Clube de Leitura da Casa Amarela

whatsapp-image-2021-01-17-at-07-22-13

Em 2010, a partir da leitura de um livro, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, resolvi tentar fazer um Clube de Leitura na minha casa, com toda esta beleza de Saquarema como cenário.
As pessoas chegaram para este primeiro encontro e ao longo destes 10 anos tanta gente foi chegando e saindo e chegando.
Nosso Clube de Leitura da Casa Amarela está numa dissertação de Mestrado sobre modos de leitura, de Maximiano Martins de Meireles , da Bahia.
Algumas vezes recebemos leitores que vieram de longe, Bahia, Brasília, Minas, S.Paulo.
Temos pessoas de profissões muito diversas em nosso Clube e vários professores. Isso é muito bom. Muitas vozes.
Antes da pandemia, terminávamos o encontro com um almoço maravilhoso na varanda, com a música do mar. Pão, vinho e abraços
Na pandemia optei por fazer nossos encontros por zap.
É impressionante a força da voz sem imagem.
Cada um grava seu depoimento e comentamos digitando.
Como estamos no modo virtual, algumas pessoas de outros lugares puderam entrar. Temos até uma leitora de Tel Aviv.
O livro discutido foi Torto Arado, de Itamar Vieira Junior.
O impacto do livro sobre nosso grupo foi imenso.
Todos sabemos que a Abolição foi de uma crueldade única, como foi a escravidão.
Milhões de escravizados foram jogados na rua, sem comida, moradia, escola, saúde.
Itamar nos leva para um tempo, algumas gerações depois, onde os descendentes dos escravizados continuavam nas fazendas, trabalhando sem salário, sem nem um dia de descanso, em troca de casebres precários, de barro, pois era proibido construir com alvenaria.
Era preciso plantar para comer, fora das horas de trabalho e mesmo assim, a metade da colheita era roubada pelo gerente da fazenda.
É nesse cenário que o romance acontece, entre a dor e os amores, os encantados, a brutalidade do cotidiano.
As mulheres são a força da terra. São arquétipos.
Não vou contar o livro. Pois deve ser lido obrigatoriamente.
Como disseram no Clube, fomos arados por este Torto Arado, pela beleza de cada personagem, pela consciência que vai emergindo.
É um livro tão impactante que deve ser lido duas vezes.
Donana, Bibiana, Belonísia, Salu, Zeca Chapéu Grande, Severo, o Jarê, um punhal.
Lemos o livro com o coração, com todos os sentidos.
É um romance sensorial.
Jamais esqueceremos.