Ontem foi nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela .O dia estava nublado e um pouquinho frio. Às 10 horas. as pessoas começaram a chegar.
Nosso grande amigo e nosso médico Messias e Kátia, sua mulher, Cristiano, Ana e Edith vieram do Rio.
A Zete chegou de Cabo Frio para onde havia ido visitar uns amigos.
E chegaram Hélio, Fernando, Chico, César, Fátima, Maria Clara. Hector e Flora chegaram atrasados trazendo mais um casal: Norma Estrela e não me lembro o nome do seu marido. Por último Gil, gripadíssima.
Começo quase pelo final. A Zete trouxe para a nossa roda o seu sotaque baiano e uma fala belíssima: Começou dizendo que sua cidade, Ribeira do Amparo, era invisível e Saquarema para ela também era invisível. E agora as duas eram visíveis, pois ao falar da sua cidade ela passava a existir. E Saquarema agora existia para ela.
Para falar sobre as Cidades Invisíveis do Italo Calvino, puxamos muitos fios coloridos. Falamos da sua matriz, a cidade natal de Marco Polo, Veneza, da beleza , da poesia, da delicadeza da escrita, das alucinações, as cidades são todas alucinadas.
Falamos dos avessos, da cidade dos mortos, das sombras, das ruínas, da decadência das cidades. Do jogo dos espelhos, da beleza do encontro entre Kublai Khan e Marco Polo, do viajante e do grande Imperador que não se move. Do narrador e do que escuta . E tudo o que é imaginado , fulgura e existe. Falamos da influência de Borges, de Scherazade e por fim falamos sobre o olhar e sobre o tempo. Nas Cidades Invisíveis passado e futuro coexistem, Oriente e Ocidente. Tempo e Espaço.
Falamos sobre as megalópolis hoje, a inviabilidades das cidades imensas. A inviabilidade do planeta!
E terminamos com o último parágrafo do livro:
” E Polo:
_ O inferno dos vivos não é algo que será: se existe, é aquele que está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que no no meio do inferno, não é inferno e preservá-lo e abrir espaço.”
Como diz meu neto todas as noites: _ Mamãe, me conta as coisas bonitas.
As coisas bonitas são o que acontece de bom na sua vida.
Que nosso olhar busque sempre as clareiras que existem dentro do inferno.
Juan escreveu um texto belíssimo que leu em espanhol, fazendo um elo entre as cidades invisíveis de Calvino e a Veneza de Marco Polo.
Edith leu alto uma crônica do Rubem Braga: Recado ao Senhor 903.
Zete leu o poema Perda da Elizabeth Bishop.
Maria Clara trouxe uma reportagem de Marcelo Moutinho sobre a origem das crônicas do Rio de Janeiro. Trouxe também a letra de duas músicas . ” O nome da Cidade” de Caetano Veloso, maravilhoso poema que Maria Clara cantou maravilhosamente e “Lamento Sertanejo” de Dominguinhos e Gilberto Gil que cantamos todos juntos.
Ana também cantou uma música linda sobre Porto Alegre, a sua cidade. Ana é bibliotecária e cantora. Tem uma voz muito bonita.
Depois fomos para a varanda e o almoço estava esplêndido: escondidinho de aipim com carne seca, escondidinho de aipim com abobrinha e gorgonzola, arroz, feijão, couve, salada. Fiz dois pães lindos que foram devidamente devorados com azeite. César trouxe espumante para todos e oferecemos um ótimo vinho argentino, em homenagem ao Hector.
Uma torta com o nome do César marcou seu aniversário. E estávamos todos em estado de graça: literatura, amigos, pão, azeite e vinho, comida maravilhosa, a música do mar…
Esta é uma lindíssima clareira, com o chão varrido em círculos, onde dançam as fadas.