Clube da Casa Amarela

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O autismo, para quem nada conhece do tema, é um enigma. Como acordes musicais, o espectro autista varia em intensidade. O autista, para nós, os leigos, é um país desconhecido. Entretanto, pais e mães e irmãos e professoras e professoras, precisam lidar cotidianamente com pessoas que possuem outra maneira de ser.

E eis que de repente me chegou nas mãos um livro magnífico, Arthur, Um Autista No Século XIX, de Maria Cristina Kupfer, psicanalista, grande conhecedora do tema, na história, na teoria e na clínica.

Mas a romancista aqui é soberana. Usa seu conhecimento como arcabouço para o romance que faz estremecer nossos pilares.

Poderíamos chorar rios de surpresa e emoção.

Maria Cristina, já na primeira frase, nos leva com delicadeza para o fim do século XIX.

No dia 3 de outubro de 1891, entramos em Marguerite, uma aristocrata, mulher livre, dona de uma grande propriedade que herdou e admistra sozinha, função absolutamente masculina na época.

” Hoje alcei voo com o sol.
Não imaginava poder realizar algum dia o que os monges do século XIV afirmavam ser a melhor maneira de escrever: acompanhando o nascimento do sol.”

Essa primeira luz, que lhe trará a escrita em forma de diário, é a metáfora do desconhecido que se ilumina.

Arthur entrará na vida desta mulher singular para a sua época e então terá começo a aventura mais extraordinária.

Os personagens são potentes, assim como as situações vividas por Arthur.

O silêncio do menino também é personagem. O silêncio é personagem e é a música que percorre o belíssimo romance.

O Clube de Leitura da Casa Amarela teve no dia 26/06/2022 um dos seus encontros mais impactantes.

Mesmo sem fazer parte do espectro, nos foi oferecido um espelho para um grande mergulho dentro das nossas águas.