Desde a década de 70, eu me sentava num cepo em cima do fogão de lenha na casa da D.Maria e Seu Elói, na roça, em Visconde de Mauá, para ouvir histórias.
Sentado do outro lado da cozinha grande, num banco encostado na janela, Seu Elói picava o fumo de rolo, enrolava lentamente um cigarro de palha e falava sem começo-meio-fim, um rio sinuoso de palavras que ia me levando em suas águas, numa linguagem toda própria daquele lugar na montanha, que viveu isolado por tantos e tantos anos e só a partir dos 70 começou a se abrir.
Assim, quando li pela primeira vez Grande Sertão: Veredas, pude entrar, porque já estava acostumada com as narrativas enoveladas do S.Elói, na beira do fogo. Foi de grande ajuda.
No encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela, tendo pouco tempo para conversar sobre um dos livros mais impressionantes da nossa literatura, o único jeito era fazer uma festa, uma celebração.
E foi assim.
Samuel, nosso anjo jardineiro, logo acendeu o fogo do nosso fogão de lenha e arrumou a varanda.
As pessoas foram chegando com vinhos, presentes e a alegria dos dias de festa.
Juan Arias abriu o encontro com a leitura de um artigo publicado recentemente no El País sobre a força da poesia nos momentos tenebrosos.
Cristiano Mota Mendes, o maior dos apaixonados pelo livro que já conheci, foi o leitor guia da discussão, com trechos escolhidos.
Cada um apanha para si o que desejar deste livro absurdamente belo.
Alguns colocaram o foco nos personagens, outros nas guerras, outros no amor de Riobaldo e Diadorim.
Grande Sertão, ao longo dos anos, me ensinou a alegria nos momentos difíceis.
É a lição mais maravilhosa.
Agora, enquanto atravessamos o Liso do Sussuarão, precisamos manter uma certa alegria para não nos perdemos nos nevoeiros da tristeza.
Neste momento temos um Hermógenes no comando.
Neste momento o diabo existe no meio do redemoinho.
Mas o pacto existiu, será?
Houve música. Ronaldo Mota cantou a Canção de Siruiz.
Teve um almoço maravilhoso preparado pela Vanda.
Fiz pães. Lilliam, a filha da Vanda fez um bolo de aniversário para os que fizeram anos até este dia, nos meses de julho e agosto.
Tivemos crianças no encontro.
O amor era a luz da casa.
Cantamos.
O mar cantou.
E recomeçaremos a ler Grande Sertão: Veredas outra vez. Uma e outra vez.
Porque era uma vez um Riobaldo, um Diadorim…