O Clube de Leitura da Casa Amarela, uma vez por ano muda de lugar e vai em Caravana, saindo da minha casa, para a Quinta da Harmonia, lugar belíssimo na zona rural de Saquarema, residência de dois leitores.
No dia 14/01 discutimos o livro da Irene Vallejo, O Infinito Em Um Junco.
É um livro que está fincado em mim feito selo, tatuagem, marca indelével.
Entre ensaio, umas leves pitadas de ficção, biografia, memória, tendo como ponto de partida a Mesopotâmia e a invenção da escrita, sem deixar de falar da oralidade, tem o livro como personagem principal, assim como as bibliotecas. O tempo vai e volta feito as ondas aqui nesse mar. Afinal, ler no kindle é ler num pergaminho digital.
O Infinito em um junco me fez sentir a seguinte epifania:
faço parte, nós, leitores, pertencemos a esse clã que desde tão longe, lendo, escrevendo, copiando, publicando, às vezes com risco de vida, somos parentes. Todos os leitores desde sempre são parentes.
Claro que excluo a escrita e leitura abominável, que existe para aviltar e destruir o humano.
Senti esse fluxo, essa corrente, essa torrente, foi como uma iluminação.
As falas de todos foram belíssimas e cada leitor acrescentou tanto.
Nosso Clube é diverso, é colorido.
Evelyn Kligerman , minha irmã, não pode ir, mas escreveu para que eu lesse:
“Me abraço nas primeiras palavras, vagueio pelas ruelas e bibliotecas do mundo ,
E todas as setas indicam o mesmo destino,
Destruição, Ressurreição,
Destruição, Ressurreição. Só que a palavra oral, escrita, impressa , renasce sempre. Lida, ouvida, queimada, vai brotar apesar de todas as barbáries.”
Ler este livro neste momento é imprescindível.
É o que diz o texto acima.
Nos momentos de terror os livros, mesmo quando queimados, são os pilares do recomeço.
Mas também lemos Uma Boneca para Menitinha, da Penélope Martins e Tiago De Melo Andrade , para colocar no Clube uma pitada de maravilhoso. Esse pacto tão possível entre o escritor e o leitor.
Se a boneca fala, a criança acredita sem nenhum problema. E nós adultos? Sabemos transitar do imaginário ao real?
Quis terminar com uma ida até a infância, logo ali, a lindíssima relação entre avós e netos.
O livro dos autores está carregado de símbolos. Fala de amor e perda e reconstrução sempre, que é o leitmotiv da vida.