Chovia e o sudoeste varria a varanda. Então seria mesmo impossível servirmos o almoço na varanda.
Mas e será que as pessoas viriam mesmo com esse tempo, para conversarmos sobre o livro Paz e Terra, do Yehuda Amichai?
E como discutiríamos seus poemas?
Fiz um pão bem cedo, busquei verduras e legumes na feirinha da esquina e pensei que o jeito era todo mundo ficar mesmo dentro de casa, se viessem.
E vieram. Só Cristiano Mota Mendes e sua Ana não puderam estar presente.
Até nossa leitora Paula Gomes veio de Brasília para estar no Clube.
Para começar combinamos que cada um escolheria um poema para ler em voz alta e diria o que o poema fez com suas entranhas.
E foi um encontro muito especial, diferente de todos: um poema e outro e outro e a emoção de cada um aflorando, deslizando pela sala, palpável como se fosse um ser vivo.
Amichai fala do que precisamos falar :
Amor, todo tipo de amor, de pais pelos filhos, dos filhos pelos pais, de homens e mulheres, amor pelo outro.
Fala de guerra e de paz, de memória e finitude.
Fala do que somos, demasiadamente humanos.
A sua poesia nos faz melhores.
Vanda fez um almoço divino. Cada um com seu prato no colo, numa comunhão de todos os sentidos. Fernando e Hélio trouxeram o bolo dos aniversariantes e vinhos. César trouxe vinhos e Gil também.
Bruna, que teve um filho faz um mês apenas, trouxe as suas lágrimas, quando leu um poema que fala do pai que leva o filho até o ônibus que o levará para a guerra.
Delma falou do avô que morreu e que lendo o poema
Esquecer alguém
Esquecer alguém é como
esquecer de apagar a luz do quintal
e deixá-la acesa também de dia:
mas isso é também lembrar
pela luz.
ela entendeu que o avô ainda estava ali, em seu quintal e era luz e sempre será.