Clube de Leitura da Casa Amarela

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Uma sinfonia de vozes maravilhosas, uma orquestra de leituras, que como uma pedrinha que se joga no lago e suas pequenas ondas vão se alargando, assim aconteceu no encontro do dia 12 de dezembro em nossa discussão sobre o livro Despertar os Leões, de Ayelet Gundar-Goshen, uma jovem escritora israelense.

Eram dois livros, o outro, o conto do Balzac, Uma Paixão no Deserto.

O Clube da Casa Amarela agora é uma construção de vozes. Ao invés de tijolos, ferragens, portas e janelas, a casa física se faz em timbres, palavras, ideias.
Ontem passamos quatro horas em dois desertos e abolimos o tempo, abolimos os 200 anos que separam um deserto do outro.

Os dois livros falam de paixão, desejo e morte.

Mas Despertar os Leões vai muito além de paixão e desejo e morte. Em sua trama nos traz questões éticas, a tragédia dos refugiados ilegais, o fosso social entre os visíveis e os invisíveis, a questão das mulheres refugiadas, constantemente violentadas, o trabalho ilegal, quase escravo. Entramos no mundo invisível dos refugiados eritreus em Israel.

É um livro denso, belo.

Fala de um amor que lateja, entre pessoas de dois universos tão desiguais.

Fala do leão selvagem dentro de cada um.

O conto do Balzac fala de uma paixão inesperada, singular.

O olhar sobre o deserto em cada um dos dois livros é muito diferente.

Em Despertar os Leões o deserto é hostil. Em Uma Paixão no Deserto o deserto é belíssimo, de uma dolorosa beleza.

Nos dois desertos, as histórias se passam sob o signo da lua. Sob o feitiço da lua, que estava lá, imutável , pantera de prata, nas duas tramas.

A lua foi a regente do nosso encontro, em pleno sol.

Agradeço aos leitores do Clube de Leitura da Casa Amarela, a cada um, sem o seu amor pelos livros, as quatro horas que passamos juntos seriam muito diferentes. Seriam as horas que passamos em nossos afazeres, muitas vezes sem deixar marcas.

Pela voz de cada um, pelos comentários de cada um, essas horas ficarão para sempre inscritas em nossos corações, nesse tempo duro em que atravessamos um grande deserto cheio de minas e na literatura encontramos alento.