O Clube de Leitura da Casa Amarela hoje foi a Marte.
Nosso foguete era o livro Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury, que indiquei por muitos motivos. É uma belíssima premonição deste nosso tempo, tantos anos antes de que a nossa sociedade capitalista de consumo atingisse esse grau alucinado de destruição dos recursos do planeta.
Todos acharam que o livro era difícil, que para entrar era preciso um grande esforço e quase sempre uma segunda leitura.
Em algumas crônicas dessa colonização de Marte pelo Sapiens, a beleza da linguagem nos leva a uma emoção imensa, há que caminhar pelas páginas com cuidado.
Bradbury consegue criar um contraponto impressionante : o requinte, a sofisticação, a sensibilidade de um povo, que, como sublinhou uma das leitoras, é quase pura luz, com a grosseria e o ímpeto de destruição dos humanos colonizadores.
Esse contraste nos coloca na posição incômoda de nos olharmos no espelho e nos reconhecermos. O autor está falando de Marte, mas está falando do europeu chegando na América e na África para se apossar e destruir. Está falando do Império e de colonizadores e de morte e destruição.
De crônica em crônica, ao chegarmos na última linha, debruçados sobre um canal marciano de águas translúcidas, podemos pescar esperança. Quem sabe depois de tanta destruição possamos recomeçar.
O encontro entre pessoas que amam livros é sempre uma dádiva e a leitura se expande, se enriquece, se alarga. O encontro de pessoas que amam livros é quase como ver Marte intacta outra vez.
Crônicas Marcianas acorda o silêncio que existe em nós, o respeito por quem não sou eu, o desejo de que possamos reconstruir o nosso mundo que se estilhaça. Preservar o que resta.
Lemos belos poemas do Octavio Paz para fechar o encontro.
E dividir o pão, o vinho e a comida é o mais belo ritual.
PS: O próximo encontro será no dia 23 de novembro e o livro é A Rainha Descalça de Ildefonso Falcones.