Nosso Clube de Leitura da Casa Amarela se reuniu por zap, durante três horas e meia, para discutirmos Olhos D’Água de Conceição Evaristo.
Em nosso encontro as pessoas já deixam uma gravação pronta, de no máximo três minutos e depois damos um tempo para que todos comentem o que foi ouvido até que entre a próxima gravação.
Com Conceição fechamos uma trilogia de sobreviventes de genocídios, que começou com Anne Frank, que embora tenha morrido pouco antes da guerra acabar, ficou viva para sempre, pois sua voz clara, cristalina , nos chega dos escombros do Holocausto, com sua crença na bondade humana.
Krenac é a voz dos sobreviventes indígenas, do genocídio indígena das Américas e apesar da sua dureza e lucidez, ele nos diz que uma outra maneira de viver é possível, é possível adiar o fim do mundo criando outro.
Conceição é a voz dos sobreviventes do genocídio africano, da crueldade deste país, da monumental injustiça para com os descendentes dos que vieram nos Navios Negreiros.
Conceição, em seus contos de Olhos d’Água coloca em nossos braços a brutalidade do cotidiano da gente brasileira, sem acesso aos direitos mais básicos para que se possa viver com um mínimo de dignidade.
Os contos, embora tantas vezes atravessados por um vento poético, são duríssimos e transbordamos de tristeza por todas estas crianças assassinadas, por todas as mulheres com seus sonhos estilhaçados, por todas as mulheres estupradas, pelos suicídios de quem não tem mais saída, pelas mortes solitárias, por outra vida possível que não acontece porque o país não permite.
É um livro duro. Enche nossos olhos de água.
A discussão foi belíssima.
Felizmente temos no Clube vozes muito variadas e coloridas e também casamentos mistos, de preto com branca, branco com preta e preta com preto e o racismo foi a tônica da discussão, inclusive com depoimentos pessoais.
Felizmente há uma consciência emergindo, novas vozes surgem para denunciar, gritar, escrever.
Sugeri a leitura do livro A Vida Não Me Assusta, de Maya Angelou com pinturas originais de Jean-Michel Basquiat como complemento.
Para o próximo encontro, em 24 de outubro, vamos ler A Hora da Estrela, de Clarice Lispector.