Há mais de 30 anos saboreio as poesias de Roseana Murray, com meus alunos, com minhas amigas no nosso “círculo de mulheres”:
” quantas mulheres existem
escritas em minhas paredes
secretas como é secreto
um rio correndo dentro da noite.”
Tenho como livro de cabeceira – Paredes Vazadas – hoje esgotado. Leio e releio (são deles os versos que aqui, nesse texto,transcrevo): seus versos me atingem fundo e me fazem emergir como um ser humano melhor.
No início desse ano,trabalhamos,no “círculo de mulheres”,seu poema Genealogia:
” Morro ao contrário e viro minha mãe
ela vinha da Polônia
sem adivinhar que me carregava
em seu destino.”
Mergulhamos em busca de nossas mães, avós, bisavós. E as fizemos ressuscitar em nós mesmas.
Descobri o blog da Roseana e lhe escrevi,contando sobre essa experiência emocionante.Ela respondeu com gentileza.E assim começou nosso contato: ela escrevendo em seu blog,eu comentando,ela respondendo.Ao ler sobre ” O clube de leitura da casa amarela”,eu suspirei: quem me dera poder participar dele.Professores se reúnem,depois de ler o livro indicado e conversam sobre o autor e sua obra. O próximo seria dia 7 de agosto. Eu lhe escrevi sobre minha inveja!Ela me convidou: venha.O livro Quase- Memórias ,de Carlos Heitor Cony,é a senha.
Minha primeira reação: eu? Na casa de Roseana Murray? Quem sou eu!!!!
Minha segunda reação: por que não? “Se existe uma vontade,existe um caminho” – eu tinha escrito na minha página do orkut.Transformei essas palavras em ações.
Iara,minha nora que mora na França ( mulher do meu filho caçula – músico),adora os poemas de
Roseana: eu a apresentei a eles.Escreve sempre no blog dela,também.
– Posso convidar minha Norinha?
– Claro que sim,ela será benvinda.
Assim coloquei em movimento a roda da vida,acionada pelo meu desejo.Iara comprou as passagens de avião( ela estaria no Brasil nessa época,visitando a família),eu agendei com minha irmã caçula-mineira-carioca as aulas de dissertação que daria ao meu sobrinho-afilhado-pré-vestibulando para quase final de julho.Pronto! Lá fui eu,rumo ao Rio de Janeiro.
No dia 7 de agosto,meu cunhado e minha irmã nos levaram até Saquarema,onde mora Roseana e seu marido,o jornalista-escritor Juan Arias.Em duas horas estávamos chegando à cidade turística,cuja atração maior é seu mar bravio.
Às 11,10 h fomos recebidos no portão com um abraço caloroso!Roseana ficava repetindo: você veio,você veio!
A casa é mesmo amarela e fica de frente para o mar.Do segundo andar a vista é deslumbrante: céu e mar se fundem,alegres.
As pessoas foram chegando( o pessoal de Duque de Caxias se perdeu mas chegou a tempo).Sentamo-nos na sala,em círculo: éramos 13 pessoas.A conversa sobre o romance denso e lírico de Cony correu fácil,às vezes alegre,às vezes emotiva,como o próprio livro.Experiências foram trocadas.Lágrimas discretamente enxugadas.Histórias pessoais divididas.Um banquete,do qual me alimentei com entusiasmo e alegria!
Às duas horas nos foi oferecido um almoço na varanda: pão,feito pela dona da casa,tabule e arroz com bacalhau.Sobremesas deliciosas: creme de chocolate e pudim de goiaba com ricota( a minha diabetes foi fechada no fundo da gaveta e esquecida, naqueles momentos).Quando descobri que a cozinheira era de São João del’Rei foi uma festa só: encontrar uma conterrânea em Saquarema e provando sua deliciosa comida!
Depois do cafezinho,Iara nos presenteou,cantando “Lua branca” de Chiquinha Gonzaga.Sua voz cristalina e suave invadiu a tarde,invadiu o coração das pessoas e arrancou lágrimas e histórias compartilhadas.
Evelyn, irmã de Roseana, é artista plástica e esteve o tempo todo conosco,participando com alegria.
No fundo da casa amarela,um jardim.Lá fizemos a sessão de fotos.
Livros de Juan Arias e Roseana foram distribuídos pelos anfitriões.Levei “Um por minuto” de Luís Gustavo ( meu filho mais velho) e coloquei dedicatória para todos: agradecimento pelos momentos perfeitos que dividimos.
Às 15 horas ,como combinado,Fátima e Luís Cláudio vieram nos buscar.Despedidas chorosas!
No caminho de volta ao Rio,só falávamos em Juan,Roseana,Evelyn e todo o grupo de professores.
Em Minas revelei as fotos.Não me canso de olhá-las.Sorrio e faço sempre uma oração de gratidão.E me lembro de um artigo que li,depois que voltei para casa: a vida lhe faz convites inesperados e o que você responde?
Eu disse SIM!SIM! E minha ousadia me proporcionou momentos que viverão em mim.Para sempre!
” Que trem é esse
esse trem da minha vida
que anda por trilhos
de luar e abismo.”