Por Fernando Andrade
Sempre me interessei muito pelos modos de ser da brisa. É porque só a noto em regiões afastadas do civilizado, como matas, sítios, fazendas e florestas, seu principal meio de existência. Talvez pelo silêncio desses locais, possamos estar atentos ao seu loco de existir, que é o breve som de um rumorejar de algum objeto, como o de folhas que balançam em um ritmo compassado.
A brisa pode ser disfarçada com um ritmo musical, só não sei que tipo de instrumento sonoro seria e que cordas perpassariam seu sopro, pois a brisa vem da onde? Do amanhecer? Do entardecer? Por que ela está associada à mudança da luz como o escurecer? Sou neto de fazendeiro e me recordo das brisas poentes em Minas, onde o poente vinha junto com o balanço musical das árvores.
Por que perpasso a brisa nesta resenha poética? Para me auxiliar em doces verdes das imagens que são árvores-fruto da nossa imaginação e voam ao sabor do vento. Por quê? Toda canção tem um batimento interno, como o pulsar da vida o tem dentro do peito meu-seu. Dizem que para aprender música é necessário um pouco de matemática, pois são cifras e motes cheios de compassos e pausas. Mas, gente, nunca vi nada tão diferente desta arte dos números e linhas do que a poesia, em seu colocar no meio do pensamento, onde se inicia um poema. A brisa sim, não se sabe de onde vem. Assim como o poema, alguém sabe como se materializa?
Quando li os poemas da Roseana Murray, no seu mais novo livro Poemas para metrônomo e vento da editora Penalux, pensei que cada espaço em branco tinha um devir de brisa ali balouçando em fuga ou raiz. Fiquei me perguntando como a poeta inicia esses seus poemas, que começam com uma simples palavra-ideia, e vão se formando com uma certa coesão semântica, muito própria da poeta, em misturas de palavras com leveza e peso dentro de suas possibilidades de sentido e som, encarrilhadas como um trilho de um trem que carregasse um tipo de música – um trem melódico – que fosse intenso de azul.
O ritmo de algumas canções parece com o de certas fábulas, que funcionam muito mais pelo formato de se compor dentro de contextos, no caso a página de um livro, do que pelos temas que necessariamente perpassariam. Digo melhor, os enredos só acontecem pelo exímio poder de construir frases melódicas encadeadas de forma simples e extremamente alusiva. A poeta, na maioria dos poemas, repete uma determinada palavra poética mas mantendo a ação em curso nas linhas dos versos.
É muito interessante notar que os poemas têm poucos temas e sejam coesos como o vento e a cor azul a nortear uma andança poética pela jornada adentro do livro. Pela forte criatividade de Roseana, em trançar imagens e palavras no intercurso do poema, os temas não se tornam nem monótonos nem repetitivos. Parecem gradações de um mesmo matiz, que se esmiúça, poeticamente, indo ao íntimo ou ao ínfimo das coisas.