Ontem, às 8.30h um ônibus escolar parou na minha porta e desceram 25 meninas de camiseta rosa. Maestro Moisés era quem puxava o fio da alegria. Foram direto para o jardim, junto com as coordenadoras das escolas, o músico e João, o namorado do Moisés.Fizeram um arco em volta da goiabeira, onde havia sombra e o músico sentou-se com seu violão na trave da roda de carro de boi que temos no jardim(junto com as rodas, claro, é o seu eixo). O Maestro compôs uma canção lindíssima para a Casa Amarela. Foi absolutamente emocionante. Com todo o calor eu tinha a pele arrepiada de tanta beleza.
Depois as meninas sentaram na grama em cima de colchas e os adultos em bancos e cadeiras. Os cinco jabutis se apaixonaram pelas meninas ou gostaram de ouvir o conto, ficavam andando no meio delas para lá e para cá, principalmente o Godofredo.
Falei um pouco sobre o tempo da ditadura. João contou uma história dessa época, para mim inédita. Ele morava no Sul, numa pequena cidade, com seus pais italianos. Sua mãe não falava português, mas os filhos sim. Só que estava proibido falar na rua qualquer língua estrangeira. Então para ir ao mercado, ela levava um filho e falava no seu ouvido em italiano o que queria e assim podiam comprar. Lembrando que numa cidade pequena não deveria haver supermercado, mas sim uma venda. Li o conto “Lia”, do meu livro Pequenos Contos de Leves Assombros. Quando acabei elas reconstituíram a história e depois entramos mais profundamente no conto. Foi muito bom.
Também preparei uma surpresa para o Maestro. Vanda , minha caseira, fez um imenso bolo de laranja com chocolate e cantamos os parabéns, pois ele havia feito anos poucos dias antes. Fiz pães bem cedinho de manhã, um recheado e outro integral, ´manteiga na mesa, café com leite e suco. Foi uma festa. . Às 11hs o ônibus chegou e se foram todos como uma revoada de pássaros coloridos. Deixaram na casa um rastro luminoso que não se apagará.