ONG Saúde Criança
Ontem recebemos 20 adolescentes da ONG Saúde Criança para um café da manhã dentro do Projeto Café, Pão e Texto. Chegaram atrasados, pois vieram de longe. Então começamos por onde termino: o café da manhã. Eram lindos e coloridos. Mas muito tímidos. Havia um constrangimento. Nem queriam chegar perto da mesa. Enfim comeram e começamos. Falei para eles do Projeto . Gostaram muito do nome. Dois vieram com camisetas pintadas com meus poemas. Contaram que já me conheciam através da Flávia Lins. Comecei com o livro Quem vê Cara não Vê Coração, pedindo a eles que me dessem ditados populares. Estavam silenciosos mas de repente um falou um ditado e outro e todos! Então lemos alguns poemas e foi aí que se soltaram. Fizemos brincadeiras com os poemas. Eles riram muito. Com o livro Poço dos Desejos cada um me disse um desejo. Poucos disseram não ter nenhum desejo. Mas alguns me falaram desejos belíssimos. Um menino desejava felicidade. Uma menina queria conhecer o mundo. Outra queria morar em Londres e Paris. E um outro queria voar para ser livre. Falei pra eles que para isso há que trabalhar e ajudar os desejos. Depois me fizeram perguntas interessantes e provocadoras. Queriam saber tudo. Duas meninas leram seus próprios poemas. No final todos gritaram bem alto seus nomes numa brincadeira que faço com o poema Receitas de se Olhar no Espelho. Sorteamos livros. E eles foram a praia fazer fotos. Voltaram com os pés sujos de areia e os rostos iluminados. Tinham pela frente uma longa viagem de volta para casa.
Visitas Especiais
Quase ao mesmo tempo, um ônibus escolar encostou hoje pela manhã na porta da minha casa e minha amiga Mônica também trazendo sua amiga francesa, a Monique. Era a E.M. Prefeito Magid Repani, do Município de Magé, pelas mãos da professora Kátia. Todas as professoras eram maravilhosas, tão amorosas, cuidadosas, fantásticas. Primeiro descemos todos ao jardim e contei para eles que o jardim magnífico que temos antes era um areal. Depois, na varanda, no chão forrado com colchas e almofadas, nos bancos, era um jardim de crianças lindas. Fiz com eles brincadeiras com poemas e finalizamos com o livro Carona no Jipe, depois da leitura eles me contavam para onde gostariam de ir. Muitos queriam ir para Londres, Paris, Barcelona, Rio e outros queriam voltar para Magé. Aí a surpresa: Monique, a francesa, trabalha três meses por ano em Burkina Faso na África. Num lugar muito remoto, sem água, sem luz, sem nada, na beira do deserto. Ela foi para lá ajudar a fazer uma escola. E contou tanta coisa, a gente ia traduzindo. Contou que na época da grande fome as crianças comem apenas três vezes por semana. Falou do trabalho na escola, como os pais lhe disseram que ela ajudou a tirar as crianças da escravidão. Falou da dignidade deles, de sua criatividade e beleza. Contou as coisas mas emocionantes e nos mostrou fotos. E pediu para entrelaçar as duas escolas, a de Magé e a de Burkina Faso. Quer que as crianças de um país conheçam a do outro. As crianças tomaram chocolate quente com bolo e sanduichinhos e biscoitos . Foram até o mar. A metade da turma não conhecia o mar. Foi um dos encontros mais emocionantes do mundo. Sorteei alguns livros, Juan autografou e ensinou algumas frases em espanhol para eles. Aprenderam a dizer bonjour! Cada encontro é tão diferente do outro. E me deixa em estado de graça.
Baú de Afetos
Eu não me lembrava, mas logo antes da minha cirurgia uma E.M Rural de Saquarema, a João Machado da Cunha, veio me pedir para participar do Projeto Café, Pão e Texto. Eu expliquei para a professora que era impossível, eu não sabia como iria estar me sentindo. Ela sugeriu então trazer poucas crianças , apenas para uma entrevista, sem o café da manhã. Então concordei e anotei na agenda. Mas eu nunca olho a agenda! E havia mesmo me esquecido completamente. Então ontem, ao me aproximar do portão para ver o mar, um ônibus escolar passou pela minha porta, era pequeno, amarelinho, e dei adeus para as crianças com as mãos. Acontece que o ônibus parou logo adiante , as crianças desceram e vieram para o portão com duas professoras. Eu perguntei: _Gente, marquei alguma coisa com vocês? E elas_ Sim, marcou uma entrevista. Falei: Esqueci!!! Mas improvisaremos um café da manhã. Vou pedir ao Sr.Motorista para comprar pão na padaria. E elas: _ Não, você combinou sem café da manhã. Trouxemos um lanche para fazer um piquenique na praia. Eles entraram e eu pedi para irem todos ao jardim e quem encontrasse um jabuti primeiro ganhava um livro. Dois , um menino e uma menina acharam um jabuti ao mesmo tempo! Depois fizemos uma rodinha com bancos e cadeiras no canto do fogão de lenha e comecei perguntando se a escola tinha horta . Não tem, eles me explicaram que a escola é bem pequena mesmo e não há espaço para uma horta, nem Sala de Leitura. Então perguntei se eles sabiam que uma horta pode mudar pessoas. Eles me olharam com cara de espanto. Perguntei se eles conheciam Nelson Mandela, se já tinham ouvido falar do apartheid na África do Sul. Não, não conheciam Nelson Mandela, nunca ouviram falar da África do Sul. Então contei a história do Nelson Mandela, do Apartheid, de como o Mandela começou querendo fazer uma revolução violenta e como entendeu que seria muito melhor mudar as coisas de uma maneira pacífica. Acho que havia apenas uma aluna branca. Todos eram negros ou mestiços. Todos lindíssimos. Então contei como o Nelson Mandela conseguiu autorização para fazer uma horta na prisão, pois foi preso e ficou preso por muitos anos. E como a horta foi mudando o comportamento dos guardas terríveis com os presos. Como a horta, lindíssima, conseguiu abrandar seus corações. Depois falei da importância do perdão. Se negros e brancos não tivessem se perdoado mutuamente, haveria, depois do apartheid , um banho de sangue. Falamos do Dia da Consciência Negra e de como o Mandela é uma das figuras mais importantes que já existiram. Fui entremeando tudo com brincadeiras poéticas com a leitura dos poemas. Perguntei se alguém sabia um ditado popular, quem respondesse primeiro ganhava um livro. Um menino disse: Quem vê cara não vê coração e ganhou um livro e eu li este poema. Perguntei se alguém já sentiu dor no coração com alguma coisa, se já sentiu o coração disparar com alguma coisa e finalmente se alguém já havia conseguido abrir algum coração fechado. Muitos disseram que sim, mas não quiseram me contar. Era segredo. Fizemos uma Orquestra Noturna com vozes de sapos e corujas e percussão no corpo, com meu poema do livro Caixinha de Música. Fizemos uma cena teatral com meu poema Receita de se Olhar no Espelho, do livro Receitas de Olhar, e no final todos gritaram seus nomes bem alto. Então eu ia respondendo as perguntas deles e intercalando brincadeiras com poemas . Falamos de bullying e eles são tão amigos e tão amorosos que não há hostilidade entre eles. Mas um menino lindo me disse que o amigo o chamou de macaco. Então falamos sobre estes xingamentos racistas e eu disse que achava que eram uma bobagem pois a verdadeira ofensa seria chamar um macaco de homem, pois os macacos são muito melhores do que a gente. Também chamam a mulher de cachorra e não há nada mais magnifico do que uma cachorra, as fêmeas são amorosas ao extremo, mães maravilhosas, as melhores amigas. Sempre preferi ter cachorras do que cachorros. Também chamam algumas mulheres de galinha, mas não deveria ser uma ofensa, pois as galinhas são lindas, roubamos seus ovos para comer e elas nem fazem uma revolução! e falei um pouco das coisas que dizemos por hábito. Perguntei se eles estavam com muita fome e vontade de ir embora e eles disseram que não, nunca, de jeito nenhum, então ainda ficaram e fechamos com o jogral do Caldeirão da Bruxa, do meu livro Poemas e Comidinhas. Perguntei se eles queriam a sopa da bruxa ou biscoitos e distribuímos biscoitos, fizemos fotos e minhas amigas baianas Regina Celi Pires e Verbena participaram de tudo. Antes , quando ainda eram distribuídos os biscoitos, o Motorista, que participou de tudo, sentado na Roda, pediu para falar. Disse que se chamava Silvio Santos mas o seu baú não continha nada material, era um baú cheio de amor! Pedi abraços , nos abraçamos muito, todos e foi a manhã mais maravilhosa do mundo e lá foram eles com as Professoras Bruna Macedo e Rogéria Marins rumo ao piquenique na praia com toalha e tudo!!!
Com os adolescentes
Para fechar o mês de setembro recebi a última escola dentro do Projeto Café, Pão e Texto. A E.E.Oliveira Viana de Bacaxá, Saquarema. Eram alunos do último ano do Ensino Médio, tinham entre 17 e 19 anos. A Professora Adelaide, amorosa ao extremo, é amada e respeitada. Foi um encontro emocionante. Falamos sobre todos os temas possíveis. Eles contaram o que queriam, os sonhos, desejos, aptidões. Eu contei bastante da minha vida. Tudo entrelaçado com meus poemas. Perguntei se tinham abertura para conversar e pensar na sala de aula e me disseram que sim, com a Professora Adelaide, a quem chamam pelo nome. São carinhosos uns com os outros, uma delícia! O pior da escola , eles contaram, é que alguns professores simplesmente não vão, não aparecem. E quem quer passar no Enem, tem que dar um jeito por fora da escola. Todos disseram que querem trabalhar no que amam, mesmo que isso não dê muito dinheiro. Um depoimento lindo foi o de um jovem que quer ser bombeiro, ele quer dar esta felicidade aos pais , ele disse que quer que os pais, tão pobres, tenham orgulho dele.Muitos escrevem, adoram escrever e é uma turma leitora. Vitor, um menino que quer ser jornalista, disse que um leitor é aquele que é modificado pelo texto. Uma menina linda (não lembro do nome) que quer fazer psicologia, disse que quando lê mergulha tão intensamente no texto que os personagens passam a fazer parte da sua vida para sempre. Ela escreve crônicas do cotidiano. Eram jovens atentos e antenados com o mundo. Perguntei o que mais desejam os jovens e muitos disseram: liberdade. Um outro disse que um jovem quer experimentar coisas novas, um jovem quer viver e experimentar tudo. Quando a conversa terminou e enquanto tomávamos o café da manhã alguns quiseram manusear meus livros. A professora Adelaide me segredou que muitos já se diziam inspirados para escrever a partir do encontro. No portão fui abraçada e beijada por todos, cada um, meninas e meninos e me agradeceram a manhã tão boa. E eu agradeço mais ainda .
Crianças e flores
Preparei todo o maravilhoso café da manhã, um pão que fiz hoje mesmo, recheado com muzzarella, bolo de cenoura com cobertura de chocolate, pão doce e sonhos (que comprei na Padaria da Ponte) café com leite, sucos, manteiga e pasta de queijo com alho e páprica (para os adultos). Hoje era dia de visita, dia de felicidade crocante: as crianças do Educandário do Bem que vieram conduzidas pelas mãos da Fátima Alves e das Professoras Vanda e Jana. Entre todos éramos mais do que 30 pessoas. Assim vai se consolidadando meu Projeto Café, Pão e Texto. Quando o ônibus amarelo encostou no portão e as crianças desceram, junto com elas desceu uma nuvem de alegria . Foram correndo para o jardim, cenário perfeito cheio de orquídeas floridas. Godofredo, o Jabuti passeando para lá e para cá. Fizemos muitas brincadeiras com Jorge Vale , professor de teatro e de contação de histórias me ajudando. Fizemos gincanas , concursos engraçados e o tema eram os poemas, os prêmios eram livros, meus e alguns que Bia Hetzel e Silvia Negreiros me deixaram. Foi maravilhoso. Depois o lanche , depois o mar azul azul azul, depois a despedida, o ônibus e sempre um gosto de quero mais.
Um dia Inesquecível
Esperávamos 32 crianças, mas chegaram 18 entre crianças e adolescentes e um motorista acidentado, pois o painel acima dele caiu na estrada sobre a sua cabeça e foram todos parar num Posto de Saúde. Mas chegaram sãos e salvos num ônibus amarelo pelas mãos da Aurora. Eram lindos e afetuosos, já foram me abraçando e beijando. Fomos para o jardim e estendemos uma colcha grande de retalhos que junto com as flores enchiam o coração da gente de arco-íris. Bia Hetzel e Silvia Negreiros chegaram um pouquinho antes com o Senhor Arnaldo, meu taxista, amigo de longa data. Desde às 5.30h da manhã Vanda preparava o almoço. Acendeu o fogão, feijão preto cozinhando e enchendo a casa com seu perfume.Samuel , nosso jardineiro, ajudou a levar as crianças para o jardim. Juan, meu marido, participava de tudo maravilhado. Apresentei alguns livros, brincamos muito de poesia, e os professores e Robson com seu violão , ele veio convidado pela escola, ajudavam a fazer a festa.O Caldeirão da bruxa foi lido por uma aluna que já havia feito isso na escola vestida de bruxa, mas Silvia emprestou seu xale. Fizemos juntos algumas bruxarias. Fizemos uma orquestra noturna com meu livro Caixinha de Música. As crianças viraram macaquinhos na floresta com meu poema “Cada Macaco No Seu Galho” que a Bia leu do meu livro “Quem vê cara não vê coração”. Depois o momento da Bia e Silvia distribuírem os belíssimos livros da Manati. Cada um escolheu um livro e depois quiseram trocar todos. Foi um troca-troca. A varanda parecia um restaurante todo colorido com mesinhas azuis e mesinhas brancas e toalhas floridas. A comida maravilhosa da Vanda foi servida no fogão de lenha. Era lindo ver todo mundo sentado ocupando a varanda inteira. Todos queriam morar aqui, na casa amarela , pois haviam lido o e-book que está no site “A bruxa da Casa Amarela”. As mães mandaram sobremesas variadas. E finalmente o momento de ir até o mar. Que festa!!! Cataram conchas e muitos quiseram levar até areia! E depois os autógrafos! Quiseram autógrafos de todo mundo, até do Samuel e da Vanda! Na despedida dentro do ônibus abraços e muitos beijos. A E.M Professora Leopoldina de Barros , de Nova Iguaçú me presenteou com uma colcha maravilhosa que as crianças fizeram e desenharam, um livro com um pouco da história de Nova Iguaçu e uma geleia de cajá, a fruta colhida de uma árvore da própria escola. Acho que todos levaram para casa Saquarema e a Casa Amarela no coração.
Feijoada e poesia
Cheguei de Teresópólis dia 8 no final da tarde. Vanda, minha caseira e parceira, já havia deixado a feijoada em pleno andamento. Logo chegaram minhas amigas, Carolina, editora da Rovelle e Monica. Carolina trouxe 40 livros para distribuir entre as crianças que no dia seguinte participariam do Pojeto Café, Pão e Texto. Quando o ônibus (que se chamava Divino) encostou na calçada, na porta da minha casa, todos gritando de felicidade, eu estava a postos, de braços abertos para recebê-los. Eles falavam, ” olha a casa amarela” e quando viram o Juan, também na porta, gritavam “ele estava no livro!” É que leram o e-book A Bruxinha da Casa Amarela e estavam entrando dentro do livro. Perguntavam, “esse é o jardim que a bruxa cuida?” Fomos todos para o jardim e fizeram a roda mais linda e colorida , sentados na grama. A ONG Care do Brasil, que trabalha com leitura em Duque de Caxias, trouxe agentes de leitura e deu o ônibus. Li para eles alguns poemas do meu novo original que sairá pela ed. Rovelle no ano que vem. Eles apresentaram poemas declamados lindamente, uma bela agente de leitura leu o livro Nana, mostrando suas ilustrações e Juan trouxe a Nana para ser apresentada. Ela entrou em pânico e fugiu para debaixo da cama do quarto .Os jabutis decididamente amam as Rodas de Leitura no jardim, pois não saiam de dentro da roda e as meninas gritavam e gritavam. Carolina , da ed. Rovelle deu uma aula sobre edição de livros, foi maravilhoso. E distribuiu os belíssimos 40 livros que trouxe. Falamos sobre como a leitura abre para eles o mundo e a possibilidade de encontrarem seus caminhos. Depois passamos para o almoço. Todas as crianças sentadas. As professoras serviam a comida diretamente do fogão de lenha. E nós e as professoras e o motorista e a Vanda e Juan e Chico que veio assistir, e o marido de uma professora sentamos em cadeiras com o prato no colo, pois não havia lugar nas mesas para todos , éramos mais de 50 pessoas!!! Depois da sobremesa tivemos o terceiro momento: As crianças foram até a beira do mar. Alguns não conheciam o mar. Como no conto do Galeano, uma das crianças disse: ” é muito grande!” Monica, minha amiga fotógrafa fotografava tudo o que podia. A alegria deles era tamanha que até o a luz brilhava mais. Voltaram sujos de areia, transbordando de felicidade. Depois de lavar os pés, hora dos autógrafos em livros alheios, tive que autografar, e hora de mais fotos e da despedida . Tocou o telefone quando entrei em casa depois da partida do ônibus. Era meu filho e eu não conseguia falar de tanta emoção.
Herdei o dom de ler da minha avó
Às 9h em ponto um ônibus amarelo encostou aqui na porta e uma revoada de pré-adolescentes e adolescentes desceram com o Prof. Robledo Gomes, professor de teatro. Alguns já vieram vestidos para a pequena peça que apresentariam. A nossa varanda estava linda, cheia de tapetes e almofadas espalhadas pelo chão. A mesa do café já preparada: quatro bolos feitos pela Vanda e dois pães imensos feitos por mim hoje bem cedinho. Sucos, café com leite e manteiga. Começamos conversando sobre a força da poesia e como pode ser terapêutica. Depois falei de alguns depoimentos de cura através da poesia , algumas pessoas me contam. Então falamos sobre drogas e como o corpo sozinho fabrica drogas maravilhosas sem que a gente precise recorrer a nada: endorfina, oxitocina. falamos dos abraços e como também curam.. Distribuí meus poemas do livro Poço dos Desejos , cada um ficou com uma cópia. O livro ainda está em produção.Escolhi cinco pessoas e o poema foi lido em voz alta. Depois de cada poema lido falávamos sobre o poema e nossos desejos. Foi maravilhoso! A Carolina Braga Malacco da Editora Rovelle, mandou bem cedinho um motorista trazer 30 livros da sua editora e distribuidora para presentear as crianças. Foi uma loucura a felicidade dos meninos-as ganhando um livro belíssimo cada um. A peça, bem pequena, era super original. Chapeuzinho Branco. Uma versão diferente do Chapeuzinho Vermelho. Foi brilhante e engraçado. Aulas de teatro na escola fazem toda a diferença! Antes do café da manhã , espontaneamente o Márcio, que veio de terno e gravata para a peça, disse: -Vamos nos dar um abraço de vinte segundos!E todos abraçavam todos! O s bolos e pães eram tão fantásticos, os pães quentinhos com manteiga, que ninguém conseguia parar de comer. Ai se as aulas nas escolas fossem sempre uma festa. Como sairiam da escola todos felizes e cheios de novos aprendizados. Este projeto me enche toda de dourado por dentro e pó de pirlimpimpim : hoje não caminho, levito.
Primeiro encontro
Ontem, às 8.30h um ônibus escolar parou na minha porta e desceram 25 meninas de camiseta rosa. Maestro Moisés era quem puxava o fio da alegria. Foram direto para o jardim, junto com as coordenadoras das escolas, o músico e João, o namorado do Moisés.Fizeram um arco em volta da goiabeira, onde havia sombra e o músico sentou-se com seu violão na trave da roda de carro de boi que temos no jardim(junto com as rodas, claro, é o seu eixo). O Maestro compôs uma canção lindíssima para a Casa Amarela. Foi absolutamente emocionante. Com todo o calor eu tinha a pele arrepiada de tanta beleza. Depois as meninas sentaram na grama em cima de colchas e os adultos em bancos e cadeiras. Os cinco jabutis se apaixonaram pelas meninas ou gostaram de ouvir o conto, ficavam andando no meio delas para lá e para cá, principalmente o Godofredo. Falei um pouco sobre o tempo da ditadura. João contou uma história dessa época, para mim inédita. Ele morava no Sul, numa pequena cidade, com seus pais italianos. Sua mãe não falava português, mas os filhos sim. Só que estava proibido falar na rua qualquer língua estrangeira. Então para ir ao mercado, ela levava um filho e falava no seu ouvido em italiano o que queria e assim podiam comprar. Lembrando que numa cidade pequena não deveria haver supermercado, mas sim uma venda. Li o conto “Lia”, do meu livro Pequenos Contos de Leves Assombros. Quando acabei elas reconstituíram a história e depois entramos mais profundamente no conto. Foi muito bom. Também preparei uma surpresa para o Maestro. Vanda , minha caseira, fez um imenso bolo de laranja com chocolate e cantamos os parabéns, pois ele havia feito anos poucos dias antes. Fiz pães bem cedinho de manhã, um recheado e outro integral, ´manteiga na mesa, café com leite e suco. Foi uma festa. . Às 11hs o ônibus chegou e se foram todos como uma revoada de pássaros coloridos. Deixaram na casa um rastro luminoso que não se apagará.