Clube de Leitura da Casa Amarela

Nosso encontro do Clube de Leitura da Casa Amarela teve uma altíssima voltagem emocional.

Fazemos sem imagem. O processo é simples: abro o encontro e vou chamando as pessoas. Cada pessoa já gravou seu depoimento previamente.

whatsapp-image-2020-10-26-at-20-50-43Entre uma gravação e outra há um intervalo para os comentários digitados.

A voz de cada um ressoa nítida e a emoção de cada fala se espraia por nosso corpo como ondas de rádio, notícias do que um livro é capaz de fazer em nossas entranhas. Como a Rádio Relógio chegava até Macabéa.

Lemos A Hora da Estrela, da Clarice Lispector.

Macabéa, essa estrela quebrada, síntese dos invisíveis, dos ninguéns, de quem não tem palavras, de quem da vida só recebe migalhas, como pombos anônimos numa praça, nos invadiu com sua quase existência. Os depoimentos, enquanto se avolumavam, traziam leituras riquíssimas e diferentes, tesouros.

Clarice nos fala numa entrevista, enquanto escrevia o livro, que foi na Feira de S.Cristóvão que a personagem entrou dentro dela. E nos diz que ao sair da Feira pensou: “e se um carro me atropelasse?”

A Hora da Estrela é de uma força que quase nos aniquila. Além de ser a metáfora de milhões de brasileiros, há uma Macabéa dentro da gente, quando, inseguros, buscamos tateando o amor e a felicidade.

Mas o milagre em Clarice é a maravilha da sua escrita. Cada frase é um susto, um assombro, um poema.