e palavras no intercurso do poema, os temas não se tornam nem monótonos nem repetitivos. Parecem gradações de um mesmo matiz, que se esmiúça, poeticamente, indo ao íntimo ou ao ínfimo das coisas.
O voo além da superfície, em Poemas para metrônomo e vento
Alexandra Vieira de Almeida – Escritora e Doutora em Literatura Comparada (UERJ) No novo livro de poemas de Roseana Murray, Poemas para metrônomo e vento (Penalux, 2018), temos um universo semântico que dá coerência à obra e à proposta do livro que é medir o tempo pelas cordas da poesia. O metrônomo, instrumento que mede o andamento musical, juntamente com o vento, este elemento sutil da natureza que por vezes nos arrasta com sua fúria sonora, levam a poeta a dialogar com a progressão, com o ritmo das coisas. Palavras como “luz”, “estrelas”, “azul”, “rio”, “asas”, “sol”, “sombra”, “água”, “fio”, “linha”, “voo” tecem uma rede constante em sua poética. É forte a presença da natureza que se mostra como mosaico temporal das mudanças entre o eu e o mundo. Em Murray, temos o tempo da construção, da arquitetura poética, o tempo de fiação e criação da poiesis. Tudo é ritmo nos seus versos musicais. A aproximação entre poesia e música a partir deste elemento que é o ritmo dá o tom maior no livro desta poeta excepcional. Da mesma forma se dá o paralelismo entre natureza e arte/cultura através da música. Os sons da natureza, deste vento que assovia por entre as linhas dos seus poemas revelam as aproximações entre os dons da natureza e o tempo da poesia. O vento é a força da natureza que espalha/expande tudo e espelha o tempo. A cor azul é central no seu livro. O azul indica imaterialidade, um ir além, um transcender a mera forma. Neste sentido, o ar é elemento importante ao se reportar ao mito de Dédalo e seu filho Ícaro. Dédalo era prisioneiro de Minos e para fugir com seu filho da prisão constrói asas, como exímio arquiteto. Só que ele voa numa altura moderada enquanto Ícaro, por sua soberba, vai além do normal, tendo a cera que prendia as suas asas derretidas pelo sol, levando-o à morte. No poema “O rio invisível”, Roseana Murray tem uma conversa intertextual com este mito. Vejamos: “A música do rio/invisível,/que canta/conduzindo/os navegantes,/os sem rumo,/os perdidos,/os maltrapilhos//Há que ouvir/essa voz distante,/para sair do labirinto.//Há que buscar/as setas/que apontam/o nome:/aquele escrito/com sol.//Só então/a alma pode voar e levar/o corpo/e mesmo que a luz/desfaça suas asas,/será possível enxergar/na escuridão”. Apesar do voo deste imaginário que vai além da forma, Murray tem uma postura de enxergar além do mero cotidiano, com uma poesia que revela o sublime através das asas das palavras, como “sementes aladas”, sua poética inaugura conceitos e chaves para se entender a vida e ultrapassar a mesmice cotidiana. No poema que abre o livro, temos o simbolismo das asas: “Se não temos asas,/temos palavras,/para arrumar o caos/em camadas de azul/e desejos”. Sendo a cor mais sutil da chama, o azul nos apresenta a cor do infinito, àquela observação que ultrapassa o meramente ótico para se fazer o sonho lírico. Algo que se expande de sua ambiência de ser simplesmente visão para se fincar nas entrelinhas do olhar, os pontos vazios que dialogam com o caráter fantasmático do poético que não se quer uma convenção. Em “Os mortos”, temos: “Os mortos/se alimentam/da nossa memória,/sua comida/é o fiar contínuo/dos nossos pensamentos”. Este caráter espectral do poético lança uma rede invisível tecida pela intangibilidade das coisas, paradoxalmente. Murray nos fala dos abismos que as palavras contêm, os seus versos são permeados pelo silêncio da escuta, aquele silenciar que é o tempo de maturação da poesia, o tempo também de degustação do leitor que vai também além do que é visível aos olhos. No livro exemplar sobre os gêneros literários, Conceitos fundamentais da poética, de Emil Staiger, encontramos a recordação lírica, que não é apenas o ingressar do mundo no sujeito. É muito mais do que isso. É o “um-no-outro”, “de modo que se poderia dizer indiferentemente: o poeta recorda a natureza, ou a natureza recorda o poeta”. Neste sentido há uma fusão entre os dois planos, fazendo do sujeito um objeto e deste um avizinhar-se do humano. Vejamos o belíssimo poema “Caminhar sobre as águas”: “Levo o mar/dentro dos olhos/como quem leva/uma fruta na bolsa/variações sobre/todos os tons/do azul.”. Dessa forma, encontramos nos poemas de Murray, uma música na natureza, uma certa culturalização do ambiente, em que noções abstratas como o tempo dançam nos mares da realidade natural. E também há uma certa naturalização da arte, percebendo-se entre ambas, cultura e natureza, os intercâmbios possíveis. Assim temos o voo do poético nesta obra fantástica de Roseana: “nessa cor, nessa música líquida”. Além da intertextualidade que se mostra em seus versos, temos a metalinguagem mesclada com ela num mesmo poema. Vejamos o diálogo com João Cabral de Melo Neto, dando novas asas à poesia dele: “Um verso simples,/ sozinho,/não tece a manhã:/é preciso um galo/e um sol,/nas mãos um sonho/ainda sujo de estrelas,/ainda sujo de infinito./Um verso precisa/de outro verso,/para que seu tecido/vire barco.” É preciso que a intertextualidade e a metalinguagem estejam de mãos dadas para que os efeitos e desdobramentos do poético se enalteçam. E isso Roseana Murray faz de forma maravilhosa, dando tons vibrantes e particulares para outros autores cotejados. O fascínio que Murray tem pelas palavras necessárias e essenciais para a construção de sua rica urdidura lírica faz de seu livro algo luminoso para a verdadeira poesia que deve se pautar pelo mais importante e não se perder em vias de mão única, mas pluralizar os códigos linguísticos por um assunto temático único que se desdobra de forma variada e crescente em sua obra admirável pela sua força poética. Portanto, a sua poesia revela as sutilezas do azul, que ultrapassa o ordinário para se fazer o sublime regado de silêncio e vazio. Sua obra transcende o convencional ao nos apresentar as quebras das diferenças e dicotomias como o intercâmbio entre o natural e o cultural, nos levando a uma altura que vai além das estrelas. Tendo uma poesia original, lírica, bela e essencial, suas vozes artísticas costuram um tecido multifacetado utilizando-se para isso de uma semântica própria que repete certas palavras que
Krishnamurti Goés dos Anjos
Sabemos que o metrônomo é um instrumento que marca o ritmo das músicas. O seu funcionamento é construído para dar suporte a mensuração da passagem do tempo, permite que a música flua com maior organização e expressividade e assim, tempo e música se misturam metaforicamente a tecer a poética de Roseana que se pergunta sobre essa costura de tênues fios: “A linha” “De onde vem / essa linha fina / de costurar poesia? / De qual oriente? / De qual mil e uma / noites, / de qual dia? / De onde a seda / dessa linha / que borda, / que transborda / do papel / para o mar / e o céu? / De que estrela / desconhecida, / de que bicho / da seda?” Abordando temas densos como a solidão, a morte, a angústia, a memória e as perdas, os poemas se sustentam em refinado jogo de linguagem que transparece apenas para revelar o que é simples e delicado no cotidiano que está em todas as coisas, sobretudo no silêncio. Este, visto não somente como necessário à apreensão das verdades da vida, mas, por outro lado, quando precisa ser quebrado. Um ouvido no silêncio e outro no verbo portanto. “Noz” “E se o teu silêncio / se partisse feito uma noz, / um cálice / e se fizesse música, / e rumor de um rio, / de um riso, / de passos sobre folhas / secas, / de fio de luz / esgarçando a noite, / ou chuva. / E se o teu silêncio / se abrisse / e desvendasse / uma escrita tão antiga, / perdida?” A autora segue despertando verdadeiras epifanias, veja-se a profundidade existencial de um poema como: “O que te espera” “Ancorado no cais / da palavra / um barco te espera, / um rio te espera, / no azul da montanha, / um oásis te espera / na orla do deserto, / uma miragem / te espera / na superfície da vigília, / a vida te espera, / o assombro, / o espanto” E sempre um retorno ao fundamental da vida. “As mãos” nos faz relembrar o pensamento de Octavio Paz. “As palavras chegam e se juntam sem que ninguém as chame; e essas reuniões e separações […] são regidas por uma ordem de afinidades e repulsões. As palavras se juntam e se separam atendendo a certos princípios rítmicos”. “As mãos querem / música / quando abrem / a caixa da vida / para que a noite / escreva estrelas / cadentes / e o dia o seu trigo, / seus girassóis. / As mãos querem / a água do poço / das palavras / que voam”. Em outro poema, “Pasto”, a poeta cria por analogia. Seu modelo é o ritmo que move o poema, palavras em estado de abundância verbal, corrente rítmica que se manifesta em imagens e não em conceitos. “Em meu pasto / de palavras, / por debaixo / da terra, / onde correm / profundos / os veios de água, / os veios do que / pode e não pode / ser dito, / onde uma luz / às vezes sombra / acende a música / oculta dos sentidos, / cavalos se aquietam / diante do abismo, / onde caem as horas” E mais uma vez, e aprofundando o que já fora dito, o poema “O rio invisível” revela o talento da autora que se volta para perceber a poesia contida desde um simples rio, ao sol. “A musica do rio / invisível, / que canta / conduzindo / os navegantes, / os sem rumo, / os perdidos, / os maltrapilhos. / Há que ouvir / essa voz distante, / para sair / do labirinto. / Há que buscar / as setas / que apontam / o nome: / aquele escrito / com o sol. / Só então / a alma pode / voar e levar / o corpo / e mesmo que a luz / desfaça suas asas, / será possível enxergar / na escuridão Uma obra como “Poemas para metrônomo e vento” ajuda-nos a ascender a novas fases de consciência. Inebria-nos com o cântico das grandes leis da vida, nos faz voar, leve, rápido, distilando intelectualidade mas, num sentido de orientação. Desperta afinal, ressonâncias noutras almas e isso já é muito. O mundo hoje, mais do que nunca tem necessidade destas revelações íntimas. Precisa destas afirmações de espiritualidade, necessita de quem grite, em tempos de materialismo e egoísmo desenfreados, a grande palavra da alma; de quem dê, em tempos de apatia e indiferença, exemplo de fé; de quem repita, as grandes verdades esquecidas. Confiram detidamente isto, e outras coisas bem próximas, em poemas como: “Geografia”, “Para caber no corpo”, “Nas paredes”, “A chave”, “Voo”, “Viajante” e finalmente “Vazio”, que transcrevemos: “Antes quase no começo / do mundo, / quando as estrelas / diziam o caminho / e os pássaros eram / a fronteira entre / o céu e a terra, / as palavras ainda / buscavam a sua música / e os pés deixavam / a marca indelével / dos que passavam / em busca do que não / tinha nome. / Hoje, o vazio do que / está sempre abarrotado / de tudo / é o abismo onde caímos / todos os dias. / As palavras já não / se entrelaçam, / são ruídos roucos / e inúteis. / Há que reinventar / o tempo. / Largo e liso / feito um lago. / Espelho do que / um dia fomos”. Livro: Poemas para metrônomo e vento – Poesias de Roseana Murray Editora Penalux, Guaratinguetá SP, 2018, 110 p. ISBN: 978-85-5833-323-8
Clube de Leitura da Casa Amarela
A luz do Sertão de Olho D’Água, do romance Outros Cantos, de Maria Valéria Rezende inundou a sala do nosso Clube de Leitura da Casa Amarela. Foram muitas viagens e muitos tempos em nossa viagem. Assim como a personagem Maria, dentro de um ônibus, aos solavancos, volta ao passado numa longa noite atravessada de memórias, cada um de nós se viu enredado nos fios coloridos dessa imensa rede de afetos e acolhimentos, quando Maria, ao ser despejada em seu exílio, na verdade nos leva com seu corpo miúdo a vivenciar a experiência mais bela de amor. Ela, que chega de outros exílios para ensinar, terá que aprender o que não se ensina em nenhuma escola. O livro nos trouxe muitas questões: o excesso de nossa sociedade de consumo, onde o objeto vale mais que a pessoa e o sentimento de infelicidade que isso traz. O contraste com a dureza da vida dessa comunidade onde nada havia, onde a água era o maior tesouro, mas o amor e a aceitação do outro era a verdadeira água. A escassez dá lições de amor. Falamos de como o livro trabalha fortemente com todos os nossos cinco sentidos e sentimentos. Ao abrir a sua caixinha mágica do tesouro, Maria nos faz abrir a nossa e desata a nossa memória, cada um de nós já passou por desertos e exílios. O livro é feito de cenas belíssimas, prontas para um filme. Máximo, nosso leitor cineasta chamou a atenção para a escuridão do ônibus, a sua penumbra. Ao voltar ao passado com a personagem, ao voltar quarenta anos para trás, a luz quase nos cega. Cesar Alves nos contou que cada segundo livre que tinha, corria para o livro. Todos nos apaixonamos por Fátima, a grande mulher do romance. Todos falamos da fé que era a chama da sobrevivência dessa comunidade privada de tudo. E ao entrelaçar o livro de Cineas Santos, Dona Purcina, com o Outros Cantos, a nossa emoção foi verdadeiramente intensa. Dona Purcina nos leva também ao Sertão, mas de uma outra maneira. Marcia Borges nos diz: Maria veio de fora, mas D.Purcina já estava lá dentro. Cinéas nos conta a história dessa menina que se transforma numa mulher extraordinária, que não tinha como estudar, (como os habitantes de Olho D’Água), mas fez o impossível para que seus filhos estudassem. A dureza de sua vida no Sertão e na pequena cidade para onde leva os filhos, vai sendo contada em textos curtos, cheios de poesia e humor, até que ao se olhar no espelho um dia e não mais se reconhecer, sabemos que o livro existe porque Cinéas também precisava construir a sua caixa do tesouro para guardar Dona Purcina. Os dois livros nos emocionaram imensamente. Tivemos muitas pessoas ausentes por motivos diversos e novos leitores chegaram para dividirmos o pão e o vinho em torno de um livro, num ritual magnífico que começou em 2010 e se repete de dois em dois meses. Em julho nosso encontro será em Visconde de Mauá e vamos ler Jacques, o fatalista e seu amo, do Diderot e o poema Liberdade de Paul Éluard.
E.M. Honorina de Carvalho
Recebi hoje a E.M. Honorina de Carvalho, que fica em Pendotiba, Niterói. Chegaram tarde, pois vieram num ônibus escolar comum, que tinha que atender muitos alunos antes. Brincamos com poemas, eu acho que é a melhor maneira de aproximá-los da poesia. Eram da sexta e sétima séries e um menino me disse, na hora de ir embora: – Tia, deixa eu morar com a senhora. Eu perguntei: – Mas e teu pai e tua mãe? Ele respondeu: – Não faz mal, tia, eu prefiro ficar aqui. Outro me disse que era uma honra estar com uma escritora famosa. E uma menina disse que jamais se esqueceria do que viveu hoje. Entre as brincadeiras poéticas eu pedi que me dessem ditados populares. Eles sabiam muitos, eu desconhecia quase todos. Para o meu Poço dos Desejos pedi desejos e o que mais me comoveu foi o desejo deles de que o tráfico acabasse. Desejam um mundo sem policiais e sem traficantes. Muitos querem ser engenheiros, trabalhar com informática, querem ser médicos… Tomara que consigam vencer tantas dificuldades. Pelo menos passamos juntos uma linda manhã de poesia com a Professora Marisa e Professora Vanessa.
Café, pão e texto
As escolas de Saquarema agora possuem um conceito: cada escola é uma “Escola que lê”. Dentro dessa frase mínima vive um universo. Não é necessário fazer mil e um malabarismos. Mas que todos na escola estejam envolvidos nesse grande desafio: o aluno leitor. Nosso Café, Pão e Texto hoje recebeu 25 professores de Salas de Leitura. Conversamos muito e fizemos a leitura compartilhada do conto Mistério em São Cristóvão da Clarice Lispector, que já sei de cor e salteado. Foi maravilhoso. Fiquei surpresa com tantas leituras lindas. E a felicidade no rosto de cada uma (apenas um professor!) ao final da nossa discussão: muitas nunca haviam vivenciado um momento assim. Discutimos muitas coisas. Família, amor, infância, adolescência, a genealogia das mulheres… E agora é verdade: as professoras de Saquarema estão de volta!!!
E-book – Poesia Essencial

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