Para Eunice, um texto corajoso que nos propulsiona a pensar na possibilidade restaurativa do afeto para curar as feridas sociais. A menina branca que aprendeu a amar a mulher preta que a obrigava a comer com o chinelo na mesa, tempos depois revisita a história para se conciliar com as dores da injustiça. Se Eunice deixasse a menina minguar de tão magra, seria ela a única culpada. Junto disso, o filho da empregada crescia longe dos olhos atentos e cuidados de sua mãe. Cuidando das filhas brancas, Eunice se apartava do seu mundo e inventava um tempo e lugar para si e para os inocentes. Eram duas meninas brancas, mas eram duas crianças apenas. Os olhos de Eunice podiam ver tudo como um rio de águas límpidas. O dinheiro pingava, o amor abrandava sua falta. O mais bonito é poder ler uma poeta mulher, mãe, avó, figura pública lida e relida por tantas pessoas, assumindo para si a responsabilidade de dizer: sim, eu aprendi a amar com uma mulher preta, mas foi dela que tiraram o maior amor que sentira, o de seu próprio filho. Triste e belíssimo. Corajoso, acima de tudo. Obrigada, Roseana.
Penélope Martins